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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ETERNIDADE 379 ETERNIDADE<br />

não foi, nem será, mas é no presente simultaneamente<br />

uno, contínuo" (Fr. 8, Diels). Platão<br />

contrapôs explicitamente os dois significados:<br />

"Da substância eterna dizemos erroneamente<br />

que era, que é e que será, mas na verda<strong>de</strong> só<br />

lhe cabe o é, ao passo que o era e o será <strong>de</strong>vem<br />

ser predicados apenas da geração que<br />

proce<strong>de</strong> no tempo" (Tim., 37 e). Aristóteles<br />

utilizou ambos os conceitos. Por um lado o<br />

mundo fora do qual não há espaço vazio, nem<br />

tempo, abrange toda a extensão do tempo e é<br />

eterno (Decaelo, I, 9, 279 a 25). Nesse sentido,<br />

E. é duração (ocioòv). Por outro lado, as substâncias<br />

imóveis, motores dos céus, são eternas<br />

em outro sentido: no sentido <strong>de</strong> estarem fora<br />

do tempo. "Os entes eternos (xà aei õvca), porquanto<br />

eternos", diz Aristóteles, "não estão no<br />

tempo: não são abarcados pelo tempo nem<br />

por ele são medidos; o sinal disso é que eles<br />

não sofrem a ação do tempo, não estando no<br />

tempo" (Fís., IV, 12, 221, b 3).<br />

Essa distinção aristotélica tornou-se clássica.<br />

Plotino i<strong>de</strong>ntificou a E. (oatcv) com o modo <strong>de</strong><br />

ser do mundo inteligível, ou seja, com "o que<br />

persiste na sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, que está sempre<br />

presente para si mesmo em sua totalida<strong>de</strong>, que<br />

não é ora um, ora outro, mas é, simultaneamente,<br />

perfeição indivisível, assim como a do<br />

ponto on<strong>de</strong> se unem todas as linhas sem se<br />

expandirem, ponto que persiste em si mesmo<br />

na sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e não sofre modificações,<br />

que existe sempre no presente, sem passado<br />

nem futuro, mas é o que é e é sempre" (Enn.,<br />

III, 7, 3). A esse respeito, Plotino repete a concepção<br />

<strong>de</strong> Parmêni<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> Platão: eterno é o<br />

que não era nem será, mas apenas é. S. Agostinho<br />

analisou o tempo com base na contraposição<br />

entre tempo e E. (Conf., XI, 11; De civ.<br />

Dei, XI, 4, 6), e Boécio exprimia corretamente<br />

a distinção entre os dois conceitos <strong>de</strong> E.: "Não<br />

se po<strong>de</strong> legitimamente consi<strong>de</strong>rar eterno o que<br />

é condicionado pelo tempo, ainda que, como<br />

Aristóteles pensou do mundo, não tenha princípio<br />

nem fim, e ainda que sua vida se prolongue<br />

na infinida<strong>de</strong> do tempo. Pois, mesmo<br />

sendo infinita, sua vida não compreen<strong>de</strong> nem<br />

abrange sua própria duração inteira, visto que<br />

ainda não compreen<strong>de</strong> nem abrange o futuro e<br />

já não abrange o passado. Portanto, só o que<br />

abrange e possui igualmente, em sua totalida<strong>de</strong>,<br />

a plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma vida sem limites, <strong>de</strong> tal<br />

sorte que nada lhe falte do futuro e nada lhe<br />

haja escapado do passado, só esse é o ser que<br />

<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado eterno: ele se possui ne-<br />

cessariamente por inteiro no presente e possui<br />

no presente a infinida<strong>de</strong> do tempo" (Phil.<br />

cons., V, 6, 6-8). Depois <strong>de</strong> Boécio essa distinção<br />

tornou-se lugar-comum em <strong>filosofia</strong>. S.<br />

Tomás fixou com precisão a terminologia correspon<strong>de</strong>nte.<br />

A E., como "posse total, simultânea<br />

e perfeita <strong>de</strong> uma vida sem limites", caracteriza-se<br />

por: 1 Q ausência <strong>de</strong> princípio e fim; 2°<br />

ausência <strong>de</strong> sucessão, porquanto é um presente<br />

eterno. A duração (aevurn), porém, é peculiar<br />

às coisas que estão sujeitas ao movimento<br />

local e para o resto são imutáveis, como ocorre<br />

com o céu, que é, por isso, algo <strong>de</strong> intermediário<br />

entre a E. e o tempo (S. Th., I, q. 10, a. 1, 5).<br />

Esse conceito <strong>de</strong> E. também foi adotado pelo<br />

racionalismo mo<strong>de</strong>rno. Spinoza i<strong>de</strong>ntifica a E.<br />

com a existência da Substância, porque implícita<br />

em sua essência e, portanto, necessária.<br />

Esclarece: "Tal existência, enquanto verda<strong>de</strong><br />

eterna, é concebida como a essência da coisa;<br />

no entanto, não po<strong>de</strong> ser explicada por meio<br />

da duração ou do tempo, mesmo que se conceba<br />

a duração sem princípio e sem fim" {Et., I,<br />

<strong>de</strong>f. 8, ciar.). Portanto, conceber as coisas sob o<br />

aspecto da E. (sub specie aeternitatis) significa<br />

concebê-las como manifestações da essência<br />

divina e necessariamente <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> sua natureza<br />

(Ibid., V, 30). Leibniz afirma, contra<br />

Locke, a precedência <strong>de</strong> uma "idéia do absoluto",<br />

que serviria <strong>de</strong> fundamento à noção da E.<br />

(Nouv. ess., II, 14, 27). Toda a <strong>filosofia</strong> hegeliana<br />

é concebida do ponto <strong>de</strong> vista da E. assim<br />

entendida. Hegel nega que a E. possa ser entendida<br />

negativamente como abstração ou<br />

negação do tempo, ou como se viesse <strong>de</strong>pois<br />

do tempo (Ene, § 258). Para ele, a E. é o totum<br />

simul das <strong>de</strong>terminações da Idéia. "A Idéia,<br />

eterna em si e por si, atualiza-se, produz-se e<br />

frui-se a si mesma eternamente como espírito<br />

absoluto" (Ibid., § 577).<br />

"Intemporalida<strong>de</strong>" e "presente eterno" são<br />

as expressões mais repetidas também na <strong>filosofia</strong><br />

contemporânea, sempre que se utiliza a noção<br />

<strong>de</strong> eternida<strong>de</strong>. É a última expressão que<br />

aparece, p. ex., na obra <strong>de</strong> Lavelle, O tempo e<br />

a E. (1945), assim como em muitos outros i<strong>de</strong>alistas<br />

e espiritualistas contemporâneos. McTaggart,<br />

porém, observara que conceber a E. como<br />

"eterno presente" é uma metáfora não <strong>de</strong> todo<br />

apropriada porque com ela se faz referência ao<br />

tempo, já que o presente é uma parte do tempo<br />

e supõe passado e futuro; propôs consi<strong>de</strong>rar<br />

o eterno situado no futuro, no fim ou na<br />

consumação dos tempos (em Mind, 1909, p.

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