12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

pronúncia não ultrapassou a barreira do juízo <strong>de</strong> admissibilida<strong>de</strong> da acusação, não se mostrando apta a influenciar<br />

ou invadir a competência do Conselho <strong>de</strong> Sentença” (RSE 0067/2009 – SE, CC., rel. Netônio Bezerra Machado,<br />

25.01.2010, v.u.).<br />

317. Questões inci<strong>de</strong>ntes: são as questões <strong>de</strong> direito, fora da competência do Conselho <strong>de</strong> Sentença,<br />

composto por juízes do fato. Não cabe ao magistrado presi<strong>de</strong>nte ouvir os jurados para cada <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> matéria<br />

jurídica a ser resolvida, tal como a aceitação ou não <strong>de</strong> uma prova questionada como ilícita.<br />

318. Controle jurisdicional da eficiência da <strong>de</strong>fesa: impõe-se, realmente, o controle previsto no inciso<br />

V do art. 497, aliás, extensível a todos os outros procedimentos criminais, não se limitando ao Tribunal do Júri. O<br />

réu tem direito à ampla <strong>de</strong>fesa, com os recursos a ela inerentes (art. 5.º, LV, CF) em feitos criminais comuns,<br />

possuindo, particularmente, direito à plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa no Tribunal do Júri (art. 5.º, XXXVIII, a, CF). Assim, é<br />

indiscutível <strong>de</strong>ver o magistrado zelar pela eficácia da <strong>de</strong>fesa ao longo do processo e, com especial empenho, no<br />

plenário do Tribunal do Júri. Quando se trata <strong>de</strong> procedimento comum, cujo resultado será proferido por juiz<br />

togado, o controle exercido é menor, uma vez que o magistrado po<strong>de</strong> suprir as falhas da <strong>de</strong>fesa, não somente<br />

<strong>de</strong>terminando diligências indispensáveis à busca da verda<strong>de</strong> real, como também, caso entenda cabível, a <strong>de</strong>speito do<br />

pedido formulado pelo <strong>de</strong>fensor, aplicar a lei penal da maneira mais favorável ao réu. Tal situação dificilmente se dá<br />

no júri, constituído <strong>de</strong> pessoas leigas. Se o <strong>de</strong>fensor, por exemplo, pedir a con<strong>de</strong>nação do acusado, é hipótese rara<br />

que o Conselho <strong>de</strong> Sentença o absolva. Por isso, o controle jurisdicional sobre a eficiência da <strong>de</strong>fesa é<br />

fundamental. Denotando uma <strong>de</strong>fesa ineficiente, <strong>de</strong>ve o juiz <strong>de</strong>clarar o réu in<strong>de</strong>feso, dissolvendo o Conselho <strong>de</strong><br />

Sentença e marcando outro julgamento. Antes <strong>de</strong> nomear <strong>de</strong>fensor dativo ao réu, <strong>de</strong>ve conce<strong>de</strong>r-lhe a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> indicar outro advogado para patrocinar seus interesses, não po<strong>de</strong>ndo ser novamente aquele que foi<br />

<strong>de</strong>sconstituído por ato do juiz. Caso fique inerte, o magistrado nomeará <strong>de</strong>fensor ao acusado. Na jurisprudência:<br />

STJ: “O art. 5.º, XXXVIII, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, assegura a plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nos julgamentos realizados pelo<br />

Tribunal do Júri. Na mesma linha, o art. 497, V, do <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong> estatui que é atribuição do juiz<br />

presi<strong>de</strong>nte do Tribunal do Júri nomear <strong>de</strong>fensor ao acusado, quando consi<strong>de</strong>rá-lo in<strong>de</strong>feso, po<strong>de</strong>ndo, neste caso,<br />

dissolver o Conselho e <strong>de</strong>signar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição <strong>de</strong> novo <strong>de</strong>fensor.”<br />

(HC 234758 – SP, 6.ª T., rel. Sebastião Reis Júnior, 19.06.2012, v.u.).<br />

319. Ineficiência da <strong>de</strong>fesa: não há uma fórmula única, capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar e apontar todas as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> falhas na atuação da <strong>de</strong>fesa, especialmente no que concerne ao Tribunal do Júri. É curial, pois, que o magistrado<br />

fique atento, avaliando, passo a passo, as teses oferecidas e os requerimentos formulados pelo <strong>de</strong>fensor. Constituise<br />

ineficiência, como regra, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> requerer a produção <strong>de</strong> uma prova fundamental ao réu; aquiescer à tese<br />

con<strong>de</strong>natória formulada pela acusação, sem qualquer benefício para o acusado; <strong>de</strong>ixar o órgão acusatório apresentar<br />

inverda<strong>de</strong>s aos jurados, sem manifestar-se <strong>de</strong> qualquer modo; utilizar minimamente o seu tempo para construir a<br />

tese <strong>de</strong>fensiva (ex.: vale-se <strong>de</strong> alguns minutos para pedir a absolvição); sustentar aos jurados e requerer ao juiz a<br />

inclusão no questionário <strong>de</strong> teses conflitantes, sem a necessária explicação da sua sucessivida<strong>de</strong> ou alternativida<strong>de</strong>,<br />

quando for possível; <strong>de</strong>smentir o réu em plenário, contrariando frontalmente e sem justificativa a tese por ele<br />

oferecida em seu interrogatório, que constitui a auto<strong>de</strong>fesa, entre outros. Não se preten<strong>de</strong>, no entanto, sustentar<br />

que o advogado não possa pedir a con<strong>de</strong>nação do réu, nem tampouco que <strong>de</strong>va sempre falar duas horas a que tem<br />

direito e muito menos que precise concordar com o réu no tocante à tese <strong>de</strong>fensiva. O que se sustenta é <strong>de</strong>ver o<br />

bom <strong>de</strong>fensor saber contrariar o réu, sem ofendê-lo, nem indispô-lo diante dos jurados, bastando, para tanto,<br />

explicar que a auto<strong>de</strong>fesa é diversa da <strong>de</strong>fesa técnica, po<strong>de</strong>ndo ambas coexistir, respeitados os pontos <strong>de</strong> vista <strong>de</strong><br />

quem as apresenta. Portanto, o réu po<strong>de</strong> negar a autoria, visto ser seu direito oferecer a visão que possui do caso,<br />

embora o advogado, sem <strong>de</strong>smerecê-lo, possa sustentar que, não aceitando tal afirmativa do acusado, os jurados<br />

<strong>de</strong>vem consi<strong>de</strong>rar a legítima <strong>de</strong>fesa, fundada nestas ou naquelas provas dos autos. O advogado po<strong>de</strong> falar pouco, mas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!