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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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VALOR 991 VALOR<br />

está <strong>de</strong> algum modo presente no homem, nas<br />

ativida<strong>de</strong>s humanas ou no mundo humano<br />

cuja norma ou <strong>de</strong>ver-ser constitui; por outro,<br />

exigem que ele seja in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do reconhecimento<br />

ou dos feitos humanos e que possua<br />

um status indiferente em relação ao mundo humano.<br />

Nessas teorias, ten<strong>de</strong>-se a atribuir aos V.<br />

as características do ser perfeito: unida<strong>de</strong>, universalida<strong>de</strong><br />

e eternida<strong>de</strong>, em contraposição à<br />

multiplicida<strong>de</strong>, à particularida<strong>de</strong> e à mutabilida<strong>de</strong><br />

das manifestações empíricas cuja regra<br />

eles <strong>de</strong>veriam constituir. Por outro lado, como<br />

regras <strong>de</strong>ssas manifestações, os V. <strong>de</strong>vem ter<br />

com elas uma relação essencial, sem a qual não<br />

po<strong>de</strong>riam servir nem para julgá-las nem para<br />

dirigi-las.<br />

O conceito Kantiano do a priori transcen<strong>de</strong>ntal<br />

não se revelara eficaz como mo<strong>de</strong>lo<br />

para uma solução <strong>de</strong>sse problema. Procurou-se<br />

outro tipo <strong>de</strong> solução, atribuindo-se a intuição<br />

do V. a uma experiência suigeneris, <strong>de</strong> natureza<br />

sentimental. Segundo Scheler, o sentimento<br />

é "uma forma <strong>de</strong> experiência cujos objetos são<br />

completamente inacessíveis ao intelecto, que é<br />

cego para eles assim como a orelha e o ouvido<br />

são insensíveis às cores"; essa forma <strong>de</strong> experiência<br />

nos apresenta autênticos objetos dispostos<br />

numa or<strong>de</strong>m hierárquica eterna, que são<br />

os V. (Der Formalísmus in <strong>de</strong>r Ethik, 3 a ed.,<br />

1927, p. 262). Em outros termos, o V. é o objeto<br />

intencional do sentimento, assim como a realida<strong>de</strong><br />

é o objeto intencional do conhecimento;<br />

e esse objeto é apreendido em sua relação hierárquica<br />

com os outros objetos da mesma espécie.<br />

A intuição sentimental do V. é também<br />

um ato <strong>de</strong> escolha preferencial que segue a<br />

hierarquia objetiva dos valores, constituída por<br />

quatro grupos fundamentais: V. do agradável e<br />

do <strong>de</strong>sagradável, correspon<strong>de</strong>ntes à função do<br />

gozo e do sofrimento; V. vitais, correspon<strong>de</strong>ntes<br />

aos modos do sentimento vital (saú<strong>de</strong>, doença,<br />

etc); V. espirituais, ou seja, estéticos e cognitivos;<br />

e V. religiosos (Op. cit., pp. 103 ss.).<br />

Esta solução <strong>de</strong> Scheler, porém, trazia <strong>de</strong><br />

novo à tona, no domínio da intuição fundamental,<br />

a mesma antinomia que caracteriza a<br />

interpretação neocriticista ou transcen<strong>de</strong>ntal do<br />

valor. E essa antinomia era justamente tomada<br />

como caracterização do V. por Hartmann; este<br />

por um lado afirma que os V. são V. só em relação<br />

ao ser do sujeito, reconhecendo portanto a<br />

relacionabilida<strong>de</strong> (e não relativida<strong>de</strong>) <strong>de</strong>les<br />

(Ethik, 3 a ed., 1949, p. 141). Por outro lado,<br />

afirma que os V. têm um "ser em si" in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

das opiniões do sujeito e que constituem<br />

autênticos objetos; estes, embora não sejam reais<br />

como os objetos das ciências naturais, têm um<br />

modo <strong>de</strong> ser igualmente imutável e absoluto<br />

(Ibid., p. 153). Com terminologia diferente porque<br />

<strong>de</strong> natureza teológica, mas análoga, os mesmos<br />

dois aspectos antônimos do V. foram expressos<br />

por R. Le Senne, para quem o V. é um<br />

Deus-conosco; Deus, que é único e transcen<strong>de</strong>nte;<br />

como conosco está em relação com o<br />

homem e é capaz <strong>de</strong> guiá-lo (Obstacle et valeur,<br />

1934, pp. 220 ss.).<br />

2 e O sucesso do termo V. no mundo mo<strong>de</strong>rno<br />

se <strong>de</strong>ve em gran<strong>de</strong> parte à obra <strong>de</strong> Nietzsche<br />

e ao escândalo que provocou com a pretensão<br />

<strong>de</strong> inverter os valores tradicionais. Nietzsche<br />

<strong>de</strong>clarava <strong>de</strong>positar suas esperanças "em espíritos<br />

fortes e suficientemente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

para dar impulso a juízos <strong>de</strong> V. opostos, para<br />

reformar e inverter os valores eternos; em precursores<br />

ou homens do futuro, que no presente<br />

constituam a semente que obrigará a vonta<strong>de</strong><br />

dos milênios a abrir novos caminhos, etc.<br />

(Jenseits von Gut und Base, § 203). Nietzsche<br />

consi<strong>de</strong>rou que a missão <strong>de</strong> sua <strong>filosofia</strong> era a<br />

inversão dos V. tradicionais, ironizados como<br />

"V. eternos" (Ecce homo, § 4). Essa inversão<br />

consistia substancialmente em substituir os V.<br />

da moral cristã, fundada no ressentimento (v.),<br />

portanto na renúncia e o ascetismo, pelos V.<br />

vitais, que nascem da afirmação da vida, <strong>de</strong> sua<br />

aceitação dionisíaca (Genealogie <strong>de</strong>r Moral, I,<br />

§ 10). '<br />

Essa concepção <strong>de</strong> Nietzsche foi consi<strong>de</strong>rada<br />

uma espécie <strong>de</strong> relativismo dos V., e como<br />

tal serviu <strong>de</strong> alvo para a polêmica <strong>de</strong> todas as<br />

doutrinas absolutistas. Na realida<strong>de</strong>, em Nietzsche,<br />

são poucos os indícios <strong>de</strong> uma relativida<strong>de</strong><br />

dos V.: sua intenção é, antes, restabelecer<br />

uma tábua autêntica <strong>de</strong> V., que é a dos V. vitais,<br />

em lugar dos V. fictícios, adotados pela moral<br />

do ressentimento. A tese autêntica <strong>de</strong> Nietzsche<br />

é <strong>de</strong> intrínseca relação entre o ser do V. e o homem,<br />

<strong>de</strong> tal maneira que não há V. que não<br />

seja uma possibilida<strong>de</strong> ou um modo <strong>de</strong> ser<br />

do homem. É esta a tese característica da interpretação<br />

do V. que chamamos <strong>de</strong> empirista<br />

ou subjetivista. Meinong foi o primeiro a reapresentar<br />

explicitamente essa tese, ao reduzir o V.<br />

<strong>de</strong> um objeto à sua "força <strong>de</strong> motivação" ("Über<br />

Werthaltung und Wert" em Archiv für systematische<br />

Philosophie, 1895, p. 341). Ehrenfels,

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