12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tempo e <strong>de</strong> esforços etc.” (Nulida<strong>de</strong>s do processo, p. 37). Por outro lado, o princípio da economia processual é<br />

previsto, expressamente, na Lei 9.099/95 (art. 62), lembrando-se, no entanto, que ele sempre foi, igualmente, uma<br />

meta utilizada no processo penal comum. Não po<strong>de</strong> implicar, no entanto, em nenhuma hipótese, na restrição ao<br />

direito da parte <strong>de</strong> produzir prova e buscar a verda<strong>de</strong> real. Exemplos <strong>de</strong> utilização da economia processual: a)<br />

possibilita-se o uso da precatória itinerante (art. 355, § 1.º, CPP), isto é, quando o juízo <strong>de</strong>precado constata que o<br />

réu se encontra em outra Comarca, em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>volver a precatória ao juízo <strong>de</strong>precante, envia ao juízo competente<br />

para cumpri-la, diretamente; b) quando houver nulida<strong>de</strong>, por incompetência do juízo, somente os atos <strong>de</strong>cisórios<br />

serão refeitos, mantendo-se os instrutórios (art. 567, CPP); c) o cabimento da suspensão do processo, quando<br />

houver questão prejudicial, somente <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>ferido em caso <strong>de</strong> difícil solução, a fim <strong>de</strong> não procrastinar<br />

inutilmente o término da instrução (art. 93, CPP). Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> avançadas posições doutrinárias e<br />

jurispru<strong>de</strong>nciais, emerge outro princípio constitucional, embora implícito, <strong>de</strong>ntre as garantias fundamentais: o<br />

princípio da duração razoável da prisão cautelar. Observa-se, como fruto natural dos princípios constitucionais<br />

explícitos da presunção <strong>de</strong> inocência, da economia processual e da estrita legalida<strong>de</strong> da prisão cautelar, ser época<br />

<strong>de</strong> se consagrar, com status constitucional, a meta <strong>de</strong> que ninguém po<strong>de</strong>rá ficar preso, provisoriamente, por prazo<br />

mais extenso do que for absolutamente imprescindível para o escorreito <strong>de</strong>sfecho do processo. Essa tem sido a<br />

tendência dos tribunais pátrios, em especial do Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral. De fato, não se torna crível que,<br />

buscando-se respeitar o estado <strong>de</strong> inocência, conjugado com o direito ao processo célere, associando-se a todas as<br />

especificações para se realizar, legitimamente, uma prisão cautelar, possa o indiciado ou réu permanecer semanas,<br />

meses, quiçá anos, em regime <strong>de</strong> restrição <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, sem culpa formada. O <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>, <strong>de</strong><br />

1941, já não apresenta solução concreta para o binômio, hoje realida<strong>de</strong> intrínseca do sistema judiciário brasileiro,<br />

prisão cautelar necessária x lentidão do trâmite processual. Não é possível, igualmente, quedar inerte a doutrina;<br />

muito menos, nada fazer a jurisprudência. Por isso, extraindo-se uma interpretação lógico-sistemática <strong>de</strong> preceitos<br />

existentes na Constituição Fe<strong>de</strong>ral, é medida transitável afirmar a indispensabilida<strong>de</strong> da duração razoável não<br />

somente do processo-crime, mas, sobretudo, da prisão cautelar. É realida<strong>de</strong> não se po<strong>de</strong>r fixar em dias o número<br />

exato <strong>de</strong> duração <strong>de</strong> uma prisão preventiva, por exemplo. Porém, ingressa, nesse cenário, o critério da<br />

razoabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vendo o magistrado avaliar, no caso concreto, o que ultrapassa a medida do bom senso. Somente<br />

para ilustrar, quem estiver sujeito a uma pena variável <strong>de</strong> 4 a 10 anos (roubo, art. 157, CP), não possuindo outras<br />

con<strong>de</strong>nações, não po<strong>de</strong>ria ficar <strong>de</strong>tido, sem culpa formada, por mais <strong>de</strong> um ano. Fere a razoabilida<strong>de</strong>, uma vez que,<br />

ainda argumentando, se con<strong>de</strong>nado, em primeiro grau, a seis anos <strong>de</strong> reclusão, já po<strong>de</strong>ria conseguir, pela via da<br />

execução provisória da pena, outra realida<strong>de</strong> na jurisprudência brasileira, a progressão para o regime semiaberto.<br />

Ora, inviável, então, manter alguém no cárcere por mais <strong>de</strong> ano, sem que se consiga concluir a instrução do<br />

processo em primeira instância. A prática forense nos evi<strong>de</strong>ncia a ocorrência <strong>de</strong> prisões preventivas que chegam a<br />

atingir vários anos, o que não nos soa sensato, ainda que se possa agir em nome da segurança pública. Cabe ao<br />

Judiciário adiantar o andamento do feito, sem permitir a ruptura <strong>de</strong> direitos fundamentais (como a ampla <strong>de</strong>fesa),<br />

mas proporcionando a duração razoável da prisão cautelar. Conferir: STF: foi concedida a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> habeas corpus,<br />

em favor <strong>de</strong> C.A.S.C., preso preventivamente há dois anos, cinco meses e 19 dias (até a data do julgamento), em<br />

Goiás, sem culpa formada. Houve expressa menção à razoabilida<strong>de</strong> do prazo da prisão cautelar, que, no caso<br />

apresentado, configurava excesso (HC 90.805 – GO, 2.ª T., rel. Celso <strong>de</strong> Mello, 18.12.2007, v.u.); “O Supremo<br />

Tribunal Fe<strong>de</strong>ral enten<strong>de</strong> que a aferição <strong>de</strong> eventual excesso <strong>de</strong> prazo é <strong>de</strong> se dar em cada caso concreto, atento o<br />

julgador às peculiarida<strong>de</strong>s do processo em que estiver oficiando. 2. No caso, a prisão preventiva do paciente foi<br />

<strong>de</strong>cretada há mais <strong>de</strong> oito anos, sendo que nem sequer foram ouvidas as testemunhas arroladas pela <strong>de</strong>fesa. Embora<br />

a <strong>de</strong>fesa haja insistido na oitiva <strong>de</strong> testemunhas que resi<strong>de</strong>m em comarca diversa do juízo da causa, nada justifica a<br />

falta <strong>de</strong> realização do ato por mais <strong>de</strong> cinco anos, a evi<strong>de</strong>nciar que a <strong>de</strong>mora na conclusão da instrução criminal não<br />

<strong>de</strong>corre <strong>de</strong> ‘manobras protelatórias <strong>de</strong>fensivas’. 3. A gravida<strong>de</strong> da imputação não é obstáculo ao direito subjetivo à

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!