12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ofensor”, com a ressalva <strong>de</strong> que, inexistente pessoa específica, po<strong>de</strong>ria arcar apenas o Estado. E com outra<br />

ressalva: enquanto perdurasse a instrução, o Estado sustentaria o custo do atendimento, po<strong>de</strong>ndo voltar-se contra o<br />

con<strong>de</strong>nado oportunamente, se fosse possível.<br />

21-B. Fundo <strong>de</strong> assistência ao ofendido: a única fórmula viável para dar suporte à vítima, como<br />

apregoado por várias outras legislações estrangeiras, <strong>de</strong> maneira eficiente e imediata, seria a criação <strong>de</strong> um fundo<br />

<strong>de</strong> assistência ao ofendido, por lei, com captação <strong>de</strong> recursos em variadas fontes, administrado pelo Estado. Desse<br />

modo, ocorrida a infração penal, o atendimento multidisciplinar estaria disponível <strong>de</strong> pronto à pessoa ofendida. Sob<br />

<strong>de</strong>terminadas regras, o agressor po<strong>de</strong>ria arcar, oportunamente, perante o fundo, pelos valores <strong>de</strong>spendidos. O vago<br />

dispositivo criado (§ 5.º) não soluciona problema algum e somente lança ao magistrado mais um <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

encaminhamento do ofendido para atendimento variado sabe-se lá on<strong>de</strong> e custeado sabe-se lá por quem.<br />

22. Segredo <strong>de</strong> justiça: a medida é correta, já vinha sendo executada pelo Judiciário e está em sintonia com<br />

preceito constitucional (“a lei só po<strong>de</strong>rá restringir a publicida<strong>de</strong> dos atos processuais quando a <strong>de</strong>fesa da intimida<strong>de</strong><br />

ou o interesse social o exigirem”, conforme art. 5.º, LX, CF). A vítima, muitas vezes, é exposta ao ridículo, tendo a<br />

vida privada <strong>de</strong>vassada por terceiros, em especial pela mídia, mormente quando se trata <strong>de</strong> crime passional.<br />

Imagine-se, ainda, o processo-crime envolvendo violência sexual contra crianças e adolescentes. São justificativas<br />

plausíveis para que o magistrado <strong>de</strong>crete o segredo <strong>de</strong> justiça, permitindo o acesso aos autos somente às partes.<br />

Lembremos, a<strong>de</strong>mais, que o sigilo po<strong>de</strong> – e <strong>de</strong>ve – ser consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fase investigatória. Aliás, a preservação<br />

da intimida<strong>de</strong>, vida privada, honra e imagem do réu também po<strong>de</strong> merecer atenção por parte do juiz, afinal, a<br />

execração pública não <strong>de</strong>ve se tornar uma regra no processo penal e, muito menos, a pretexto <strong>de</strong> se sustentar o<br />

princípio da publicida<strong>de</strong>.<br />

Capítulo VI<br />

DAS TESTEMUNHAS 1-5<br />

1. Conceito <strong>de</strong> testemunha: é a pessoa que toma conhecimento <strong>de</strong> algo juridicamente relevante, po<strong>de</strong>ndo,<br />

pois, confirmar a veracida<strong>de</strong> do ocorrido, agindo sob o compromisso <strong>de</strong> estar sendo imparcial e dizendo a verda<strong>de</strong>.<br />

2. Natureza jurídica: no processo penal, é meio <strong>de</strong> prova, tanto quanto a confissão, os documentos, a perícia<br />

e outros elementos.<br />

3. Classificação das testemunhas: enten<strong>de</strong>mos não ser cabível classificar as testemunhas, como<br />

sustentam alguns, em diretas (aquelas que viram fatos) e indiretas (aquelas que souberam dos fatos por intermédio<br />

<strong>de</strong> outras pessoas), próprias (as que <strong>de</strong>põem sobre fatos relativos ao objeto do processo) e impróprias (as que<br />

<strong>de</strong>põem sobre fatos apenas ligados ao objeto do processo), numerárias (que prestam compromisso), informantes<br />

(que não prestam o compromisso <strong>de</strong> dizer a verda<strong>de</strong>) e referidas (aquelas que são indicadas por outras<br />

testemunhas). Testemunhas são pessoas que <strong>de</strong>põem sobre fatos, sejam eles quais forem. Se viram ou ouviram<br />

dizer, não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser testemunhas, dando <strong>de</strong>clarações sobre a ocorrência <strong>de</strong> alguma coisa. A pessoa que<br />

presencia um aci<strong>de</strong>nte automobilístico, por exemplo, narra ao juiz os fatos, tais como se <strong>de</strong>ram na sua visão.<br />

Qualquer <strong>de</strong>poimento implica uma dose <strong>de</strong> interpretação indissociável da avaliação <strong>de</strong> quem o faz, significando,<br />

pois, que, apesar <strong>de</strong> ter visto, não significa que irá contar, exatamente, como tudo ocorreu. Por outro lado, quando a<br />

testemunha <strong>de</strong>põe sobre o que ouviu dizer <strong>de</strong> outra pessoa, continua a <strong>de</strong>clarar um fato, isto é, está narrando aquilo<br />

que lhe contou um terceiro, não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser isso uma ocorrência. Entre uma situação e outra a mudança se dá<br />

no contexto da avaliação da prova, ou seja, o instrumento para <strong>de</strong>monstrar ao juiz a veracida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algo. O

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!