12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

em conta essa posição adotada para a formação do convencimento do julgador; c) ao dar sua versão acerca dos fatos<br />

que lhe foram imputados, antes da instrução, po<strong>de</strong> auxiliar o magistrado a fazer as perguntas certas às testemunhas,<br />

pois já possui as teses tanto da acusação como da <strong>de</strong>fesa. Desvantagens: a) o réu, sem ouvir o que as testemunhas<br />

têm a dizer sobre os fatos, é levado a contrariar a acusação. Por isso, às vezes, exemplificando, admite a autoria,<br />

alegando qualquer exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ilicitu<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> culpabilida<strong>de</strong>, quando, na realida<strong>de</strong>, nenhuma prova contun<strong>de</strong>nte<br />

quanto à sua participação no <strong>de</strong>lito se formará <strong>de</strong>pois. Em suma, admite a prática do crime sem necessida<strong>de</strong>; b) a<br />

melhor <strong>de</strong>fesa é sempre a última palavra, pois já se tem um quadro global do que foi produzido pela acusação. A Lei<br />

9.099/95 adotara procedimento diverso, prevendo a oitiva do réu, em interrogatório, ao final da colheita da prova<br />

(art. 81, caput). Nenhum sistema é perfeito, contando, como já <strong>de</strong>monstramos, com vantagens e <strong>de</strong>svantagens.<br />

Deve-se, pois, seguir o rito estabelecido em lei. A alteração trazida pelas Leis 11.689/2008 e 11.719/2008 passou<br />

o interrogatório para o último ato da instrução no procedimento comum (ordinário, sumário e sumaríssimo) e no<br />

procedimento do júri. A consequência <strong>de</strong>ssa modificação tem sido sentida por vários magistrados, na prática:<br />

elevou-se o número <strong>de</strong> confissões. A razão é simples. O réu acompanha toda a audiência <strong>de</strong> instrução, ouvindo<br />

todos os <strong>de</strong>poimentos. Quando estes são francamente <strong>de</strong>sfavoráveis, o que lhe resta fazer no interrogatório senão<br />

admitir ter sido ele o autor da infração penal? Cuida-se, afinal, <strong>de</strong> reação natural e lógica do ser humano buscar não<br />

ser tolo, negando o óbvio. Anteriormente, sendo ouvido, separadamente, em primeiro lugar, po<strong>de</strong>ria falar qualquer<br />

coisa e não haveria confronto algum. Na jurisprudência, para ilustrar, antes da reforma: STF: “A Turma in<strong>de</strong>feriu<br />

habeas corpus em que con<strong>de</strong>nado pela prática do crime <strong>de</strong> falsida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica (CP, art. 299) alegava ofensa aos<br />

princípios do contraditório e da ampla <strong>de</strong>fesa ao fundamento <strong>de</strong> que fora ouvido como réu antes da oitiva das<br />

testemunhas. Enten<strong>de</strong>u-se inexistir violação aos aludidos princípios, porquanto o fato <strong>de</strong> o interrogatório do<br />

acusado prece<strong>de</strong>r a inquirição das testemunhas <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> expressa previsão legal. A<strong>de</strong>mais, asseverou-se que o<br />

interrogatório é o primeiro ato processual em que o réu se manifesta, po<strong>de</strong>ndo, inclusive, permanecer calado ou<br />

contestar a imputação que lhe é feita” (HC 88506 – DF, 1.ª T., rel. Ricardo Lewandowski, 20.06.2006, Informativo<br />

432).<br />

5. Condução coercitiva para interrogatório: é admissível, especialmente porque, como já frisamos, o<br />

réu não tem direito ao silêncio, como regra, no tocante à sua qualificação. Por isso, o juiz po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar que o<br />

acusado seja levado à sua presença para ser qualificado e expressar, diretamente, o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> permanecer<br />

calado, se for o caso. Entretanto, se o acusado for conhecido e <strong>de</strong>vidamente qualificado, po<strong>de</strong> optar por não<br />

comparecer, fazendo valer seu direito ao silêncio, sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer medida coercitiva para obrigá-lo a<br />

ir a juízo.<br />

6. Cautela para a revogação da liberda<strong>de</strong> provisória: não configura motivo <strong>de</strong>terminante para a<br />

revogação da liberda<strong>de</strong> provisória concedida ao réu a sua ausência ao interrogatório para o qual estava <strong>de</strong>vidamente<br />

cientificado. O direito ao silêncio acarreta o direito <strong>de</strong> não comparecer, salvo se o magistrado <strong>de</strong>seje ouvi-lo<br />

acerca da sua qualificação. Ainda assim, a condução coercitiva é o meio próprio para fazê-lo comparecer, sendo<br />

<strong>de</strong>snecessária a imposição <strong>de</strong> sua prisão.<br />

7. Crítica à sua obrigatorieda<strong>de</strong>: cremos ser viável que o interrogatório <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser ato processual<br />

obrigatório, isto é, durante a instrução, em audiência, convocar-se o réu para ficar diante do juiz, mesmo sabendo<br />

que ele tem direito ao silêncio e po<strong>de</strong> não querer dizer nada. Por que gerar, então, a posição constrangedora <strong>de</strong><br />

ficar face a face com o magistrado, invocando a pretensão <strong>de</strong> se manter calado? Consequência disso é que alguns<br />

juízes continuam extraindo conclusões negativas para a <strong>de</strong>fesa do réu. O i<strong>de</strong>al seria o interrogatório como ato<br />

facultativo, a realizar-se a critério da <strong>de</strong>fesa, quando o réu estivesse <strong>de</strong>vidamente i<strong>de</strong>ntificado e não necessitasse<br />

ser qualificado diante do juiz. No mesmo prisma, conferir a posição <strong>de</strong> João Cláudio Couceiro (A garantia<br />

constitucional do direito ao silêncio, p. 363). Nessa hipótese, abrindo mão do direito ao silêncio, po<strong>de</strong>ria

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!