12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Art. 290. Se o réu, 43 sendo perseguido, passar ao território <strong>de</strong> outro município ou comarca, o executor po<strong>de</strong>rá<br />

efetuar-lhe a prisão no lugar on<strong>de</strong> o alcançar, 44 apresentando-o imediatamente à autorida<strong>de</strong> local, que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

lavrado, se for o caso, o auto <strong>de</strong> flagrante, 45 provi<strong>de</strong>nciará para a remoção do preso.<br />

§ 1.º Enten<strong>de</strong>r-se-á que o executor vai em perseguição do réu, quando: a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem<br />

interrupção, embora <strong>de</strong>pois o tenha perdido <strong>de</strong> vista; b) sabendo, por indícios ou informações fi<strong>de</strong>dignas, que o réu<br />

tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que o procure, for no seu encalço.<br />

§ 2.º Quando as autorida<strong>de</strong>s locais tiverem fundadas razões para duvidar da legitimida<strong>de</strong> da pessoa do executor ou<br />

da legalida<strong>de</strong> do mandado 46 que apresentar, po<strong>de</strong>rão pôr em custódia 47 o réu, até que fique esclarecida a dúvida.<br />

43. Conceito <strong>de</strong> pessoa perseguida: não é exclusivamente o réu – aquele contra quem já existe ação<br />

penal proposta –, mas também o indiciado ou suspeito. Faz-se, nesse ponto, uma interpretação extensiva.<br />

44. Possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ultrapassar a fronteira do local originário da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> prisão: autoriza o<br />

<strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>, com plena razoabilida<strong>de</strong>, que, havendo perseguição, esta não se interrompa por fatores<br />

exclusivamente formais, consistentes, por exemplo, na competência da autorida<strong>de</strong> judiciária expedidora do<br />

mandado. Assim, policiais <strong>de</strong> uma Comarca (ou Estado) po<strong>de</strong>m invadir área <strong>de</strong> outra Comarca (ou Estado) para<br />

pren<strong>de</strong>r o procurado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que haja uma situação <strong>de</strong> flagrância (perseguição do autor da infração penal) ou mesmo<br />

quando a pessoa a ser <strong>de</strong>tida for i<strong>de</strong>ntificada e, vislumbrando a aproximação da polícia, colocar-se em fuga,<br />

a<strong>de</strong>ntrando Comarca (ou Estado) vizinha. A perseguição é autorizada nas hipóteses previstas no § 1.º (perseguição<br />

sem interrupção, embora com lapsos <strong>de</strong> localização e recebimento <strong>de</strong> informações confiáveis sobre o para<strong>de</strong>iro<br />

recente do procurado). A cautela a seguir, quando alcançado e preso o procurado, é apresentá-lo à autorida<strong>de</strong> local,<br />

pois, bem ou mal, não é a área <strong>de</strong> atuação da autorida<strong>de</strong>, que efetuou a prisão. Se houver mandado <strong>de</strong> prisão, vale a<br />

apresentação à polícia do lugar. Mas, não havendo, cremos ser indispensável apresentar o <strong>de</strong>tido ao juiz, como<br />

dispõe o art. 287. Esta norma menciona o “juiz que tiver expedido o mandado”, mas não é menos certo que, em<br />

outra Comarca, o i<strong>de</strong>al seria a expedição <strong>de</strong> precatória, para que a autorida<strong>de</strong> judiciária local apusesse o “cumprase”.<br />

Portanto, cabe a exibição do <strong>de</strong>tido, quando sem mandado, ao juiz do lugar, para que este provi<strong>de</strong>ncie a<br />

certificação da origem da or<strong>de</strong>m, conseguindo <strong>de</strong> seu colega cópia do mandado e atestando a legalida<strong>de</strong> da prisão.<br />

Se for hipótese <strong>de</strong> flagrante, este é lavrado pela autorida<strong>de</strong> policial do lugar on<strong>de</strong> ocorreu a <strong>de</strong>tenção e enviado ao<br />

juiz local, para verificar a legalida<strong>de</strong> da prisão. Posteriormente, seguem os autos ao lugar on<strong>de</strong> se situa o juízo<br />

competente para a instauração do processo. Se cuidar <strong>de</strong> mandado <strong>de</strong> prisão, a autorida<strong>de</strong> policial local,<br />

constatando a regularida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>tenção, liberará o preso para a transferência à Comarca (ou Estado) <strong>de</strong> origem da<br />

or<strong>de</strong>m. Finalmente, quando houver prisão sem mandado, o juiz local, certificando-se da legalida<strong>de</strong>, mandará que o<br />

preso seja transferido ao lugar <strong>de</strong> origem da or<strong>de</strong>m.<br />

45. Lavratura do auto <strong>de</strong> prisão em flagrante no lugar da prisão: trata-se <strong>de</strong> hipótese viável, que não<br />

fere qualquer regra <strong>de</strong> competência, pois se refere a um ato administrativo e não jurisdicional. Nesse sentido: STJ:<br />

“Não há falar em ilegalida<strong>de</strong> da prisão em flagrante, <strong>de</strong>corrente do fato <strong>de</strong> o respectivo auto ter sido lavrado por<br />

autorida<strong>de</strong> diversa daquela que efetivou a custódia, porquanto a polícia não exerce ato <strong>de</strong> jurisdição, não restando<br />

caracterizada a incompetência ratione loci” (RHC 16.189 – SP, 5.ª T., j. 03.08.2004, v.u., rel. Felix Fischer, DJ<br />

06.09.2004, p. 272.<br />

46. Dúvida quanto à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do executor da prisão ou quanto à legalida<strong>de</strong> do mandado: é<br />

salutar que as autorida<strong>de</strong>s locais, <strong>de</strong>sconfiando não ser o executor policial, por exemplo, ou que o mandado<br />

apresentado é falso, certifiquem-se da legalida<strong>de</strong> da prisão, antes <strong>de</strong> liberar o preso. Afinal, seria um autêntico<br />

abuso entregar alguém <strong>de</strong>tido a pessoa que não possui autorização legal para prendê-lo.<br />

47. Custódia: trata-se da manutenção <strong>de</strong> alguém <strong>de</strong>tido, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lhe assegurar proteção. É o que<br />

ocorre na hipótese mencionada neste parágrafo, pois há dúvida quanto à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do executor da prisão ou mesmo

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!