12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> alguém, como po<strong>de</strong> influenciar os <strong>de</strong>mais, quebrando a incomunicabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> maneira indireta.<br />

Logo, cabe às partes essa atribuição. Enten<strong>de</strong>ndo que uma testemunha mentiu, <strong>de</strong>ve o promotor, o assistente da<br />

acusação ou o <strong>de</strong>fensor requerer a inclusão do quesito. A importância <strong>de</strong> se fazer tal indagação ao Conselho <strong>de</strong><br />

Sentença constitui parte inerente à peculiarida<strong>de</strong> do Tribunal Popular. As provas <strong>de</strong>stinam-se, para o julgamento <strong>de</strong><br />

mérito, aos jurados e não a magistrado togado. Assim, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>duzir, especialmente <strong>de</strong> um órgão que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />

secretamente e sem qualquer fundamentação, ter o Conselho <strong>de</strong> Sentença consi<strong>de</strong>rado o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> “A” ou “B”<br />

mentiroso. Por vezes, justamente a pessoa que contrariou, nos autos, outras tantas, para os jurados falava a verda<strong>de</strong>.<br />

Isto quer dizer que, na visão <strong>de</strong> quem julgou, as outras testemunhas é que mentiram e não a única a contraditá-las. O<br />

juiz togado, se tomar medida <strong>de</strong> ofício contra a testemunha, cujo <strong>de</strong>poimento está isolado nos autos, provocando a<br />

extração <strong>de</strong> peças para que seja processada por falso testemunho, po<strong>de</strong>rá dar margem à injustiça, até porque<br />

falsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimento é questão extremamente subjetiva e complexa. Pensamos, pois, <strong>de</strong>va sempre existir o<br />

quesito <strong>de</strong> falso, no questionário, autorizando o processo por falso testemunho contra quem o Conselho <strong>de</strong><br />

Sentença, efetivamente, enten<strong>de</strong>r ter praticado crime, em tese. Sem essa cautela, impossível será discernir se o<br />

<strong>de</strong>poimento realmente influenciou os jurados e se estes, <strong>de</strong>stinatários da prova, julgaram-no mentiroso. Crendo ser<br />

necessário o quesito específico: Hermínio Alberto Marques Porto (Júri, 10. ed., p. 132-133, embora salientando<br />

que, <strong>de</strong> lege ferenda, <strong>de</strong>vesse a questão ficar a cargo do juiz-presi<strong>de</strong>nte).<br />

280. Desclassificação: trata a lei, nesta hipótese, da <strong>de</strong>sclassificação imprópria, que <strong>de</strong>manda quesito<br />

específico para ser reconhecida. Quando se cuidar da <strong>de</strong>sclassificação própria, basta haver a negativa ao segundo<br />

quesito, que envolve o nexo causal, em se tratando <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito doloso contra a vida. Portanto, no caso retratado pelo §<br />

4.º <strong>de</strong>ste artigo, <strong>de</strong>ve a <strong>de</strong>fesa pleitear a inserção do quesito específico. Ele po<strong>de</strong> ser introduzido após o segundo<br />

ou o terceiro, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo, naturalmente, da espécie <strong>de</strong> crime objeto da quesitação. Exemplificando: se a pretensão<br />

é a <strong>de</strong>sclassificação para homicídio culposo, <strong>de</strong>ve-se inserir o quesito sobre a <strong>de</strong>sclassificação após o terceiro. No<br />

primeiro, questiona-se a materialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma lesão corporal; no segundo, o nexo causal com o resultado morte; no<br />

terceiro, a autoria; no quarto, indaga-se sobre o elemento subjetivo, que, em lugar <strong>de</strong> dolo, é culpa. Se a infração<br />

penal não precisar ser <strong>de</strong>smembrada, vale dizer, fato primário + nexo causal com resultado mais grave, introduz-se<br />

a indagação acerca da <strong>de</strong>sclassificação após o segundo quesito, que diz respeito à autoria. Demonstramos os<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> quesitos em nosso Tribunal do Júri. Nos tribunais: TJMG: “I – Nos termos do artigo 483, § 4.º, do<br />

<strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>, logo após o quesito da autoria será primeiramente formulada proposição a respeito da<br />

tese <strong>de</strong>sclassificatória, por ser este critério <strong>de</strong> fixação da competência do Tribunal do Júri. II – E absolutamente<br />

nula a sentença que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> apreciar todas as teses <strong>de</strong>duzidas pela <strong>de</strong>fesa, por violar o princípio da fundamentação<br />

das <strong>de</strong>cisões judiciais e o princípio da ampla <strong>de</strong>fesa” (APR 10540040020013002 – MG, 5.ª C., rel. Adilson<br />

Lamounier, DJ 21.01.2014); “O § 4.º do art. 483 do CPP faculta ao Juiz Presi<strong>de</strong>nte a formulação <strong>de</strong> quesito quanto<br />

à <strong>de</strong>sclassificação após o segundo (autoria) ou terceiro (absolvição) quesito, isto conforme o caso. A tese<br />

<strong>de</strong>sclassificatória <strong>de</strong>ve prece<strong>de</strong>r o quesito absolutório, pois a <strong>de</strong>liberação pelo Corpo <strong>de</strong> Jurados a respeito da<br />

tipificação dos fatos fixa, por consecutivo, a competência para o julgamento da causa” (APR 10414120025039001<br />

– MG, 2.ª C., rel. Nelson Missias <strong>de</strong> Morais, DJ 02.10.2014). TJSP: “Júri – Réu con<strong>de</strong>nado por homicídio<br />

qualificado (dissimulação) – Preliminar <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> por ausência <strong>de</strong> quesito <strong>de</strong>fensivo afastada – Desnecessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> quesito específico para a tese da Defesa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistência voluntária – Quesito da tentativa <strong>de</strong> homicídio que já<br />

abrange esse questionamento – Falta, ainda, <strong>de</strong> protesto em momento oportuno – Preclusão” (Ap. 0007680-<br />

03.2008.8.26.0666 – SP, 1.ª C. C. E., rel. Nelson Fonseca Junior, 25.06.2015, v.u.).<br />

281. Divergência sobre a forma consumada ou tipificação: a existência <strong>de</strong> eventual crime continuado<br />

é uma autêntica divergência acerca da tipificação. Afinal, se vários resultados forem consi<strong>de</strong>rados como um único,<br />

em continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>litiva, a pena se altera e, logicamente, não mais existem vários crimes, porém um só (crime

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!