12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

18-A. Ausência do réu durante a instrução: como regra, é um direito do réu participar das audiências e<br />

acompanhar a produção da prova. Não se trata <strong>de</strong> uma obrigação ou <strong>de</strong>ver, até mesmo pelo fato <strong>de</strong> ter ele o direito<br />

ao silêncio, logo, <strong>de</strong> se manter calado e distante da colheita probatória (ao menos pessoalmente). Entretanto, <strong>de</strong>ve<br />

o acusado ser intimado para as audiências (no mínimo para a primeira). Caso, entretanto, <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser intimado, mas<br />

seu <strong>de</strong>fensor compareça normalmente, cuida-se <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> relativa, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> alegação e <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />

prejuízo, passível <strong>de</strong> preclusão caso nada se fale até as alegações finais. Checar: TJSP: “Nulida<strong>de</strong> – Inocorrência –<br />

Julgamento e con<strong>de</strong>nação do réu à sua revelia – Audiências e <strong>de</strong>mais atos processuais, contudo, realizados na<br />

presença <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>fensor – Ausências do acusado, <strong>de</strong>vidamente citado, com a concordância do advogado – Prejuízo<br />

não <strong>de</strong>monstrado – Hipótese, inclusive, <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> relativa, reconhecível apenas se arguida no momento oportuno<br />

– Trânsito em julgado da pronúncia e da sentença con<strong>de</strong>natória sem manifestação da <strong>de</strong>fesa a respeito – Preclusão”<br />

(HC 428.422-3/8, São Paulo, 2.ª C., rel. Silva Pinto, 11.08.2003, v.u., JUBI 88/03).<br />

18-B. Nulida<strong>de</strong> em caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas antagônicas produzidas por advogado único <strong>de</strong> corréus:<br />

não é viável que dois ou mais acusados possuam o mesmo <strong>de</strong>fensor, se as linhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> cada um forem<br />

antagônicas, pois o prejuízo à ampla <strong>de</strong>fesa torna-se evi<strong>de</strong>nte. Deve o juiz zelar por isso, impedindo que a escolha<br />

se mantenha e dando prazo para que os réus constituam <strong>de</strong>fensores diversos. Não o fazendo, a <strong>de</strong>ficiência provoca a<br />

nulida<strong>de</strong> do feito. Nesse prisma: TACRIM-SP, incorporado ao TJSP: “Réus que apresentam versões antagônicas<br />

para os fatos apontados como <strong>de</strong>lituosos. Defesa ameaçada. Nulida<strong>de</strong> do feito. Nenhuma responsabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser<br />

atribuída aos acusados em casos como o presente, ‘uma vez que, ignorantes quanto ao Direito, não lhes era dado<br />

perceber que a incompatibilida<strong>de</strong> das situações não permitiria ao mesmo causídico representá-los<br />

simultaneamente, pois as <strong>de</strong>fesas, no fundo, eram antagônicas. Desconhecendo a <strong>de</strong>fesa que melhor convém aos<br />

seus interesses, no momento em que constitui advogado, o réu coloca sua sorte inteiramente nas mãos <strong>de</strong>ste, o<br />

qual, concomitantemente, assume a responsabilida<strong>de</strong> da orientação do caso, cumprindo-lhe recusar o patrocínio <strong>de</strong><br />

interesses que possam entrar em conflito, <strong>de</strong>clinando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, as eventuais incompatibilida<strong>de</strong>s’<br />

(Jurisprudência <strong>Penal</strong> e Processual <strong>Penal</strong>, Azevedo Franceschini, v. III, n. 3.536, p. 372, 1980). Se assim não age<br />

o <strong>de</strong>fensor constituído, cabe ao magistrado, como principal interessado na regularida<strong>de</strong> do processo e da justiça <strong>de</strong><br />

suas <strong>de</strong>cisões, <strong>de</strong>cretar a nulida<strong>de</strong> do feito” (Ap. 1301793-7, 10.ª C., rel. Vico Mañas, 08.05.2002, v.u.).<br />

18-C. Defesa patrocinada por falso advogado: equivale à falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa técnica, gerando, portanto,<br />

nulida<strong>de</strong> absoluta. Nesse prisma: STF: “A <strong>de</strong>fesa patrocinada por pessoa não inscrita na OAB é causa <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> do<br />

processo (Estatuto da OAB, art. 4.º: ‘São nulos os atos privativos <strong>de</strong> advogado praticados por pessoa não<br />

inscrita na OAB (...)’). Com base nesse entendimento, a Turma <strong>de</strong>u provimento a recurso ordinário em habeas<br />

corpus para anular o processo que resultara na con<strong>de</strong>nação do recorrente pelo crime <strong>de</strong> tráfico ilícito <strong>de</strong><br />

entorpecentes (Lei 6.368/76, arts. 12 e 14 [atual Lei 11.343/2006, arts. 33 e 35]), a partir do interrogatório,<br />

inclusive, e <strong>de</strong>terminar a expedição <strong>de</strong> alvará <strong>de</strong> soltura. Consi<strong>de</strong>rou-se evi<strong>de</strong>nte a falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa técnica, já que<br />

incontroverso o fato <strong>de</strong> a <strong>de</strong>fesa ter sido realizada, até a apelação, por falso advogado. Asseverou-se a<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ratificação dos atos processuais por aquele praticados (CPP, art. 568), haja vista se tratar <strong>de</strong><br />

nulida<strong>de</strong> absoluta. Salientou-se o prejuízo ao recorrente, consubstanciado na sua con<strong>de</strong>nação. Prece<strong>de</strong>ntes citados:<br />

HC 76526 – PR (DJU 15.12.2000); HC 71705 – SP (DJU 04.08.1995); HC 61889 – RJ (DJU 16.11.1984)”<br />

(RHC 83.800 – RJ, 1.ª T., rel. Cezar Peluso, 05.04.2005, Informativo 382).<br />

19. Curador ao réu menor <strong>de</strong> 21 anos: primeiramente, cumpre <strong>de</strong>stacar que, segundo enten<strong>de</strong>mos, não<br />

há mais sentido em se nomear curador ao réu menor <strong>de</strong> 21 anos, diante da edição da Lei 10.406/2002 (<strong>Código</strong><br />

Civil), que passou a consi<strong>de</strong>rar plenamente capaz, para todos os atos da vida civil, o maior <strong>de</strong> 18 anos. Logo, a<br />

proteção almejada a quem era consi<strong>de</strong>rado relativamente incapaz e imaturo <strong>de</strong>sapareceu. Ver a nota 81-A ao art. 15.<br />

A questão, no entanto, <strong>de</strong>verá provocar polêmica em juízos e tribunais, motivo pelo qual manteremos nossos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!