12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

novo) ou para a contrafação (imitação <strong>de</strong> algo verda<strong>de</strong>iro), bem como dos objetos falsificados ou contrafeitos é<br />

consequência natural do disposto no art. 91, II, a, do <strong>Código</strong> <strong>Penal</strong>, que prevê a perda, em favor da União,<br />

ressalvado o direito do lesado ou do terceiro <strong>de</strong> boa-fé, dos instrumentos ilícitos utilizados para a prática do <strong>de</strong>lito.<br />

19. Armas, munições e outros instrumentos: armas são os engenhos especialmente feitos para ataque<br />

ou <strong>de</strong>fesa (armas próprias), não abrangendo, naturalmente, os objetos eventualmente usados para o cometimento <strong>de</strong><br />

uma infração penal, como ocorre com um machado ou com um martelo (armas impróprias). Ocorre que esta alínea<br />

d do § 1.º do art. 240 do CPP permite que se apreenda, também, o instrumento usado para a prática do crime, ao<br />

menos para que se proceda à perícia (meio <strong>de</strong> prova), razão pela qual po<strong>de</strong>r-se-ia recolher o machado ou o martelo,<br />

com o qual o agente matou a vítima, por exemplo. Futuramente, ele po<strong>de</strong> ser restituído a quem <strong>de</strong> direito. Munição<br />

é o material <strong>de</strong>stinado a abastecer armas, como projéteis, pólvoras e outros artefatos explosivos. Logicamente,<br />

<strong>de</strong>ve ser apreendida para servir <strong>de</strong> prova (note-se que é crime manter, em <strong>de</strong>sacordo com autorização legal,<br />

artefatos explosivos, como indica o art. 12 da Lei 10.826/2003) ou como medida assecuratória (imagine-se o furto<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> projéteis <strong>de</strong> uma loja especializada em venda <strong>de</strong> munição), para futura <strong>de</strong>volução ao lesado<br />

ou ainda para confisco (art. 91, II, a, CP). Não sendo arma ou munição, como já mencionado, po<strong>de</strong> tratar-se <strong>de</strong><br />

qualquer outro instrumento usado para a prática <strong>de</strong> infrações penais (como o martelo, para a prática <strong>de</strong> homicídio).<br />

20. Objetos necessários à prova: trata-se <strong>de</strong> item genérico, somente vindo a comprovar a natureza mista<br />

da busca e da apreensão (meio <strong>de</strong> prova e assecuratório). Qualquer material que possa fornecer ao julgador uma<br />

avaliação correta do fato <strong>de</strong>lituoso, abrangendo materialida<strong>de</strong> e autoria, po<strong>de</strong> ser apreendido (como roupas com<br />

sangue ou esperma, material pornográfico, diários e anotações, com conteúdo vinculado ao fato, entre outros).<br />

Observe-se que a busca e apreensão <strong>de</strong>ve voltar-se à <strong>de</strong>scoberta da verda<strong>de</strong> real, po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong> interesse tanto da<br />

acusação, quanto da <strong>de</strong>fesa.<br />

21. Apreensão <strong>de</strong> cartas e violação do seu conteúdo: a matéria, após a edição da Constituição Fe<strong>de</strong>ral<br />

<strong>de</strong> 1988, tornou-se polêmica e confusa. Analisando-se a letra da lei, o <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong> reconhece, nesta<br />

alínea f do § 1.º do art. 240, o direito <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r cartas <strong>de</strong>stinadas ao acusado ou em seu po<strong>de</strong>r, quando houver<br />

suspeita <strong>de</strong> que seu conteúdo po<strong>de</strong> favorecer o conhecimento útil <strong>de</strong> fato criminoso. As cartas po<strong>de</strong>m já estar<br />

abertas ou não. De outra parte, analisando-se, literalmente, o art. 5.º, XII, da Constituição, tem-se que “é inviolável<br />

o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, <strong>de</strong> dados e das comunicações telefônicas, salvo, no<br />

último caso, por or<strong>de</strong>m judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins <strong>de</strong> investigação criminal<br />

ou instrução processual penal” (grifamos). Assim, parte da doutrina encaminhou-se no sentido <strong>de</strong> ter por revogado,<br />

tacitamente, o art. 240, § 1.º, f, do <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>, alegando que a Constituição tornou inviolável, sem<br />

exceções, qualquer correspondência, <strong>de</strong>stinada ou não a pessoas acusadas da prática <strong>de</strong> crimes. Aliás, a única<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> violação estaria relacionada às comunicações telefônicas, como expressamente prevê o texto<br />

constitucional. Outra parte, no entanto, sustenta que o texto constitucional não <strong>de</strong>ve ser analisado <strong>de</strong> modo<br />

irrestrito, havendo até a postura dos que sustentam a inconstitucionalida<strong>de</strong> formal, por problemas concernentes ao<br />

processo legislativo <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong>sta norma: “O certo é que a Assembleia Nacional Constituinte aprovou texto<br />

diverso do que veio afinal a ser promulgado. A redação aprovada em segundo turno, no plenário, foi a seguinte: ‘É<br />

inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações <strong>de</strong> dados, telegráficas e telefônicas, salvo por or<strong>de</strong>m<br />

judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer, para fins <strong>de</strong> investigação criminal ou instrução processual’.<br />

Foi a Comissão <strong>de</strong> Redação que, exorbitando <strong>de</strong> seus po<strong>de</strong>res, acrescentou ao texto as palavras ‘comunicações’, ‘no<br />

último caso’ e ‘penal’, limitando consi<strong>de</strong>ravelmente o alcance da norma constitucional legitimamente aprovada em<br />

plenário. (...) No meu sentir, a redação restritiva do inc. XII do art. 5.º da CF é formalmente inconstitucional, por<br />

vício <strong>de</strong> competência e afronta ao processo legislativo” (Ada Pellegrini Grinover, O regime brasileiro das<br />

interceptações telefônicas, p. 113). Além disso, é preciso pon<strong>de</strong>rar que os direitos e garantias individuais não são

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!