12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

e João Batista Lopes, o ônus é a “subordinação <strong>de</strong> um interesse próprio a outro interesse próprio”, enquanto a<br />

obrigação significa a “subordinação <strong>de</strong> um interesse próprio a outro, alheio” (Da prova penal, p. 33). Ônus da<br />

prova, em outro enfoque, é uma “posição jurídica na qual o or<strong>de</strong>namento jurídico estabelece <strong>de</strong>terminada conduta<br />

para que o sujeito possa obter um resultado favorável. Em outros termos, para que o sujeito onerado obtenha o<br />

resultado favorável, <strong>de</strong>verá praticar o ato previsto no or<strong>de</strong>namento jurídico, sendo que a não realização da conduta<br />

implica a exclusão <strong>de</strong> tal benefício, sem contudo, configurar um ato ilícito” (Gustavo Badaró, Ônus da prova no<br />

processo penal, p. 173). Como regra, no processo penal, o ônus da prova é da acusação, que apresenta a imputação<br />

em juízo através da <strong>de</strong>núncia ou da queixa-crime. Entretanto, o réu po<strong>de</strong> chamar a si o interesse <strong>de</strong> produzir prova, o<br />

que ocorre quando alega, em seu benefício, algum fato que propiciará a exclusão da ilicitu<strong>de</strong> ou da culpabilida<strong>de</strong>.<br />

Imagine-se que afirme ter matado a vítima, em situação <strong>de</strong> inexigibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conduta diversa. O órgão acusatório<br />

não po<strong>de</strong> adivinhar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem essa “conduta inexigível”, motivo pelo qual cabe ao réu <strong>de</strong>monstrar. Conferir: STJ:<br />

“Para que fique caracterizada a causa supralegal <strong>de</strong> exclusão da culpabilida<strong>de</strong> relativa à inexigibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conduta<br />

diversa, é necessário que a <strong>de</strong>fesa comprove, por força do disposto no art. 156 do <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>, que a<br />

omissão no recolhimento das contribuições <strong>de</strong>vidas ao INSS <strong>de</strong>correu <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s financeiras da empresa, o<br />

que, no caso, não ocorreu. Para acolher a alegação <strong>de</strong> que a empresa da qual o agravante era sócio estava<br />

absolutamente impossibilitada <strong>de</strong> efetuar o recolhimento das contribuições <strong>de</strong>vidas ao INSS, seria necessário o<br />

revolvimento <strong>de</strong> matéria fático-probatória, procedimento que, conforme é cediço, é vedado em recurso especial,<br />

nos termos da Súmula n. 7 <strong>de</strong>ste Superior Tribunal. Agravo regimental não provido.” (AgRg no AREsp 299662 –<br />

PB, 6.ª T., rel. Rogerio Schietti Cruz, 03.09.2015, v.u.). Saliente-se, no entanto, que esse ônus <strong>de</strong> prova da <strong>de</strong>fesa<br />

não <strong>de</strong>ve ser levado a extremos, em virtu<strong>de</strong> do princípio constitucional da presunção <strong>de</strong> inocência e,<br />

consequentemente, do in dubio pro reo. Com isso, alegada alguma exclu<strong>de</strong>nte, feita prova razoável pela <strong>de</strong>fesa e<br />

existindo dúvida, <strong>de</strong>ve o réu ser absolvido e não con<strong>de</strong>nado. Assim, embora a acusação tenha comprovado o fato<br />

principal – materialida<strong>de</strong> e autoria –, a dúvida gerada pelas provas produzidas pelo acusado, a respeito da existência<br />

da justificativa, <strong>de</strong>ve beneficiar a <strong>de</strong>fesa. Na jurisprudência: TJSP: “Crime sexual. Estupro <strong>de</strong> vulnerável. Acusação<br />

<strong>de</strong> prática <strong>de</strong> conjunção carnal com a própria filha, menor <strong>de</strong> 14 anos. Quadro probatório frágil. Ausência <strong>de</strong> prova<br />

segura nos autos. Mera suspeita que não autoriza a con<strong>de</strong>nação. Ônus da acusação em comprovar, <strong>de</strong> forma certa e<br />

segura, o fato concreto imputado ao réu. Dúvida autorizadora da absolvição. Recurso provido” (Ap. 0015763-<br />

98.2011.8.26.0602 – SP, 16.ª C., rel. Newton Neves, j. 21.10.2014, v.u.).<br />

22-A. Inversão in<strong>de</strong>vida do ônus da prova: em direito processual penal, consi<strong>de</strong>ra-se, como regra,<br />

inadmissível. Cabe, sempre, ao órgão acusatório provar os fatos alegados na <strong>de</strong>núncia ou queixa. Não importa que o<br />

agente seja surpreendido dirigindo veículo fruto <strong>de</strong> roubo ou furto. É preciso <strong>de</strong>monstrar ser o motorista o furtador<br />

ou roubador, também não se po<strong>de</strong>ndo presumir, <strong>de</strong> imediato, tratar-se <strong>de</strong> receptação. Tudo comporta prova para a<br />

acusação, jamais se invertendo tal ônus. Do contrário, cai por terra o princípio constitucional da presunção <strong>de</strong><br />

inocência. Conferir a jurisprudência, embora em sentido oposto: TJRS: “1. Con<strong>de</strong>nação pelo crime <strong>de</strong> receptação<br />

confirmada porque o réu foi abordado por policiais, conduzindo automóvel com registro <strong>de</strong> furto, tendo ciência da<br />

origem ilícita do bem, tanto que o veículo estava funcionando através <strong>de</strong> ‘ligação direta’, ele não portava os<br />

documentos do veículo e ainda tentou fugir para evitar a abordagem policial. A<strong>de</strong>mais, o ônus da prova, na espécie,<br />

tem aplicação inversa, ou seja, uma vez encontrado o bem subtraído na posse do acusado, a ele incumbia comprovar<br />

a regularida<strong>de</strong> da posse que exercia sobre o veículo, encargo do qual não se <strong>de</strong>sincumbiu” (Apelação Crime<br />

70063789184 – RS, 5.ª Câmara Criminal, rel. Cristina Pereira Gonzales, 13.05.2015, v.u.). TJSP: “A apreensão da<br />

res em po<strong>de</strong>r do agente, em situação comprometedora, constitui indício robusto da autoria do crime e inverte o<br />

ônus probatório, transferindo ao acusado a obrigação <strong>de</strong> apresentar explicação satisfatória sobre a origem dos bens,<br />

sob pena <strong>de</strong>, não o fazendo, arrostar as consequências do crime patrimonial” (3003395-44.2013.8.26.0114 –<br />

Campinas, 1.ª Câmara Criminal Extraordinária, Relator(a): Airton Vieira, 30.04.2015, m.v.). TJSC: “Pedido <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!