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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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MAL 639 MAL<br />

<strong>de</strong> modo algum a realida<strong>de</strong> (entitas rei) (íbid.,<br />

I. q. 48. a 2).<br />

Após as observações cépticas <strong>de</strong> Pierre<br />

Bayle sobre a compatibilida<strong>de</strong> do M. (em todas<br />

as suas formas) com a onipotência divina e<br />

com a perfeição do universo, a teodicéia <strong>de</strong><br />

I.eibniz está fundamentada na doutrina tradicional<br />

do M como negação do bem. "Os platônicos,<br />

S. Agostinho e os escolásticos", diz<br />

Leibniz, "tiveram razão em dizer que Deus é a<br />

causa material do M.. que consiste em sua parte<br />

positiva, e não da forma <strong>de</strong>le, que consiste<br />

na privação, assim como se po<strong>de</strong> dizer que a<br />

corrente é a causa material do atraso na velocida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um barco, sem ser a causa da forma<br />

do próprio atraso, ou seja, dos limites <strong>de</strong>sta velocida<strong>de</strong>"<br />

(Théod., I, 30). Essas consi<strong>de</strong>rações<br />

<strong>de</strong> Leibniz fundamentaram todas as tentativas<br />

ultcriores <strong>de</strong> teodicéia (v.). Por outro lado, a<br />

nulida<strong>de</strong> do M. continuou sendo a tese adotada<br />

pelas doutrinas que i<strong>de</strong>ntificam o ser com o<br />

bem ou, em termos mo<strong>de</strong>rnos, com a racionalida<strong>de</strong><br />

ou o <strong>de</strong>ver-ser; isso acontece em<br />

Hegel, para quem o M., entendido como vonta<strong>de</strong><br />

malévola, é "a nulida<strong>de</strong> absoluta" <strong>de</strong>ssa<br />

vonta<strong>de</strong> (Ene, § 512). Do ponto <strong>de</strong> vista dos<br />

i<strong>de</strong>alismos absolutos, como o <strong>de</strong> Hegel e <strong>de</strong><br />

sua escola, apresenta-se novamente o problema<br />

tradicional da teodicéia: o da possibilida<strong>de</strong><br />

do M.; a única solução disponível é ainda a tradicional:<br />

a nulida<strong>de</strong> do M. Gentile dizia: "Não é<br />

erro e verda<strong>de</strong>, mas erro na verda<strong>de</strong>, como<br />

seu conteúdo que se resolve na forma; nem M.<br />

e bem, mas M. do qual o bem se nutre no seu<br />

absoluto formalismo" (Teoria getierale <strong>de</strong>llo<br />

spirito, XVI, 10). Croce por sua vez afirmava:<br />

"O M., quando real, não existe senão no bem,<br />

que se lhe opõe e o vence: portanto, não existe<br />

como fato nositívo: quando, porém, existe<br />

como fato positivo, já não é um M., mas um<br />

bem (e por sua vez tem como sombra o M.,<br />

contra o qual luta e vence)" (Fíl. <strong>de</strong>lia pratica,<br />

1909, p. 139). Não-ser. nulida<strong>de</strong> ou irrealida<strong>de</strong><br />

do M. é tese re<strong>de</strong>scoberta toda vez que, <strong>de</strong><br />

qualquer forma, se propõe a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre<br />

ser e bem.<br />

b) A segunda concepção metafísica do M.<br />

consi<strong>de</strong>ra-o como um conflito interno do ser,<br />

como a luta entre dois princípios. Segundo essa<br />

concepção, o domínio do ser divi<strong>de</strong>-se em<br />

dois campos opostos, dominados por dois princípios<br />

antagônicos. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ssa concepção<br />

é a religião persa, <strong>de</strong> Zarathustra ou Zoroastro,<br />

que contrapunha á divinda<strong>de</strong> (Abura Mazda<br />

ou Ormazd) uma antidivinda<strong>de</strong> (Ahriman),<br />

que é o princípio do M. (cf. PETTAZZONI, La<br />

religione di Zarattistra, Bolonha, 1921; Du-<br />

CHF.SKE-GUILLF.MIN, Orniazd et Ahriman, Paris,<br />

1953). Essa doutrina constitui uma solução extremamente<br />

simples para o problema do M.,<br />

pois, ao mesmo em que limita o po<strong>de</strong>r das<br />

divinda<strong>de</strong>s, não trai o monoteísmo porque concebe<br />

a potência limitante como antidivinda<strong>de</strong>.<br />

Segundo essa solução, o M. é real tanto quanto<br />

o bem, e, como tal, tem causa própria, antitética<br />

à do bem. Essa doutrina evita a redução do M.<br />

ao nada, tão pouco convincente para o homem<br />

comum, e <strong>de</strong>corre do mesmo tipo <strong>de</strong> justificação<br />

<strong>de</strong> que lança mão a negação metafísica da<br />

realida<strong>de</strong> do M. O dualismo persa retornou no<br />

culto <strong>de</strong> Mitra: personagem que. segundo relato<br />

<strong>de</strong> Plutarco. ocupava posição intermediária<br />

entre o domínio da luz, pertencente a Ahura<br />

Mazda, e o domínio das trevas, pertencente a<br />

Ahriman (De Isi<strong>de</strong> et Osiri<strong>de</strong>, 46-47; cf. I\<br />

CUMONT, The Mysteries of Mithra, cap. I).<br />

Retornou também, com algumas atenuações,<br />

em algumas seitas gnósticas dos primeiros .séculos<br />

da era vulgar, especialmente na <strong>de</strong> Hasüi<strong>de</strong>s<br />

(cf. BUONAUTI, Frammenti gnosticí, 1923, pp.<br />

42 ss.), bem como na seita dos maniqueus,<br />

contra os quais S. Agostinho assenta uma <strong>de</strong><br />

suas principais polêmicas (v. MAMQUF.ÍSMO). Mas<br />

ü <strong>filosofia</strong> nunca aceitou essa solução para o<br />

problema do M. na forma simples como foi<br />

originariamente formulada pela religião persa;<br />

nunca admitiu a separação dos dois princípios.<br />

Quando aceitou essa solução, modificou-a no<br />

sentido <strong>de</strong> incluir ambos os princípios em Deus,<br />

consi<strong>de</strong>rando o princípio do bem e o do M.<br />

unidos em Deus, justamente em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />

conflito. Xo séc. XVII, Jacob Bóhme, insistindo<br />

na presença, em todos os aspectos da realida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> dois princípios em luta, que são o bem<br />

e o M., atribuía a causa <strong>de</strong>ssa luta à presença<br />

em Deus dos dois princípios antagonistas, que<br />

ele indicava com vários nomes: espírito e natureza,<br />

amor e ira, ser e fundamento, etc. Em<br />

Deus, esses dois princípios estariam fortemente<br />

ligados, numa espécie <strong>de</strong> luta amorosa. Bõhme<br />

dizia: "A divinda<strong>de</strong> não repousa tranqüila, mas<br />

suas potências trabalham sem trégua e lutam<br />

amorosamente; movem-se e combatem: como<br />

acontece com duas criaturas que brincam uma<br />

com a outra, com amor abraçam-se e estreitam-se;<br />

ora uma é vencida, ora a outra, mas o<br />

vencedor logo se <strong>de</strong>tém e <strong>de</strong>ixa que a outra<br />

retome seu jogo" (Aurora o<strong>de</strong>rdieMorgenróte

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