12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

com a vítima, no processo penal. Sua sanção é ser conduzida à força ao juízo para prestar suas <strong>de</strong>clarações, embora<br />

sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser processada por <strong>de</strong>sobediência. É o que já sustentamos em nosso <strong>Código</strong> <strong>Penal</strong><br />

comentado, nota 30 ao art. 330. Em sentido contrário, admitindo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser a vítima processada por<br />

<strong>de</strong>sobediência, caso não compareça à audiência para a qual foi intimada: Scarance Fernan<strong>de</strong>s, A vítima no processo<br />

penal brasileiro, p. 148; Mirabete, <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong> interpretado, p. 279; Tourinho, Comentários ao<br />

<strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>, v. 1, p. 401. Na jurisprudência: TJRJ: “A <strong>de</strong>fesa alega que o testemunho da vítima é<br />

nulo, pois não foi orientada que não precisaria prestar <strong>de</strong>poimento, fulcro no artigo 206 do CPP. O referido<br />

dispositivo legal trata exclusivamente <strong>de</strong> testemunhas, consabido que a ofendida não se enquadra nesta <strong>de</strong>finição.<br />

Para as vítimas, o <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong> não prevê esta possibilida<strong>de</strong>; ao contrário, no § 1.º do artigo 201<br />

<strong>de</strong>termina que, no caso <strong>de</strong> não comparecimento em audiência sem justo motivo, o ofendido po<strong>de</strong>rá ser conduzido”<br />

(ACR 70058114307 – RS, 3.ª Câm. Criminal, rel. Jayme Weingartner Neto, DJ 03.04.2014).<br />

15. Vítima que se recusa a fazer o exame <strong>de</strong> corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito: po<strong>de</strong> ser processada por crime <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sobediência e, persistindo a sua recusa, ser conduzida coercitivamente para a realização <strong>de</strong> perícias externas <strong>de</strong><br />

fácil visualização, embora não possa ser obrigada a proce<strong>de</strong>r a exames invasivos, consistentes na ofensa à sua<br />

integrida<strong>de</strong> corporal ou à sua intimida<strong>de</strong> (cf. Antonio Scarance Fernan<strong>de</strong>s, A vítima no processo penal brasileiro,<br />

p. 126). Nessa hipótese, aceitamos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o ofendido ser processado por <strong>de</strong>sobediência, caso se recuse<br />

a comparecer para o exame <strong>de</strong> corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito, visto que a lei não prevê expressamente nenhuma outra sanção para<br />

tanto. Afinal, para a configuração do crime <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência, é fundamental não haver sanção paralela para a pessoa<br />

que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> acatar or<strong>de</strong>m do funcionário público.<br />

16. Intimação acerca do ingresso e saída da prisão: cientificar a vítima a respeito da prisão do réu<br />

(ingresso e saída) po<strong>de</strong> ter um significado <strong>de</strong> mera proteção, vale dizer, manter o ofendido informado da trajetória<br />

daquele que o agrediu, mas também po<strong>de</strong> representar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o incentivar a contratar um assistente <strong>de</strong><br />

acusação, em busca da realização do que consi<strong>de</strong>ra justo. A primeira hipótese <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito da espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito<br />

cometido, pois nem todos <strong>de</strong>ixam sequelas, a justificar o alerta à vítima em relação ao ingresso ou saída do acusado<br />

do cárcere (ex.: estelionato, falsificação <strong>de</strong> documento, <strong>de</strong>ntre outros). Na realida<strong>de</strong>, somente os crimes violentos<br />

po<strong>de</strong>riam justificar tal medida (ex.: estupro, tentativa <strong>de</strong> homicídio etc.). Por outro lado, ainda remanesce a posição<br />

majoritária (doutrina e jurisprudência) no sentido <strong>de</strong> que o assistente <strong>de</strong> acusação é parte ilegítima para recorrer<br />

contra a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> soltura do réu (vi<strong>de</strong> a nota 31 ao art. 581). Ora, alterando-se a visão que se tem acerca da vítima<br />

no processo penal, conferindo-lhe tantas informações e medidas protetoras, parece-nos óbvio <strong>de</strong>va haver,<br />

concomitantemente, a mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong> em relação à inativida<strong>de</strong> do ofendido nesse campo. É preciso<br />

permitir que a vítima, tomando ciência da soltura in<strong>de</strong>vida do réu, na sua visão, apresente recurso em sentido estrito<br />

ao Tribunal. Afinal, cientificar da libertação do acusado sem permitir que, processualmente, algo possa ser feito,<br />

soa-nos inócuo e quase uma instigação à realização <strong>de</strong> justiça pelas próprias mãos, conforme o caso.<br />

17. Designação <strong>de</strong> data para audiência: parece-nos que a lei esteja fazendo referência a toda e qualquer<br />

audiência relacionada ao processo <strong>de</strong> interesse do ofendido, mas não somente à audiência em que este <strong>de</strong>ve ser<br />

ouvido. Afinal, para ser inquirido, é mais que natural – e assim sempre ocorreu – seja a vítima intimada a<br />

comparecer. Portanto, a inovação trazida pela Lei 11.690/2008 somente po<strong>de</strong> relacionar-se com a ciência ao<br />

ofendido em relação a todas as audiências ligadas ao processo a que respon<strong>de</strong> o réu. A finalida<strong>de</strong> seria o melhor<br />

acompanhamento no tocante ao <strong>de</strong>senvolvimento da instrução e, consequentemente, do seu <strong>de</strong>slin<strong>de</strong>.<br />

17-A. Ciência para fins <strong>de</strong> reparação do dano: sustentamos ser necessária a participação do ofendido na<br />

ação penal, pleiteando a reparação civil do dano causado pelo crime, sob pena <strong>de</strong> ofensa a princípios fundamentais<br />

do processo penal (ver as notas 56 e 56-A ao art. 387). Para tanto, a intimação da vítima, em relação à audiência <strong>de</strong><br />

instrução e julgamento, serve para o seu comparecimento em juízo, mas igualmente para que possa contratar

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!