12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Militares, quando incorporados às Forças Armadas; II – nos crimes funcionais contra a administração militar ou<br />

contra a administração da Justiça Militar, os auditores, os membros do Ministério Público, os advogados <strong>de</strong> ofício<br />

e os funcionários da Justiça Militar. § 1.º O foro militar se esten<strong>de</strong>rá aos militares da reserva, aos reformados e<br />

aos civis, nos crimes contra a segurança nacional ou contra as instituições militares, como tais <strong>de</strong>finidos em<br />

lei. § 2.º Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do<br />

inquérito policial militar à justiça comum” (grifamos). Mais uma vez, observa-se que o júri, atualmente, auferiu<br />

competência, que não possuía antes da edição da Lei 9.299/96, para julgar <strong>de</strong>litos dolosos contra a vida <strong>de</strong> civis<br />

cometidos por militares. Note-se, pois, que civis po<strong>de</strong>m respon<strong>de</strong>r perante a Justiça Militar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se trate <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>lito contra a segurança nacional e contra as instituições militares, cuja alçada é da Justiça Militar Fe<strong>de</strong>ral. Assim,<br />

não há caso <strong>de</strong> civil respon<strong>de</strong>ndo perante a Justiça Militar Estadual, especificamente pelo fato <strong>de</strong> ter a Constituição<br />

Fe<strong>de</strong>ral estreitado a sua esfera <strong>de</strong> atuação. Diz o art. 125, § 4.º, que “compete à Justiça Militar estadual processar e<br />

julgar os militares dos Estados nos crimes militares <strong>de</strong>finidos em lei...”. Caso civis cometam algum crime<br />

vinculado por conexão ou continência ao <strong>de</strong>lito militar, respon<strong>de</strong>rão, quando for o caso, perante a Justiça Comum<br />

(art. 79, I, CPP; art. 102, CPPM). Nessa linha, veja-se o magistério <strong>de</strong> Jorge Alberto Romeiro: “Não são os civis<br />

processados e julgados pela Justiça Militar estadual pelos crimes militares que praticam contra as corporações da<br />

polícia militar e do corpo <strong>de</strong> bombeiros dos Estados. Nesses casos, são os civis processados e julgados na Justiça<br />

comum estadual pelos crimes correspon<strong>de</strong>ntes aos do CPM, que a rigor teriam praticado contra as ditas<br />

corporações militares estaduais” (Curso <strong>de</strong> direito penal militar, p. 83).<br />

12. Perpetuação da jurisdição em caso <strong>de</strong> jurisdição mais graduada: enten<strong>de</strong>mos inexistente em<br />

nosso atual quadro <strong>de</strong> organização judiciária que se dê tal hipótese. Preferimos seguir, nessa linha, o magistério <strong>de</strong><br />

Demercian e Maluly, para os quais “a prorrogação <strong>de</strong> competência não tem aplicabilida<strong>de</strong> no Brasil, quando for<br />

fixada em razão da matéria. De fato, não existe em nossas Leis <strong>de</strong> Organização Judiciária <strong>de</strong>terminação da<br />

competência em razão da matéria entre juízes <strong>de</strong> diferentes graus <strong>de</strong> jurisdição, ou seja, não há qualquer lei que<br />

diga, por exemplo, incumbir originariamente ao Tribunal <strong>de</strong> Justiça do Estado o julgamento <strong>de</strong> crimes contra a fé<br />

pública, patrimônio, administração etc. A competência originária dos juízes <strong>de</strong> maior graduação dá-se, sempre, em<br />

razão da pessoa, ou por prerrogativa <strong>de</strong> função” (Curso <strong>de</strong> processo penal, p. 191-192). Tourinho Filho nos dá<br />

um bom exemplo <strong>de</strong> como havia, no Brasil, essa possibilida<strong>de</strong>: “Esta regra era muito adotada nos Estados que<br />

possuíam Juízes hierarquicamente inferiores aos Juízes <strong>de</strong> Direito, como na Bahia. Lá, nas Comarcas com<br />

Municípios <strong>de</strong> certa projeção, o Estado mantinha um Juiz <strong>de</strong> alçada, <strong>de</strong>nominado Pretor, e que processava e julgava<br />

crimes <strong>de</strong> pouca monta e contravenções que ocorressem no território do seu Município. Faltava-lhe competência<br />

para processar crimes apenados com reclusão. Assim, se num <strong>de</strong>sses Municípios em que houvesse Pretor, Mévio<br />

houvesse cometido um crime <strong>de</strong> lesão corporal grave, o inquérito seria remetido para a se<strong>de</strong> da Comarca e<br />

tramitaria ali, perante o Juiz <strong>de</strong> Direito” (<strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong> comentado, v. 1, p. 188-189). Embora essa<br />

ilustração seja válida, pois apresenta a dicotomia entre juiz e pretor (diversos graus <strong>de</strong> jurisdição), mais adiante o<br />

mesmo autor fornece um exemplo com o qual não po<strong>de</strong>mos concordar. Menciona que o juiz do foro central da<br />

Capital <strong>de</strong> São Paulo, que <strong>de</strong>tém competência para apurar crimes punidos com reclusão, ocorridos em toda a<br />

cida<strong>de</strong>, bem como crimes apenados com <strong>de</strong>tenção, na área central, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> jurisdição mais<br />

graduada do que o magistrado em exercício no foro regional, que somente po<strong>de</strong> conhecer e julgar crimes<br />

apenados com <strong>de</strong>tenção ocorridos na sua área. Portanto, extrai como conclusão que um juiz do foro central,<br />

possuindo jurisdição mais graduada, porque po<strong>de</strong> julgar <strong>de</strong>litos apenados com reclusão, o que o magistrado do<br />

foro regional não po<strong>de</strong>, embora ambos sejam <strong>de</strong> entrância especial, uma vez notando que a infração penal que vai<br />

julgar é apenada com <strong>de</strong>tenção e seria da competência territorial do juiz do foro regional, po<strong>de</strong> ter prorrogada a sua<br />

competência, tornando-se apto para julgá-la (ob. cit., p. 189-190). O magistrado do foro regional, por sua vez,<br />

notando que vai julgar um <strong>de</strong>lito apenado com reclusão, mesmo que seja <strong>de</strong> sua área, <strong>de</strong>ve enviar o processo ao juiz

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!