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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EVOLUCIONISMO 396 EVOLUCIONISMO<br />

lha das hipóteses e dos resultados da teoria<br />

biológica da evolução, sua tese vai muito além<br />

<strong>de</strong> tudo o que qualquer possível teoria científica<br />

possa legitimamente atestar. Nesse sentido,<br />

o E. foi assumido como esquema fundamental<br />

<strong>de</strong> muitas metafísicas, tanto materialistas quanto<br />

espiritualistas. A característica fundamental<br />

que essas metafísicas distinguem na evolução<br />

é o progresso. Para elas, evolução significa<br />

essencialmente progresso. Certamente essa foi<br />

a visão <strong>de</strong> Spencer, que <strong>de</strong>u início à série <strong>de</strong><br />

metafísicas evolucionistas com um ensaio publicado<br />

em 1857 e intitulado Progresso. Segundo<br />

Spencer, o progresso reveste todos os<br />

aspectos da realida<strong>de</strong>. No ensaio citado, escreve<br />

"Quer se trate do <strong>de</strong>senvolvimento da Terra,<br />

quer se trate do <strong>de</strong>senvolvimento da vida<br />

sobre sua superfície, do <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

socieda<strong>de</strong>, do governo, da indústria, do comércio,<br />

da língua, da literatura, da ciência, da arte,<br />

no fundo <strong>de</strong> todo progresso está sempre a<br />

mesma evolução que vai do simples ao complexo,<br />

através <strong>de</strong> diferenciações sucessivas."<br />

Nos Primeiros princípios, Spencer <strong>de</strong>finia assim<br />

a evolução: "é uma integração <strong>de</strong> matéria<br />

e a dissipação concomitante <strong>de</strong> movimento,<br />

durante a qual a matéria passa da homogeneida<strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>finida e incoerente à heterogeneida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finida e coerente, e o movimento<br />

conservado sofre transformação paralela" (First<br />

Principies, § 145). Essa <strong>de</strong>terminação da evolução<br />

como passagem do homogêneo indiferenciado<br />

para o heterogêneo diferenciado<br />

sem dúvida era sugerida a Spencer pela evolução<br />

biológica, que parece ir da ameba aos<br />

organismos superiores. Segundo Spencer, o<br />

sentido geral da evolução é otimista. A evolução<br />

é progresso e, a<strong>de</strong>mais, progresso necessário,<br />

que, no que se refere ao homem, só terminará<br />

com "a máxima perfeição e a mais completa<br />

felicida<strong>de</strong>" (Ibid, § 176). Ao contrário do<br />

que ocorreu na teoria da evolução biológica,<br />

que logo <strong>de</strong>svinculou a noção <strong>de</strong> evolução<br />

da <strong>de</strong> progresso, no E. filosófico o sentido<br />

otimista e necessarista da noção <strong>de</strong> progresso<br />

continua constituindo por muito tempo a<br />

característica fundamental da evolução. O E.<br />

materialista e o E. espiritualista têm isso em<br />

comum.<br />

Nenhuma <strong>de</strong>ssas correntes chega a reelaborar<br />

o conceito em exame. Quando Ardigó<br />

<strong>de</strong>fine a evolução como "a passagem do indistinto<br />

ao distinto" (Opere, 1884, II, p. 350),<br />

assumindo portanto como mo<strong>de</strong>lo evolutivo<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento psíquico e não o biológico,<br />

as características formais da evolução<br />

não mudam: ela continua sendo apenas progresso<br />

universal necessário. O maior representante<br />

do E. materialista foi o biólogo alemão<br />

Ernst Haeckel. Sua obra Enigmas do<br />

mundo (1899), nos primeiros <strong>de</strong>cênios do<br />

séc. XX, foi o catecismo <strong>de</strong>sse materialismo,<br />

que via em todas as formas da realida<strong>de</strong> graus<br />

<strong>de</strong> evolução da matéria, organizados <strong>de</strong> modo<br />

progressista. Por outro lado, o E. espiritualista,<br />

que vê nas várias formas da realida<strong>de</strong> graus <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um princípio espiritual, teve<br />

início com Wilhelm Wundt, que reconheceu<br />

esse princípio espiritual na vonta<strong>de</strong> (System <strong>de</strong>r<br />

Phil, 1889). Pensamento análogo inspirava a<br />

obra do francês Alfred Fouillée, que via na idéiaforça<br />

o substrato da evolução (L'É. <strong>de</strong>s idéesforces,<br />

1890). Mas sem dúvida a mais notável<br />

manifestação do E. espiritualista é a doutrina<br />

<strong>de</strong> Bergson, que viu na evolução o produto <strong>de</strong><br />

um elã vital, que é consciência, liberda<strong>de</strong> e<br />

criação (Évol. créatr., 1907). Em sentido análogo,<br />

C. Lloyd Morgan falou <strong>de</strong> Evolução emergente<br />

(1923), enten<strong>de</strong>ndo que as fases da evolução<br />

não são simples resultantes mecânicas<br />

das fases prece<strong>de</strong>ntes, mas contêm um elemento<br />

novo que <strong>de</strong>nuncia o caráter progressista<br />

e criativo da evolução.<br />

Mas o conceito <strong>de</strong> evolução como progresso<br />

constitui ainda o fundo ou o pressuposto <strong>de</strong><br />

outras doutrinas que, no entanto, não tomam a<br />

evolução por tema fundamental das suas elaborações.<br />

Assim a noção <strong>de</strong> evolução emergente é<br />

assumida por Alexan<strong>de</strong>r em seu livro Espaço,<br />

tempo e <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> (1920) para explicar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

global da realida<strong>de</strong>, cuja substância<br />

seriam espaço e tempo (que estão entre si como<br />

matéria e espírito). Outrossim, o conceito <strong>de</strong><br />

processo, consi<strong>de</strong>rado fundamental por Whitehead<br />

(Process and Reality, 1929), outra coisa<br />

não é senão o mesmo conceito <strong>de</strong> evolução<br />

contaminado pelo conceito hegeliano <strong>de</strong> <strong>de</strong>vir,<br />

ao mesmo tempo que a evolução em sentido<br />

naturalista fundamenta toda a obra <strong>de</strong><br />

Santayana (cf. especialmente o Realm ofMind,<br />

1940). Essas citações <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas<br />

apenas exemplos da vastíssima difusão do E. na<br />

<strong>filosofia</strong> contemporânea, e portanto em todas as<br />

formas da vida intelectual. A crença <strong>de</strong> que a<br />

realida<strong>de</strong> é um processo único, contínuo e necessariamente<br />

progressista está nas entrelinhas<br />

<strong>de</strong> doutrinas filosóficas díspares e influenciou<br />

po<strong>de</strong>rosamente a postura <strong>de</strong> certas pesquisas

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