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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ILUMINISMO 2 535 ILUMINISMO 2<br />

eles mesmos. Minorida<strong>de</strong> é a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

utilizar o próprio intelecto sem a orientação <strong>de</strong><br />

outro. Essa minorida<strong>de</strong> será <strong>de</strong>vida a eles mesmos<br />

se não for causada por <strong>de</strong>ficiência intelectual,<br />

mas por falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e coragem para<br />

utilizar o intelecto como guia. 'Sapere au<strong>de</strong>!<br />

Tem coragem <strong>de</strong> usar teu intelecto!' é o lema<br />

do I." (Was ist Aufklàrungí', em Op., ed. Cassirer,<br />

IV, p. 169)- O I. compreen<strong>de</strong> três aspectos<br />

diferentes e conexos: 1 B extensão da crítica a<br />

toda e qualquer crença e conhecimento, sem<br />

exceção; 2 e realização <strong>de</strong> um conhecimento<br />

que, por estar aberto à crítica, inclua e organize<br />

os instrumentos para sua própria correção; 3 e<br />

uso efetivo, em todos os campos, do conhecimento<br />

assim atingido, com o fim <strong>de</strong> melhorar<br />

a vida privada e social dos homens. Esses três<br />

aspectos, ou melhor, compromissos fundamentais,<br />

constituem um dos modos recorrentes<br />

<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e praticar a <strong>filosofia</strong>, cuja expressão<br />

já se encontra no período clássico da Grécia<br />

antiga (v. FILOSOFIA). O discurso <strong>de</strong> Péricles<br />

em Tucídi<strong>de</strong>s (II, 35-46) é a melhor e mais<br />

autêntica <strong>de</strong>scrição do I. antigo. Por I. mo<strong>de</strong>rno<br />

enten<strong>de</strong>-se comumente o período que vai dos<br />

últimos <strong>de</strong>cênios do séc. XVII aos últimos <strong>de</strong>cênios<br />

do séc. XVIII: esse período muitas vezes<br />

é <strong>de</strong>signado simplesmente I. ou século das luzes.<br />

l s O I., por um lado, adota a/écartesiana na<br />

razão e, por outro lado, acha que é bem mais<br />

limitado o po<strong>de</strong>r da razão. A lição da modéstia<br />

que o empirismo inglês, sobretudo em Locke,<br />

<strong>de</strong>ra às pretensões cognoscitivas do homem<br />

não é esquecida: o empirismo, aliás, passa a fazer<br />

pa/te integrante do I. A expressão típica<br />

<strong>de</strong>sta limitação dos po<strong>de</strong>res da razão é a doutrina<br />

da coisa em si (v.), lugar-comum do I. e<br />

como tal compartilhado por Kant. Essa doutrina<br />

significa que os po<strong>de</strong>res cognoscitivos<br />

humanos, tanto sensíveis quanto racionais,<br />

vão até on<strong>de</strong> vai o fenômeno, mas não além.<br />

Assim, o I. é caracterizado, em primeiro lugar,<br />

pela extensão da crítica racional aos po<strong>de</strong>res<br />

cognoscitivos, portanto pelo reconhecimento<br />

dos limites entre a valida<strong>de</strong> efetiva <strong>de</strong>sses po<strong>de</strong>res<br />

e suas pretensões fictícias. O criticismo<br />

kantiano, que, como Kant afirma, preten<strong>de</strong> levar<br />

a razão ao tribunal da razão (Crít. R. Pura,<br />

Pref. à l 1 edição), nada mais é que a realização<br />

sistemática <strong>de</strong> uma tarefa que todo o I.<br />

assumiu.<br />

Ao lado <strong>de</strong>sta limitação dos po<strong>de</strong>res cognoscitivos,<br />

primeira característica do I. por ser<br />

o primeiro efeito do compromisso <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r<br />

a crítica racional a qualquer campo, há outro<br />

aspecto fundamental <strong>de</strong>sse mesmo compromisso:<br />

não existem campos privilegiados, dos<br />

quais a crítica racional <strong>de</strong>va ser excluída. Sob<br />

este segundo aspecto, o I., mais que extensão,<br />

é correção fundamental do cartesianismo. De<br />

fato, para Descartes a crítica racional não tinha<br />

direitos fora do campo da ciência e da metafísica.<br />

Os campos da política e da religião <strong>de</strong>veriam<br />

continuar sendo tabus, e no próprio campo<br />

da moral Descartes acha que a razão não<br />

tenha a sugerir outra coisa a não ser a reverência<br />

às normas tradicionais. O I. não aceita estas<br />

renúncias cartesianas; seu primeiro ato, aliás,<br />

foi esten<strong>de</strong>r a indagação racional ao domínio<br />

da religião e da política. O <strong>de</strong>ísmoiy.) inglês é<br />

<strong>de</strong> fato a primeira manifestação do I.; consiste<br />

na tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a valida<strong>de</strong> da religião<br />

"nos limites da razão" (como dirá Kant),<br />

mas <strong>de</strong> uma razão cujas possibilida<strong>de</strong>s jã foram<br />

<strong>de</strong>limitadas previamente pela experiência. Por<br />

outro lado, os Tratados sobre o governo <strong>de</strong> Locke<br />

iniciam a crítica política iluminista, <strong>de</strong>pois<br />

retomada e levada a termo por Montesquieu.<br />

Turgot, Voltaire e pelos escritores da Revolução.<br />

No domínio moral, a Teoria dos sentimentos<br />

morais (1759) <strong>de</strong> Adam Smith, as obras dos<br />

moralistas franceses (La Rochefoucauld, La<br />

Bruyère, Vauvenargues), que punham em evidência<br />

a importância do sentimento e das paixões<br />

na conduta do homem, bem como as<br />

doutrinas morais <strong>de</strong> Hume, marcam a abertura<br />

<strong>de</strong>ste campo <strong>de</strong> indagação à crítica racional e à<br />

busca <strong>de</strong> novos fundamentos para a vida moral<br />

do homem. Ao mesmo tempo, a obra <strong>de</strong> BEC-<br />

CARIA, Dei diritti e <strong>de</strong>lle pene (1764), abria à<br />

indagação racional o domínio do direito penal.<br />

Obviamente, os resultados obtidos em todos<br />

esses campos são diferentes e sua importância<br />

varia. Mas o significado do I. não consiste na<br />

soma <strong>de</strong> seus resultados, mas no fato <strong>de</strong> haver<br />

aberto à crítica domínios até então fechados<br />

e por haver iniciado em tais domínios<br />

um trabalho eficaz que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então não foi<br />

interrompido.<br />

A atitu<strong>de</strong> crítica própria do I. está bem<br />

expressa em sua resoluta hostilida<strong>de</strong> à tradição.<br />

Na tradição, o I. vê uma força hostil que<br />

mantém vivas crenças e preconceitos que é sua<br />

obrigação <strong>de</strong>struir. Aquilo que impropriamente<br />

tem-se <strong>de</strong>nominado anti-hístoricismo iluminista<br />

na realida<strong>de</strong> é antitradicionalismo: a recusa<br />

em aceitar a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tradição e <strong>de</strong> reconhecer<br />

nela qualquer valor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da

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