12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

do atual <strong>Código</strong> Civil, no contexto do processo penal. Relembremos que o curador só tem prestado <strong>de</strong>sserviços ao<br />

acusado menor <strong>de</strong> 21 anos, pois, lamentavelmente, há farta jurisprudência aceitando o seu <strong>de</strong>poimento em juízo<br />

para confirmar a confissão extrajudicial do réu, validando, pois, uma con<strong>de</strong>nação (vi<strong>de</strong> crítica feita na nota 48 ao<br />

art. 207). Portanto, não se <strong>de</strong>ve mais consi<strong>de</strong>rar menor a pessoa que tenha menos <strong>de</strong> 21 anos, necessitando, pois,<br />

<strong>de</strong> curador. Embora o art. 564, III, c, preceitue constituir nulida<strong>de</strong> a não nomeação <strong>de</strong> curador ao réu menor <strong>de</strong> 21<br />

anos, está, naturalmente, referindo-se ao incapaz para <strong>de</strong>senvolver todos os atos da vida civil, enfim, àquele que<br />

sempre fora, pelo direito brasileiro, consi<strong>de</strong>rado relativamente incapaz. Interpretando-se <strong>de</strong> maneira lógica e<br />

sistemática o preceito, é preciso consi<strong>de</strong>rar que a modificação trazida pelo <strong>Código</strong> Civil <strong>de</strong>ve produzir efeitos<br />

imediatos na legislação processual penal, que pa<strong>de</strong>ce <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> renovação há anos. Po<strong>de</strong>r-se-ia argumentar que o<br />

<strong>Código</strong> <strong>Penal</strong> continua a prever atenuante ao menor <strong>de</strong> 21 anos que cometa crime, bem como a calcular a<br />

prescrição pela meta<strong>de</strong> a quem possua menos <strong>de</strong> 21 anos na data do fato criminoso. Entretanto, cuida-se, nessa<br />

situação, <strong>de</strong> outro enfoque. São benefícios a quem, segundo a lei penal, não atingiu, ainda, plena maturida<strong>de</strong>, motivo<br />

pelo qual, embora possa compreen<strong>de</strong>r o caráter ilícito do que fez, merece uma reprimenda mais leve. Não se po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que, no futuro, tais normas possam ser, também, revistas, pois os tempos são outros e o maior<br />

<strong>de</strong> 18 anos po<strong>de</strong> ser, para todos os efeitos, equiparado a qualquer outro réu, já que o amadurecimento lhe chega<br />

muito mais cedo, tanto em virtu<strong>de</strong> da quantida<strong>de</strong>, quanto da qualida<strong>de</strong> das informações que lhe são passadas<br />

regularmente. Mas, por se tratar <strong>de</strong> benefícios penais expressos, não se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-los revogados pela<br />

interpretação lógico-sistemática. Continuarão a merecer a atenuante e a prescrição pela meta<strong>de</strong> os menores <strong>de</strong> 21<br />

anos. No contexto processual penal, no entanto, é diferente, pois a presença do curador, ao lado do réu, já vinha<br />

sofrendo constantes mutações, trazidas pela própria jurisprudência, que não somente pacificou o entendimento <strong>de</strong><br />

que a figura do curador po<strong>de</strong> ser substituída, sem qualquer ranhura, pela do <strong>de</strong>fensor – aliás, muito mais lógico que<br />

se garanta advogado ao acusado, seja <strong>de</strong> que ida<strong>de</strong> for, do que o contato com um leigo qualquer, simplesmente<br />

porque ele tem mais <strong>de</strong> 21 anos –, como também passou a consi<strong>de</strong>rar nulida<strong>de</strong> relativa a falta <strong>de</strong> curador ao réu<br />

menor <strong>de</strong> 21 anos, o que somente merece aplauso (vi<strong>de</strong> nota 19 ao art. 564). Enfim, torna-se incompreensível que<br />

alguém, habilitado a todos os atos da vida civil (casar-se, comprar e ven<strong>de</strong>r quaisquer bens, exercer ativida<strong>de</strong><br />

pública, entre outros importantes atos), porque atingiu a maiorida<strong>de</strong> aos 18 anos, não possa ser ouvido pela<br />

autorida<strong>de</strong> policial ou judicial sem a presença <strong>de</strong> alguém ao seu lado que possua mais <strong>de</strong> 21 anos. Diz Carlos<br />

Fre<strong>de</strong>rico Coelho Nogueira: “Entrando em vigor o novo <strong>Código</strong> Civil, tornar-se-á superado o art. 15 do CPP, pois<br />

os maiores <strong>de</strong> 18 anos serão consi<strong>de</strong>rados plenamente capazes para os atos da vida jurídica (art. 5.º, caput).<br />

Deixará, portanto, <strong>de</strong> existir a figura do ‘indiciado menor’, dado que os menores <strong>de</strong> 18 anos não po<strong>de</strong>m ser<br />

indiciados em inquérito policial, por força <strong>de</strong> sua inimputabilida<strong>de</strong> penal” (Comentários ao <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong><br />

<strong>Penal</strong>, p. 381). A questão, entretanto, certamente provocará polêmica nos juízos e tribunais. Por isso, manteremos<br />

as notas relativas a quem po<strong>de</strong> e a quem não <strong>de</strong>ve ser nomeado curador. Com a edição da Lei 10.792/2003, que<br />

revogou o art. 194 (“Se o acusado for menor, proce<strong>de</strong>r-se-á ao interrogatório na presença <strong>de</strong> curador”), torna-se<br />

mais nítida a dispensa da figura do curador do processo penal, quando envolver o menor <strong>de</strong> 21 anos. Embora<br />

mantido o disposto no art. 15, já sinaliza o legislador ser intolerável a existência <strong>de</strong> curador para quem é civilmente<br />

capaz para todos os atos. Na mesma ótica, Marta Saad (O direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa no inquérito policial, p. 310).<br />

82. Quem po<strong>de</strong> ser curador: para quem <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a sua mantença, <strong>de</strong>ve ser pessoa maior <strong>de</strong> 21 anos, no<br />

pleno gozo <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> civil, alfabetizado, leigo ou advogado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não seja pessoa subordinada<br />

administrativamente ao juiz, ao promotor ou à autorida<strong>de</strong> policial. Não po<strong>de</strong>m sê-lo, naturalmente, promotores,<br />

autorida<strong>de</strong>s policiais e seus agentes.<br />

83. Nomeação <strong>de</strong> policial para curador do menor: cremos ser impossível compatibilizar a função <strong>de</strong><br />

protetor dos interesses do menor com a <strong>de</strong> policial, exercendo suas ativida<strong>de</strong>s exatamente na <strong>de</strong>legacia on<strong>de</strong> o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!