12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

que, com a utilização <strong>de</strong> certos critérios, vê-se aplicável somente uma <strong>de</strong>las. Se a mãe mata seu filho, temos, em<br />

tese, um homicídio, que, no entanto, po<strong>de</strong> também se configurar em infanticídio, pela aplicação do critério da<br />

especialida<strong>de</strong>. Logo, valendo-se do art. 123 do <strong>Código</strong> <strong>Penal</strong> (infanticídio) está, logicamente, afastada a incidência<br />

do art. 121 (homicídio). Se a mulher for absolvida pelo infanticídio, jamais po<strong>de</strong>rá ser novamente processada pelo<br />

mesmo fato, ainda que seja por homicídio, outra figura típica. O mesmo se dá na aplicação dos critérios da<br />

subsidiarieda<strong>de</strong> e da absorção. No caso da subsidiarieda<strong>de</strong>, se houver processo pelo crime mais grave (uma<br />

tentativa <strong>de</strong> homicídio, por exemplo), absolvido ou con<strong>de</strong>nado o réu por isso, não po<strong>de</strong>rá ser novamente acusado da<br />

prática <strong>de</strong> exposição a perigo <strong>de</strong> vida (<strong>de</strong>lito subsidiário, previsto no art. 132 do CP), quando se tratar do mesmo<br />

fato. Na hipótese <strong>de</strong> absorção, se o acusado é processado por homicídio e absolvido, não po<strong>de</strong>rá ser novamente<br />

acusado da prática <strong>de</strong> porte ilegal <strong>de</strong> arma, referentemente ao idêntico fato, já que este crime foi absorvido pelo<br />

primeiro.<br />

75. Coisa julgada e crime continuado: o <strong>de</strong>lito continuado é uma ficção, voltada a beneficiar o acusado,<br />

consi<strong>de</strong>rando-se várias infrações penais da mesma espécie, que sejam praticadas em circunstâncias <strong>de</strong> tempo, lugar<br />

e modo <strong>de</strong> execução semelhantes, um único crime em continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>litiva. Com tal reconhecimento, as penas dos<br />

vários <strong>de</strong>litos serão drasticamente reduzidas, pois prevê o art. 71 do <strong>Código</strong> <strong>Penal</strong> que o magistrado aplique<br />

somente a pena do crime mais grave ou, se idênticos, apenas uma <strong>de</strong>las, acrescida <strong>de</strong> um sexto até dois terços.<br />

Logo, se houver, por exemplo, processo criminal pela prática <strong>de</strong> três furtos, olvidando-se um quarto, ainda não<br />

<strong>de</strong>scoberto, mas na mesma continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>litiva dos primeiros, após a con<strong>de</strong>nação, po<strong>de</strong> ser iniciado novo<br />

processo pela prática do quarto furto, aplicando-se a pena isoladamente. Note-se que o fato é novo e diverso<br />

daqueles que foram antes julgados, mas, por ficção jurídica, voltada à aplicação da pena, <strong>de</strong>verá ser incluído <strong>de</strong>ntre<br />

os <strong>de</strong>mais. Faz-se, então, na execução penal, a unificação das penas, embora a coisa julgada do primeiro processo<br />

(on<strong>de</strong> se julgou os três furtos) não possa afastar a instauração <strong>de</strong> ação penal contra o réu pelo quarto furto.<br />

76. Coisa julgada e crime permanente: a hipótese <strong>de</strong> crime permanente cuida <strong>de</strong> uma só infração penal,<br />

embora com o prolongamento da consumação no tempo. Assim, cuida-se, em verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fato único. Julgado este,<br />

não se po<strong>de</strong> instaurar processo criminal contra o réu por qualquer questão a ele relativa. Imagine-se um sequestro<br />

que se arraste por várias cida<strong>de</strong>s, já que os agentes mudam a vítima <strong>de</strong> cativeiro toda semana, até serem<br />

<strong>de</strong>scobertos. Processados em uma Comarca, não po<strong>de</strong>m, posteriormente, ser novamente processados em Comarca<br />

diversa, a pretexto <strong>de</strong> que o sequestro lá também ocorreu. Há coisa julgada material impedindo a instauração da<br />

ação penal.<br />

77. Coisa julgada e crime habitual: sendo este <strong>de</strong>lito a criminalização <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> vida inaceitável do<br />

agente, é composto por várias ações que, isoladamente, não possuem relevância penal, por serem fatos atípicos,<br />

mas, vistos no conjunto, permitem a constituição da tipicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um crime habitual, como é o caso do<br />

curan<strong>de</strong>irismo, previsto no art. 284 do <strong>Código</strong> <strong>Penal</strong>. Assim, até que seja oferecida <strong>de</strong>núncia, caso o agente<br />

perpetue na prática do <strong>de</strong>lito, há apenas um fato a ser apurado. Quando a acusação propuser a ação penal, po<strong>de</strong> o<br />

agente continuar a exercitar a mesma conduta, dando início, pois, a uma nova fase <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito habitual.<br />

Por esse novo fato nascente, po<strong>de</strong> ser processado no futuro. Seria o crime habitual continuado, cujas penas<br />

po<strong>de</strong>riam ser unificadas durante a execução penal. Mas, por ação anterior, embora não incluída na <strong>de</strong>núncia do<br />

primeiro processo, não po<strong>de</strong> ser processado, pois faz parte do todo que compõe a infração penal habitual.<br />

Art. 111. As exceções serão processadas em autos apartados e não suspen<strong>de</strong>rão, em regra, o andamento da<br />

ação penal. 78<br />

78. Caracterização do procedimento inci<strong>de</strong>nte: as exceções não fazem parte da imputação principal,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!