12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

conclua, em processo indutivo, ter sido ele o autor do furto. Finaliza, então, com a <strong>de</strong>dução: o tipo penal do art.<br />

155 prevê constituir furto a subtração <strong>de</strong> coisa alheia móvel para si; o réu foi o autor da subtração; logo, <strong>de</strong>ve ser<br />

con<strong>de</strong>nado (<strong>de</strong>dução). Ensina Miguel Reale que a indução envolve, concomitantemente, elementos obtidos<br />

<strong>de</strong>dutivamente, além <strong>de</strong> trabalhar nesse contexto a intuição, restando, pois, claro que “todo raciocínio até certo<br />

ponto implica em uma sucessão <strong>de</strong> ‘evidências’” (Filosofia do direito, p. 145). E mais: “O certo é que, na indução<br />

amplificadora, realizamos sempre uma conquista, a conquista <strong>de</strong> algo novo, que se refere a objetos reais e a<br />

relações entre objetos reais, tendo como ponto <strong>de</strong> partida a observação dos fatos. Na base da indução está,<br />

portanto, a experiência, a observação dos fatos que <strong>de</strong>ve obe<strong>de</strong>cer a <strong>de</strong>terminados requisitos, cercada <strong>de</strong> rigorosas<br />

precauções críticas, tal como o exige o conhecimento indutivo <strong>de</strong> tipo científico, inconfundível com as meras<br />

generalizações empíricas” (ob. cit., p. 145). Por isso, a utilização <strong>de</strong> indícios, no processo penal, é autorizada não<br />

só pelo artigo em comento, mas também pelo processo <strong>de</strong> raciocínio lógico, que é a indução. A respeito, ver o<br />

nosso artigo A indução generalizadora nos trabalhos jurídicos, Revista <strong>de</strong> <strong>Processo</strong>, n. 84, p. 314-323. Note-se, a<br />

respeito, para finalizar, o disposto no art. 382 do <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong> Militar: “Indício é a circunstância ou<br />

fato conhecido e provado, <strong>de</strong> que se induz a existência <strong>de</strong> outra circunstância ou fato, <strong>de</strong> que não se tem prova”<br />

(grifamos). E continua o art. 383 do mesmo <strong>Código</strong>: “Para que o indício constitua prova, é necessário: a) que a<br />

circunstância ou fato indicante tenha relação <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>, próxima ou remota, com a circunstância ou fato<br />

indicado; b) que a circunstância ou fato coincida com a prova resultante <strong>de</strong> outro ou outros indícios, ou com as<br />

provas diretas colhidas no processo” (grifo nosso). São elementos que comprovam o acerto do legislador ao<br />

colocar o raciocínio indutivo como fundamento do uso dos indícios.<br />

3. Integração entre indução e <strong>de</strong>dução: não são compartimentos estanques do raciocínio lógico. Assim,<br />

<strong>de</strong>vemos visualizar o fenômeno <strong>de</strong>scrito no art. 239 do <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>, em forma <strong>de</strong> integração entre as<br />

duas formas <strong>de</strong> conhecimento. Dizemos que alguém, encontrado, por regra <strong>de</strong> experiência, com o objeto furtado,<br />

logo após a subtração, é o autor do crime (premissa maior). Depois, diz-se que o réu foi encontrado com a res<br />

furtiva em seu po<strong>de</strong>r (premissa menor). Deduz-se, então, que ele é provavelmente o autor do <strong>de</strong>lito. Em verda<strong>de</strong>,<br />

esse processo é uma <strong>de</strong>dução, mas é insuficiente para a con<strong>de</strong>nação. Usamos, então, a indução, que significa<br />

estabelecer várias <strong>de</strong>duções como esta até chegar a uma conclusão mais ampla, isto é, que o réu é, realmente, o<br />

autor da infração penal. O termo indução, insistimos, é o cerne do processo, na utilização dos indícios, razão pela<br />

qual não se <strong>de</strong>ve substituí-lo por <strong>de</strong>dução.<br />

4. Valor probatório dos indícios: como já afirmamos em nota anterior, os indícios são perfeitos tanto para<br />

sustentar a con<strong>de</strong>nação, quanto para a absolvição. Há autorização legal para a sua utilização e não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scurar<br />

que há muito preconceito contra essa espécie <strong>de</strong> prova, embora seja absolutamente imprescindível ao juiz utilizá-la.<br />

Nem tudo se prova diretamente, pois há crimes camuflados – a gran<strong>de</strong> maioria – que exigem a captação <strong>de</strong> indícios<br />

para a busca da verda<strong>de</strong> real. Lucchini, mencionado por Espínola Filho, explica que a “eficácia do indício não é<br />

menor que a da prova direta, tal como não é inferior a certeza racional à histórica e física. O indício é somente<br />

subordinado à prova, porque não po<strong>de</strong> subsistir sem uma premissa, que é a circunstância indiciante, ou seja, uma<br />

circunstância provada; e o valor crítico do indício está em relação direta com o valor intrínseco da circunstância<br />

indiciante. Quando esteja esta bem estabelecida, po<strong>de</strong> o indício adquirir uma importância predominante e <strong>de</strong>cisiva<br />

no juízo” (Elementi di procedura penale, n. 131, apud <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong> brasileiro anotado, v. 3, p.<br />

175). Assim também Bento <strong>de</strong> Faria, apoiado em Malatesta (<strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>, v. 1, p. 347). Realmente, o<br />

indício apoia-se e sustenta-se numa outra prova. No exemplo citado na nota anterior, quando se afirma que a coisa<br />

objeto do furto foi encontrada em po<strong>de</strong>r do réu não se está provando o fato principal, que consiste na subtração,<br />

mas tem-se efetiva <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> que a circunstância ocorreu, através do auto <strong>de</strong> apreensão e <strong>de</strong> testemunhas.<br />

Em síntese, o indício é um fato provado e secundário (circunstância) que somente se torna útil para a construção do

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!