12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ou semi-imputáveis, que praticam fatos violentos. Esse risco, em verda<strong>de</strong>, advém da periculosida<strong>de</strong> do agente, algo<br />

inerente à doença mental.<br />

9. Fiança: em notas específicas, comentaremos a respeito da fiança. Destina-se, precipuamente, a garantir o<br />

comparecimento do réu aos atos do processo, evitando-se a sua fuga. Porém, parece-nos incompreensível fixar-se<br />

fiança para quem obstrui o andamento processual ou resiste, sem motivo, a or<strong>de</strong>m judicial. Essas duas hipóteses<br />

permitem a <strong>de</strong>cretação da prisão preventiva. Outro ponto importante diz respeito à fixação da fiança quando o<br />

acusado, realmente, pu<strong>de</strong>r pagá-la, sob pena <strong>de</strong> se tornar um instrumento para inviabilizar a liberda<strong>de</strong> provisória.<br />

Conferir: STJ: “1 A <strong>de</strong>cisão judicial que homologa a fiança arbitrada pela autorida<strong>de</strong> policial e a <strong>de</strong>cisão que reduz<br />

o valor fixado não <strong>de</strong>monstraram, à luz do que dispõe o art. 282 do CPP, a necessária presença <strong>de</strong> exigência<br />

cautelar a justificar a medida. 2. Tem-se como evi<strong>de</strong>nciada a hipossuficiência financeira dos pacientes, pelas<br />

particularida<strong>de</strong>s do caso, visto que, após dois meses, continuam presos e não <strong>de</strong>monstraram possuir meios para<br />

pagar a fiança. 3. Habeas corpus concedido, para que, confirmada a liminar, os pacientes sejam colocados em<br />

liberda<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do pagamento da fiança arbitrada, sem prejuízo da <strong>de</strong>cretação <strong>de</strong> outra providência<br />

cautelar, se efetivamente <strong>de</strong>monstrada sua necessida<strong>de</strong> e a<strong>de</strong>quação, nos termos dos arts. 282 e 319 do <strong>Código</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>”. (HC 305614 – DF, 6.ª T., rel. Rogerio Schietti Cruz, 12.05.2015, v.u.).<br />

10. Monitoração eletrônica: surgiu em nossa legislação para saídas temporárias, durante o cumprimento da<br />

pena, bem como para o regime aberto. Esten<strong>de</strong>-se, agora, para a fase processual, o que nos parece lógico e<br />

razoável. Tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, naturalmente, dos recursos do Estado. Quando eficiente, a monitoração po<strong>de</strong> dar bons<br />

resultados; se ineficaz ou inexistente, por certo, a medida cautelar ten<strong>de</strong> ao absoluto fracasso. Em face da lacuna<br />

legal, <strong>de</strong>ve-se estabelecer, paralelamente, à monitoração eletrônica o recolhimento domiciliar, a proibição <strong>de</strong><br />

acesso ou frequência a certos lugares ou medida similar. Afinal, sozinha, a monitoração não serve para nada. O que<br />

se vai monitorar? O afastamento do domicílio; a aproximação da vítima; a frequência a lugar vedado etc.<br />

11. Cumulação da fiança: esta medida cautelar implica recolhimento <strong>de</strong> certo valor ao Estado; nada<br />

impe<strong>de</strong>, ao contrário, recomenda, seja fixada outra medida em acompanhamento. Garante-se, ainda mais, o<br />

cumprimento fiel dos requisitos da fiança.<br />

11-A. Detração e medidas cautelares alternativas à prisão: instituídas pela Lei 12.403/2011, as<br />

medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP têm por fim evitar a <strong>de</strong>cretação da prisão provisória. Porém,<br />

implicam restrição antecipada à liberda<strong>de</strong> individual. Algumas possuem maiores limitações que outras e, sob tal<br />

enfoque, enten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>va ser apreciada a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tração. Não se po<strong>de</strong> compensar com a pena privativa <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong>, aplicada na sentença, toda e qualquer medida cautelar alternativa, pois seria <strong>de</strong>spropositado. Imagine-se a<br />

imposição <strong>de</strong> não se ausentar da Comarca sem autorização judicial, perdurando por dois anos (durante o trâmite<br />

do processo), a ser <strong>de</strong>scontada na pena <strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong> reclusão: o acusado nada cumpriria e o objetivo punitivo<br />

per<strong>de</strong>ria toda a essência. Note-se que a con<strong>de</strong>nação a dois anos <strong>de</strong> privação <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> é totalmente diversa da<br />

restrição <strong>de</strong> ir e vir aplicada como cautelar. Por outro lado, se a medida consistir em não frequentar <strong>de</strong>terminados<br />

lugares e, após, a con<strong>de</strong>nação se baseie em idêntica penalida<strong>de</strong> (art. 47, IV, CP), parece-nos justo aplicar a<br />

<strong>de</strong>tração, valendo-se <strong>de</strong> analogia in bonam partem.<br />

Art. 320. A proibição <strong>de</strong> ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autorida<strong>de</strong>s encarregadas <strong>de</strong> fiscalizar<br />

as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo <strong>de</strong> 24<br />

(vinte e quatro) horas. 12<br />

12. Proibição <strong>de</strong> se ausentar do país: esta medida já vinha sendo aplicada por alguns juízes, <strong>de</strong>ntro do<br />

po<strong>de</strong>r geral <strong>de</strong> cautela. Agora, torna-se medida formal e razoável. A entrega do passaporte, como regra, impe<strong>de</strong> a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!