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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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OUTRO, PROBLEMA DO 737 OUTRO, PROBLEMA DO<br />

originário da idéia do <strong>de</strong>ver, da qual <strong>de</strong>riva o<br />

reconhecimento dos outros eus. A idéia do <strong>de</strong>ver<br />

é a auto<strong>de</strong>terminação originária do eu. mas<br />

ela não po<strong>de</strong>ria ser realizada se não existissem<br />

outros eus, outros sujeitos em face dos quais,<br />

somente, a idéia do <strong>de</strong>ver po<strong>de</strong> ter sua <strong>de</strong>terminação<br />

e, portanto, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização.<br />

Portanto, para Fichte, a realida<strong>de</strong> dos<br />

outros eus é um postulado moral: a existência<br />

dos outros eus <strong>de</strong>verá ser admitida e reconhecida,<br />

se o eu quiser realizar concretamente a<br />

sua moralida<strong>de</strong> (Sittenlehre, § 18). Com algumas<br />

variantes, essa concepção foi retomada<br />

por outros filósofos, como p. ex. por Riehl em<br />

seu livro sobre o Criticismo (1886-87), e por<br />

Cohen, em Ética da vonta<strong>de</strong> pura (1904); este<br />

último <strong>de</strong>duz a existência das pessoas em geral<br />

do caráter jurídico e das funções públicas do<br />

homem, <strong>de</strong> modo que a multiplicida<strong>de</strong> dos eus<br />

só existiria como multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "pessoas<br />

jurídicas".<br />

Por outro lado, o ponto <strong>de</strong> vista segundo o<br />

qual o eu só conhece <strong>de</strong> modo imediato a si<br />

mesmo e seus estados interiores, ou seja, o<br />

ponto <strong>de</strong> vista do acesso privilegiado ao conhecimento<br />

interior do eu (v. CONSCIÊNCIA), dá<br />

origem ao problema <strong>de</strong> se saber como uma<br />

parte da experiência do eu po<strong>de</strong> referir-se a<br />

outro eu, e ao problema ainda mais sério <strong>de</strong><br />

saber que garantia essa referência oferece em<br />

favor da existência efetiva do outro eu. Para<br />

respon<strong>de</strong>r a esses problemas foram formuladas<br />

duas teorias. I a A existência dos outros seria<br />

inferida por um "juízo <strong>de</strong> analogia" a partir das<br />

percepções que nos revelam movimentos análogos<br />

àqueles por meio dos quais exprimimos<br />

nosso próprio eu. Mas esta teoria, pertencente<br />

à psicologia associacionista, é <strong>de</strong>smentida pelo<br />

fato <strong>de</strong> que a crença na existência dos outros<br />

seres animados também po<strong>de</strong> ser encontrada<br />

nos animais e nas crianças, que são incapazes<br />

<strong>de</strong> juízos analógicos. 2- A segunda teoria postula<br />

um órgão específico para o conhecimento da<br />

existência do outro, como p. ex. uma espécie<br />

<strong>de</strong> intuição afetiva (Einfühlung), que nos poria<br />

em relação com o que está além das manifestações<br />

corpóreas do outro, com a alma do outro<br />

(cf., p. ex., TH. LIPPS. Aesthetik, I [19031; 2 a ed.,<br />

1914, p. 106 ss.). Mas o recurso a órgãos <strong>de</strong>sta<br />

espécie só faz reduzir a existência <strong>de</strong> outros<br />

espíritos a objeto <strong>de</strong> uma crença injustificável,<br />

logo irracional.<br />

Na <strong>filosofia</strong> contemporânea, a partir da obra<br />

<strong>de</strong> Scheler, Essência e forma da simpatia<br />

(1923), o pressuposto subjetivista do problema<br />

mostrou-se cada vez mais frágil; e foi também<br />

atacado pela psicologia contemporânea, com<br />

base em observações experimentais. Scheler<br />

observou que não existe nenhum privilégio ontológico<br />

ou metafísico a favor dos pensamentos<br />

ou dos sentimentos que o eu chama <strong>de</strong><br />

"meus". Meu pensamento me é dado como "meu"<br />

do mesmo modo como o pensamento <strong>de</strong> outro<br />

me é dado como pensamento "alheio": esse é<br />

o caso comuníssimo e normal, em que compreen<strong>de</strong>mos<br />

uma comunicação qualquer que<br />

nos é feita. Entre o meu e o alheio há sempre<br />

uma conexão estreitíssima, e os dois <strong>de</strong>terminam-se<br />

e condicionam-se reciprocamente, sem<br />

que as respectivas esferas se <strong>de</strong>ixem jamais fixar<br />

rigidamente, como prova o fato <strong>de</strong> que muitas<br />

vezes nós não sabemos dizer se certa experiência<br />

psíquica vem <strong>de</strong> nós mesmos ou <strong>de</strong> outros<br />

(Sympathie, 111, cap. III). Isto eqüivale a negar<br />

o caráter pessoal e rigidamente subjetivo do Eu<br />

(v.) e a reconhecer que, a partir <strong>de</strong> sua constituição<br />

e em todas as suas manifestações, ele se<br />

move numa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações intersubjetivas que<br />

o constituem e no qual estão recortadas as esferas<br />

correlativas do "meu" e do "teu". Este ponto <strong>de</strong><br />

vista é freqüente na <strong>filosofia</strong> contemporânea,<br />

encontrando-se mesmo em escolas diferentes.<br />

Mead afirma que "o homem só se torna um eu<br />

na sua experiência na medida em que sua atitu<strong>de</strong><br />

suscita uma atitu<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte nas relações<br />

sociais". Nesse caso, autoconsciência, ou<br />

eu, outra coisa não é senão a atitu<strong>de</strong> generalizada<br />

dos outros em relação a nós. "Assumimos o<br />

papel daquilo que po<strong>de</strong>ria ser chamado <strong>de</strong> outro<br />

generalizado e, ao fazermos isto, aparecemos<br />

como objetos sociais, como eu" (Pbil. of tbe<br />

Present, p. 185). Por outro lado, Carnap expressou<br />

ponto <strong>de</strong> vista bastante próximo<br />

<strong>de</strong>ste, ao insistir no caráter secundário e <strong>de</strong>rivado<br />

da distinção entre o eu e o tu. "Mesmo<br />

a caracterização dos elementos fundamentais<br />

do nosso sistema constitutivo como psiquicamente<br />

próprios, isto é, como 'psíquicos' e como<br />

'meus', só adquire significado com a constituição<br />

dos campos do nâo-psíquico (contraposto<br />

ao psíquico) e do 'tu'" (DerlogischeAufbau <strong>de</strong>r<br />

Welt, § 65). Estas observações <strong>de</strong>monstram que<br />

é cada vez mais difícil sustentar pontos <strong>de</strong> partida<br />

solipsistas, que pretendam fundar-se em dados<br />

pertencentes ao âmbito da consciência pessoal.<br />

E mesmo uma <strong>filosofia</strong> como a <strong>de</strong> Sartre, para<br />

a qual a outra existência é tal porquanto nàoé

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