12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

constitucional: é a mais lógica das possibilida<strong>de</strong>s, uma vez que o Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, órgão máximo do<br />

Po<strong>de</strong>r Judiciário, tem por finalida<strong>de</strong> precípua justamente fazer valer as normas constitucionais. Não se busca o<br />

reexame <strong>de</strong> questões fáticas, pois a Corte Suprema é guardiã da Constituição Fe<strong>de</strong>ral e não um simples órgão <strong>de</strong><br />

reavaliação do acerto ou <strong>de</strong>sacerto dos diversos julgados das <strong>de</strong>mais cortes brasileiras, quando analisam as provas<br />

constantes dos autos. A questão <strong>de</strong> direito é a sua meta, sempre que ela entrar em choque com norma<br />

constitucional. Ex.: avaliar o conteúdo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>poimento e, portanto, se <strong>de</strong>terminada testemunha falou a verda<strong>de</strong>, e<br />

em que grau, compete ao juiz <strong>de</strong> primeira instância e, posteriormente, ao tribunal <strong>de</strong> segundo grau. Porém, in<strong>de</strong>ferir<br />

o <strong>de</strong>poimento da testemunha, arrolada pelo acusado, sem qualquer justificativa, mantida a <strong>de</strong>cisão pelo tribunal,<br />

po<strong>de</strong> ensejar recurso extraordinário, pois fere a garantia constitucional da ampla <strong>de</strong>fesa (ver a nota 1-B infra); b)<br />

<strong>de</strong>cisão que <strong>de</strong>clara a inconstitucionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratado ou lei fe<strong>de</strong>ral: se o tribunal, analisando uma lei fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>ixa<br />

<strong>de</strong> aplicá-la por enten<strong>de</strong>r que é inconstitucional, está, em última análise, ingressando na seara do STF, guardião da<br />

Constituição Fe<strong>de</strong>ral. Logo, cabe recurso extraordinário. Muito embora vários colegiados (Câmaras, Grupos e<br />

Turmas <strong>de</strong> Tribunais Estaduais ou Regionais) terminem consi<strong>de</strong>rando alguma lei fe<strong>de</strong>ral ou tratado inconstitucional,<br />

durante o julgamento <strong>de</strong> um caso concreto, o i<strong>de</strong>al, segundo o art. 97 da Constituição, é que “somente pelo voto da<br />

maioria absoluta <strong>de</strong> seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial po<strong>de</strong>rão os tribunais <strong>de</strong>clarar a<br />

inconstitucionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lei ou ato normativo do Po<strong>de</strong>r Público”. Para tanto, o correto é seguir o disposto nos arts.<br />

948 e seguintes do CPC. In verbis: “Art. 948. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lei ou <strong>de</strong> ato<br />

normativo do po<strong>de</strong>r público, o relator, após ouvir o Ministério Público e as partes, submeterá a questão à turma ou<br />

à câmara à qual competir o conhecimento do processo. Art. 949. Se a arguição for: I – rejeitada, prosseguirá o<br />

julgamento; II – acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão especial, on<strong>de</strong> houver.<br />

Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição<br />

<strong>de</strong> inconstitucionalida<strong>de</strong> quando já houver pronunciamento <strong>de</strong>stes ou do plenário do Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

sobre a questão”. É o teor da Súmula 513 do STF: “A <strong>de</strong>cisão que enseja a interposição <strong>de</strong> recurso ordinário ou<br />

extraordinário não é a do Plenário, que resolve o inci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> inconstitucionalida<strong>de</strong>, mas a do órgão (Câmaras,<br />

Grupos ou Turmas) que completa o julgamento do feito”; c) <strong>de</strong>cisão que julga válida lei ou ato <strong>de</strong> governo local<br />

contestado em face da Constituição: quando uma lei municipal ou estadual, por exemplo, for contestada em face da<br />

Constituição, porém mantida e aplicada pela instância inferior, po<strong>de</strong> a parte interessada ingressar com recurso<br />

extraordinário. Note-se que, além <strong>de</strong> norma local, permite-se o recurso excepcional quando a instância inferior<br />

julgar válido ato <strong>de</strong> governo (em interpretação ampla, isto é, proveniente <strong>de</strong> qualquer órgão público, estadual ou<br />

municipal) local, consi<strong>de</strong>rado, naturalmente, inconstitucional; d) julgar válida lei local contestada em face <strong>de</strong> lei<br />

fe<strong>de</strong>ral: essa era uma hipótese adstrita ao Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça, porém, ao longo dos anos, notou-se que,<br />

para validar uma lei estadual ou municipal em confronto com a lei fe<strong>de</strong>ral, terminava-se invadindo a área <strong>de</strong><br />

competência legislativa da União, que possui fundo nitidamente constitucional, abrindo-se a porta para o recurso<br />

extraordinário. Afinal, validando a lei local, consi<strong>de</strong>ra-se, por via oblíqua, inconstitucional a lei fe<strong>de</strong>ral (cf. Ada,<br />

Magalhães e Scarance, Recursos no processo penal, 4. ed., p. 279).<br />

1-B. Repercussão geral da questão constitucional: estabelece o art. 102, § 3.º, da Constituição, que,<br />

no recurso extraordinário, <strong>de</strong>verá o recorrente <strong>de</strong>monstrar a repercussão geral das questões constitucionais<br />

discutidas no caso concreto, nos termos legais, para que o Tribunal possa examinar a admissão do recurso, somente<br />

po<strong>de</strong>ndo rejeitá-lo pela manifestação <strong>de</strong> dois terços <strong>de</strong> seus membros. Cuida-se da criação <strong>de</strong> um obstáculo ao<br />

processamento do recurso extraordinário, ainda que todos os requisitos estejam preenchidos. Em outros termos,<br />

enten<strong>de</strong>u-se, após a edição da Emenda 45/2004, que o STF po<strong>de</strong>ria evitar o conhecimento <strong>de</strong> recurso<br />

extraordinário, cuja significação política para o Brasil seja irrelevante. Torna-se, pois, fundamental <strong>de</strong>monstrar à<br />

Corte – o que cabe à parte recorrente em sua petição – ter a questão constitucional <strong>de</strong>batida enorme importância,<br />

com tendência a se repetir, no futuro, em vários outros casos. No exemplo já mencionado linhas acima, se o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!