12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

público ou dativo e ao representante do Ministério Público, a intimação por meio eletrônico, provi<strong>de</strong>nciada pelo<br />

juízo <strong>de</strong>precado. Assim, esta última modalida<strong>de</strong> (meio eletrônico) <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada, para fins <strong>de</strong> precatória,<br />

mera complementação. A propósito, veja-se o conteúdo da Súmula 155 do Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral: “É relativa a<br />

nulida<strong>de</strong> do processo criminal por falta <strong>de</strong> intimação da expedição <strong>de</strong> precatória para inquirição <strong>de</strong> testemunha”.<br />

Portanto, se até mesmo a intimação da expedição constitui nulida<strong>de</strong> somente reconhecível após a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />

efetivo prejuízo, o que dizer da intimação da data <strong>de</strong>signada para a realização do ato? Cremos ser, <strong>de</strong> fato,<br />

prescindível. Assim tem sido a orientação do STF: HC 79.446 – SP, 2.ª T., rel. Mauricio Corrêa, 21.09.1999, v.u.,<br />

DJ 26.11.1999, p. 85. Editou-se, ainda, a Súmula 273 do Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça: “Intimada a <strong>de</strong>fesa da<br />

expedição da carta precatória, torna-se <strong>de</strong>snecessária intimação da data da audiência no juízo <strong>de</strong>precado”.<br />

Cumprindo o disposto nessa Súmula, conferir: STJ: “A<strong>de</strong>mais, é imperioso <strong>de</strong>stacar que, ao interpretar o artigo 222<br />

do <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>, este Sodalício pacificou o entendimento <strong>de</strong> que é <strong>de</strong>snecessária a intimação do<br />

acusado e do seu <strong>de</strong>fensor acerca da data da audiência realizada no juízo <strong>de</strong>precado, sendo suficiente que sejam<br />

cientificados acerca da expedição da carta precatória” (RHC 47.430 – SP, 5.ª T., rel. Jorge Mussi, DJ 05.06.2014);<br />

“Intimada a <strong>de</strong>fesa da expedição da carta precatória, torna-se <strong>de</strong>snecessária intimação da data da audiência no juízo<br />

<strong>de</strong>precado” (RHC 17.542 – RJ, 6.ª T., rel. Hamilton Carvalhido, 14.06.2005, v.u., DJ 05.09.2005, p. 490). Quando<br />

a realização da oitiva da testemunha se <strong>de</strong>r por vi<strong>de</strong>oconferência, consultar a nota 107-A em relação à intimação das<br />

partes.<br />

107. Presença do réu no juízo <strong>de</strong>precado para a inquirição das testemunhas: é dispensável,<br />

conforme o caso. Há duas posições a esse respeito: a) a jurisprudência, majoritariamente, vem reconhecendo que a<br />

presença do réu, no juízo <strong>de</strong>precado, é dispensável, po<strong>de</strong>ndo ser colhido o <strong>de</strong>poimento somente com a participação<br />

da acusação e da <strong>de</strong>fesa técnica. Ver: TACRIM-SP, atualmente incorporado ao TJSP, Ap. 1.145.291/2, São José dos<br />

Campos, 9.ª C., rel. Moacir Peres, 01.12.1999, v.u.; b) gran<strong>de</strong> parte da doutrina insurge-se contra esse<br />

procedimento, argumentando que a ampla <strong>de</strong>fesa e o contraditório ficam arranhados, inexistindo razão para haver<br />

dois métodos: garantir a presença do réu no juízo natural da causa e torná-la irrelevante no juízo <strong>de</strong>precado. Afirma<br />

Antonio Magalhães Gomes Filho que tal situação <strong>de</strong> dispensa configura “inequívoca e grave violação do<br />

contraditório, pois a <strong>de</strong>fesa ampla, assegurada pela Constituição, exige não somente que os atos instrutórios sejam<br />

praticados na presença e com a participação do <strong>de</strong>fensor técnico, mas também que seja assegurado ao acusado o<br />

direito <strong>de</strong> participar pessoalmente dos mesmos; aliás, é ele, acusado, quem presumivelmente teve contacto direto<br />

com os fatos e possui melhores condições para fornecer ao advogado as informações necessárias para a <strong>de</strong>finição<br />

da linha <strong>de</strong> perguntas e reperguntas à testemunha; se está custodiado, não po<strong>de</strong> ter esse direito cerceado e a<br />

irregularida<strong>de</strong>, no caso, diz respeito à infringência <strong>de</strong> normas constitucionais (garantias da ampla <strong>de</strong>fesa e do<br />

contraditório) e da disposição da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8, 2, letra f), que assegura o<br />

direito <strong>de</strong> inquirir as testemunhas, <strong>de</strong>vendo dar lugar ao reconhecimento <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> absoluta” (Direito à prova no<br />

processo penal, p. 154-155). Em idêntico prisma, Antonio Scarance Fernan<strong>de</strong>s (<strong>Processo</strong> penal constitucional, p.<br />

71). Preferimos, nesse caso, sustentar posição intermediária. Nem sempre a presença do réu no juízo <strong>de</strong>precado é<br />

indispensável. Devemos observar que o processo penal não po<strong>de</strong> ficar alheio à realida<strong>de</strong> do país continental como o<br />

Brasil. Além disso, temos seriíssimas <strong>de</strong>ficiências em nosso sistema judiciário. Atualmente, para haver a simples<br />

transferência <strong>de</strong> um réu, preso, por exemplo, na Região Norte para a Região Sul, <strong>de</strong>mora-se período<br />

impressionante, atingindo vários meses, quiçá anos. Logo, são muitos os casos <strong>de</strong> instruções paralisadas e <strong>de</strong><br />

acusados <strong>de</strong>tidos provisoriamente sem julgamento, por longos períodos, porque não se realiza a sua transferência<br />

para o distrito da culpa. Nada disso, por certo, justifica massacrar o direito à audiência, nem tampouco o direito à<br />

ampla <strong>de</strong>fesa e ao contraditório, embora tenhamos que buscar soluções razoáveis para aten<strong>de</strong>r à nossa realida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> sustentar o inatingível. Por isso, quando o réu está respon<strong>de</strong>ndo a um processo em <strong>de</strong>terminada<br />

localida<strong>de</strong>, é <strong>de</strong> todo conveniente que se provi<strong>de</strong>ncie a sua transferência para essa Comarca, a fim <strong>de</strong> que possa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!