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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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AMOR 41 AMOR<br />

Santo ao A. (enquanto Deus Pai é o Ser e Deus<br />

Filho é a Verda<strong>de</strong>), o A. é introduzido explicitamente<br />

na própria essência divina e torna-se<br />

um conceito teológico, além <strong>de</strong> moral e religioso.<br />

O A. a Deus e o A. ao próximo unem-se<br />

em S. Agostinho, quase formando um conceito<br />

único. Amar a Deus significa amar o A.; mas,<br />

diz Agostinho, "não se po<strong>de</strong> amar o A. se não<br />

se ama quem ama". Não é A. o que não ama<br />

ninguém. Por isso, o homem não po<strong>de</strong> amar a<br />

Deus, que é o A., se não amar o outro homem.<br />

O A. fraterno entre os homens "não só <strong>de</strong>riva<br />

<strong>de</strong> Deus, mas é Deus mesmo" (De Trin., VIII,<br />

12): é a revelação <strong>de</strong> Deus, em um <strong>de</strong> seus<br />

aspectos essenciais, à consciência dos homens.<br />

Contudo, em S. Agostinho, a noção <strong>de</strong> A. ainda<br />

é a mesma dos gregos: uma espécie <strong>de</strong> relação,<br />

união ou vínculo que liga um ser ao outro:<br />

quase "uma vida que une ou ten<strong>de</strong> a unir dois<br />

seres, o amante e o que se ama" (ibid., VIII, 6).<br />

Essas idéias <strong>de</strong> Agostinho são retomadas<br />

freqüentemente durante todo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> uma das principais correntes da Escolástica<br />

medieval, o agostinismo (v.): por João Scotus<br />

Erigena e João Duns Scot. Scotus Erigena diz:<br />

"O A. é a conexão e o vínculo pelo qual todas<br />

as coisas são ligadas em amiza<strong>de</strong> inefável e em<br />

indissolúvel unida<strong>de</strong>... Com justiça, diz-se que<br />

Deus é A., porque ele é causa <strong>de</strong> A. e o A.<br />

difun<strong>de</strong>-se através <strong>de</strong> todas as coisas, reúne-as<br />

todas na unida<strong>de</strong> e as reconduz ao seu inefável<br />

ponto <strong>de</strong> partida: o movimento <strong>de</strong> A. <strong>de</strong> toda<br />

criatura tem o seu termo em Deus" (De divis.<br />

nat., I, 76). E Duns Scot afirma que Deus gera<br />

o Verbo conhecendo a Sua própria essência e<br />

exala o Espírito Santo amando esta essência.<br />

Desse modo, o A. eterno é a origem e a causa<br />

<strong>de</strong> toda comunicação da essência divina e,<br />

embora esse ato não seja "natural", porque é<br />

um ato <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, é todavia necessário (Op.<br />

Ox, I, dist. 10, q. 1, n s 2). Comentários análogos<br />

reaparecem freqüentemente na corrente<br />

mística (v. MISTICISMO), enquanto na corrente<br />

aristotélica o uso teológico da noção <strong>de</strong> A. é<br />

muito mais restrito, preferindo-se ilustrar a natureza<br />

divina com base nos conceitos <strong>de</strong> ser,<br />

substância e causalida<strong>de</strong>. Contudo, em toda a<br />

Escolástica, são repetidas as idéias <strong>de</strong> Aristóteles<br />

sobre a amiza<strong>de</strong>, oportunamente modificadas<br />

e adaptadas para caracterizar a natureza<br />

do A. cristão (cantas). Assim, S. Tomás afirma<br />

que é comum a toda natureza ter certa inclinação,<br />

que é o apetite natural ou o A. Essa inclinação<br />

é diferente nas diferentes naturezas e há,<br />

portanto, um A. naturale um A. intelectual; o<br />

A. natural é também um A. reto, por ser uma<br />

inclinação posta por Deus nos seres criados;<br />

mas o A. intelectual, que é carida<strong>de</strong> e virtu<strong>de</strong>,<br />

é mais perfeito do que o primeiro; portanto, ao<br />

se acrescentar a ele, aperfeiçoa-o, do mesmo<br />

modo como a verda<strong>de</strong> sobrenatural se acrescenta<br />

à verda<strong>de</strong> natural, sem se lhe opor, e a<br />

aperfeiçoa (S. Th., I, q. 60, a. 1). Quanto ao A.<br />

intelectual, isto é, à carida<strong>de</strong>, esta é <strong>de</strong>finida<br />

por S. Tomás como "a amiza<strong>de</strong> do homem por<br />

Deus", enten<strong>de</strong>ndo-se por "amiza<strong>de</strong>", segundo<br />

o significado aristotélico, o A. que está unido à<br />

benevolência (amor benevolentiae), istoé, que<br />

quer o bem <strong>de</strong> quem se ama, e não quer simplesmente<br />

apropriar-se do bem que está na<br />

coisa amada (amor concupiscientiaê), como<br />

acontece com quem ama o vinho ou um cavalo.<br />

Mas a amiza<strong>de</strong> supõe não só a benevolência<br />

como também o A. mútuo e, assim, funda-se<br />

em certa comunicação, que, no caso da carida<strong>de</strong>,<br />

é a do homem com Deus, que nos comunica<br />

a Sua bem-aventurança (ibid., II, 2, q. 23,<br />

a. 1). Essa comunhão é, segundo S. Tomás, o<br />

que há <strong>de</strong> próprio no A.: este é uma espécie <strong>de</strong><br />

união ou vínculo (unio vel nexus) <strong>de</strong> natureza<br />

afetiva, semelhante à união substancial porquanto<br />

quem ama comporta-se em relação ao amado<br />

como em relação a si mesmo. Uma união<br />

real é também efeito do A., mas trata-se <strong>de</strong><br />

uma união que não altera nem corrompe aqueles<br />

que se unem, mas se mantém nos limites<br />

oportunos e convenientes, fazendo, p. ex. que<br />

conversem e dialoguem ou que se unam <strong>de</strong><br />

outros modos semelhantes (ibid., II, 1, q. 28, a.<br />

1, ad 2). Porquanto "amar" significa querer o<br />

bem <strong>de</strong> alguém, o A. pertence à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Deus e a constitui. Mas o A. <strong>de</strong> Deus é diferente<br />

do amor humano porque, enquanto este último<br />

não cria a bonda<strong>de</strong> das coisas, mas a encontra<br />

no objeto pelo qual é suscitado, o A. <strong>de</strong><br />

Deus infun<strong>de</strong> e cria a bonda<strong>de</strong> nas próprias<br />

coisas (ibid., I, q. 20, a. 2).<br />

A especulação teológica sobre o A. retorna<br />

no platonismo renascentista, mas este acentua<br />

a reciprocida<strong>de</strong> do A. entre Deus e o homem,<br />

consoante a tendência, própria do Renascimento,<br />

<strong>de</strong> insistir no valor e na dignida<strong>de</strong> do homem<br />

como tal. Marsílio Ficino afirma que o A. é o<br />

liame do mundo e elimina a indignida<strong>de</strong> da<br />

natureza corpórea, que é resgatada pela solicitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Deus (Theol. plat., XVI, 7). O homem<br />

não po<strong>de</strong>ria amar a Deus, se o próprio Deus<br />

não o amasse; Deus volve-se para o mundo

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