12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

escrita e fundamentada (art. 5.º, LXI). O <strong>de</strong>legado, quando necessitar, <strong>de</strong>ve pleitear ao magistrado que <strong>de</strong>termine a<br />

condução coercitiva do indiciado/suspeito ou <strong>de</strong> qualquer outra pessoa à sua presença. Lembremos que nem<br />

mesmo a edição da Lei 11.419/2006 (informatização do processo judicial) alterou tal situação, vale dizer, é<br />

imprescindível a intimação pessoal, no processo criminal, ao menos <strong>de</strong> réus e testemunhas, visto po<strong>de</strong>r gerar, caso<br />

não atendida, a condução coercitiva.<br />

6. Proteção contra a autoincriminação: seguindo-se, estritamente, o disposto neste artigo, observa-se<br />

que a postura do <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong> é voltada a obrigar o réu a produzir, <strong>de</strong> algum modo, prova contra si<br />

mesmo. Em razão da consagração do direito ao silêncio (art. 5.º, LXIII, CF), não se po<strong>de</strong> mais seguir tal prisma.<br />

Por outro lado, obrigar o réu a participar <strong>de</strong> sessões <strong>de</strong> reconhecimento, bem como <strong>de</strong> outros atos que po<strong>de</strong>m leválo<br />

a produzir prova contra si, seria produto da mesma tendência. Enfim, é preciso alterar a interpretação <strong>de</strong>ste<br />

artigo. Continua vigendo, certamente, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o juiz <strong>de</strong>terminar a condução coercitiva do réu para<br />

comparecer ao interrogatório, mas somente assim fará, caso necessite, por alguma razão, i<strong>de</strong>ntificá-lo e qualificálo.<br />

Quanto ao interrogatório <strong>de</strong> qualificação, não tem o réu o direito ao silêncio. Mas, inexistindo qualquer dúvida<br />

quanto à sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, torna-se um constrangimento ilegal e abusivo <strong>de</strong>terminar a sua condução compulsória. Na<br />

mesma linha, conferir a posição <strong>de</strong> Roberto Delmanto Junior: “Tampouco existe embasamento legal, a nosso ver,<br />

para a sua condução coercitiva com fins <strong>de</strong> interrogatório, prevista no art. 260 do CPP, já que <strong>de</strong> nada adianta o<br />

acusado ser apresentado sob vara e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> todo esse <strong>de</strong>sgaste, silenciar. Se ele não aten<strong>de</strong> ao chamamento<br />

judicial, é porque <strong>de</strong>seja, ao menos no início do processo, calar. A<strong>de</strong>mais, a condução coercitiva ‘para<br />

interrogatório’, daquele que <strong>de</strong>seja silenciar, consistiria inadmissível coação, ainda que indireta” (Inativida<strong>de</strong> no<br />

processo penal brasileiro, p. 192-193). No tocante ao reconhecimento <strong>de</strong> pessoa, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>terminar o<br />

comparecimento do réu para que o juiz obtenha <strong>de</strong>le, pessoalmente, a recusa em participar do meio <strong>de</strong> prova<br />

<strong>de</strong>scrito no art. 226. É que, nesta hipótese, forma-se indício negativo à sua <strong>de</strong>fesa. Não está obrigado a se colocar<br />

lado a lado com terceiros para ser i<strong>de</strong>ntificado, mas o juiz po<strong>de</strong> levar tal recusa em consi<strong>de</strong>ração para a formação<br />

do seu convencimento. Qual a diferença entre essa situação e o direito ao silêncio, que não gera tal indício <strong>de</strong><br />

culpa? Este último direito-garantia foi consagrado na Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988, expressamente, sem qualquer<br />

tipo <strong>de</strong> condição: “o preso será informado <strong>de</strong> seus direitos, entre os quais o <strong>de</strong> permanecer calado, sendo-lhe<br />

assegurada a assistência da família e <strong>de</strong> advogado” (art. 5.º, LXIII, CF – grifamos). Não se inseriu no texto<br />

constitucional qualquer ressalva, como, por exemplo, “o <strong>de</strong> permanecer calado, na forma da lei”. Diante disso, é<br />

garantia individual sem restrições. Quanto às <strong>de</strong>mais provas, para as quais for convocado a auxiliar na produção,<br />

certamente não é obrigado a colaborar, pois ninguém é obrigado a se autoincriminar, o que <strong>de</strong>corre da garantia<br />

constitucional da ampla <strong>de</strong>fesa. Entretanto, nada impe<strong>de</strong> que o juiz leve em consi<strong>de</strong>ração a recusa, consi<strong>de</strong>rando-a<br />

um indício. Não será prova <strong>de</strong>finitiva a negativa do réu em participar do reconhecimento. Tal gesto não po<strong>de</strong>rá ser<br />

prova direta <strong>de</strong> culpa, embora sirva para formar elemento <strong>de</strong> auxílio ao convencimento do magistrado. Seria o<br />

mesmo no caso do silêncio, não fosse, como já dissemos, a expressa garantia constitucional, que não po<strong>de</strong> ser<br />

contrariada. Enfim, excetuando o direito <strong>de</strong> permanecer calado, que é absoluto, pensamos que o direito <strong>de</strong> não se<br />

autoincriminar, implícito que está na Constituição, <strong>de</strong>ve ser igualmente respeitado, mas não <strong>de</strong> maneira absoluta,<br />

impedindo-se o juiz <strong>de</strong> levar em conta a omissão do réu em colaborar na formação da prova, no momento <strong>de</strong><br />

sentenciar. Note-se que a negativa do acusado, por exemplo, em participar do reconhecimento, não sendo prova<br />

<strong>de</strong>finitiva, mantém o <strong>de</strong>ver do Estado-acusação <strong>de</strong> provar o alegado na <strong>de</strong>núncia, que é o respeito ao direito do réu a<br />

não produzir prova contra si, embora termine por fortalecer outras provas indiciárias apresentadas pelo órgão<br />

acusatório.<br />

7. Mandado <strong>de</strong> condução coercitiva: é fundamental, para que a or<strong>de</strong>m legal seja reconhecida e respeitada<br />

pelo acusado. Mesmo em caso <strong>de</strong> recusa ao comparecimento em juízo, não será o réu processado por crime <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!