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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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SER 884 SER<br />

II, 2, 3). Os mesmos conceitos, expressos por<br />

Algazel (Met., I, I, 8), fundamentaram a escolástica<br />

judaica e cristã.<br />

No mundo mo<strong>de</strong>rno, o conceito <strong>de</strong> S. como<br />

necessida<strong>de</strong> foi reafirmado principalmente por<br />

Spinoza e Hegel. Spinoza viu o S. <strong>de</strong> Deus na<br />

necessida<strong>de</strong>, e o S. das coisas na necessida<strong>de</strong><br />

com que <strong>de</strong>rivam da substância divina (Et., I, 8,<br />

scol. II). Hegel expressou esse mesmo conceito<br />

com o famoso aforismo que serviu <strong>de</strong> base<br />

para toda a sua <strong>filosofia</strong>: "O que é racional é<br />

real; o que é real é racional." A racionalida<strong>de</strong><br />

do real é a sua necessida<strong>de</strong>; em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, o<br />

real, em suas <strong>de</strong>terminações fundamentais, só<br />

po<strong>de</strong> ser o que é. Por isso, Hegel diz que "a<br />

função da <strong>filosofia</strong> é enten<strong>de</strong>r o que é, pois o<br />

que é, é a razão" (Fil. do dir., Pref.). Também<br />

por isso não existe um <strong>de</strong>ver S., um i<strong>de</strong>al, uma<br />

perfeição que seja diferente do S. e em cujo<br />

nome se esteja autorizado a criticar o S. ou a<br />

dar-lhe lições. "O que está entre a razão como<br />

espírito autoconsciente e a razão como realida<strong>de</strong><br />

presente, o que diferencia aquela razão <strong>de</strong>sta<br />

e não permite que se encontre satisfação<br />

nesta é o empecilho <strong>de</strong> alguma abstração que<br />

não se libertou e não se tornou conceito"<br />

(Ibíd., Pref.). Noutras palavras, só com falsas<br />

abstrações distingue-se o que <strong>de</strong>veria ser do<br />

que é, racionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. real; isso significa<br />

que o S. real é tudo o que <strong>de</strong>ve ser, e que sua<br />

modalida<strong>de</strong>, seu sentido primário, é essa necessida<strong>de</strong>.<br />

Por outro lado, toda a <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong><br />

Hegel está voltada para a <strong>de</strong>monstração da necessida<strong>de</strong><br />

das <strong>de</strong>terminações do S.: visa a mostrar<br />

que o S., em sua realida<strong>de</strong>, é tudo o que<br />

<strong>de</strong>ve ser (Ene, § I). A necessida<strong>de</strong> continua<br />

sendo o caráter primário do S. em concepções<br />

filosóficas díspares. Quando Fichte afirma que<br />

S. e ativida<strong>de</strong> do eu são a mesma coisa, está reconhecendo<br />

como caráter essencial <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong><br />

a necessida<strong>de</strong> com que ela se põe e o<br />

não-eu (Wissenschaftslehre, 1798, § 1). Conceber<br />

o S. como "Consciência" ou "Matéria" não<br />

faz diferença: as <strong>de</strong>terminações qualitativas não<br />

influenciam sua <strong>de</strong>terminação formal primária.<br />

Tanto o Absoluto dos i<strong>de</strong>alistas (Green, Bradley<br />

e outros) quanto a matéria dos materialistas<br />

são S. necessários. Necessária é a História, <strong>de</strong><br />

que fala Croce, tanto quanto é necessário o Ato<br />

Puro, <strong>de</strong> que fala Gentile. Este afirmava: "A<br />

necessida<strong>de</strong> do S. coinci<strong>de</strong> com a liberda<strong>de</strong> do<br />

espírito" (Teoria generale, XII, § 20). Mesmo<br />

Rosmini, para quem a idéia do S. como "S. possível"<br />

é fundamento do conhecimento humano,<br />

vê na necessida<strong>de</strong> e na universalida<strong>de</strong> os<br />

caracteres primários do S. (Nuovosaggio, §§ 428-<br />

29). Husserl afirma energicamente a necessida<strong>de</strong><br />

do S. que ele consi<strong>de</strong>ra primário, que é o S.<br />

da consciência: "A tese do mundo, que é aci<strong>de</strong>ntal,<br />

opõe-se a tese do meu eu puro e do viver<br />

do eu. que é necessária e indubitável. Toda<br />

coisa dada, mesmo que presente em carne e<br />

osso, po<strong>de</strong> não ser; mas uma vivência, dada<br />

em carne e osso, não po<strong>de</strong> não ser. Esta é a lei<br />

essencial que <strong>de</strong>fine essa necessida<strong>de</strong> e essa<br />

aci<strong>de</strong>ntalida<strong>de</strong>" (I<strong>de</strong>en, I, § 46).<br />

Característica típica <strong>de</strong>ssa concepção do S.,<br />

ou melhor, uma <strong>de</strong> suas teses fundamentais, é a<br />

i<strong>de</strong>ntificação entre S. e racionalida<strong>de</strong>, que serviu<br />

<strong>de</strong> princípio para a <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> Hegel. Algumas<br />

vezes essa i<strong>de</strong>ntificação foi entendida<br />

como imanentísmo (v.), no sentido <strong>de</strong> imanência<br />

do S. na consciência. Embora esta também<br />

seja uma tese hegeliana, nada tem a ver<br />

com a outra. Foi expressa pela primeira vez<br />

por Parméni<strong>de</strong>s, que, exatamente nesse sentido,<br />

i<strong>de</strong>ntificou S. e pensar (Fr. 5; Fr. 8, 34-36,<br />

Diels). Certamente a tese <strong>de</strong> Parméni<strong>de</strong>s nada<br />

tinha a ver com o imanentismo, porque a noção<br />

<strong>de</strong> consciência nem sequer tinha nascido (v.<br />

CONSCIÊNCIA): expressava apenas o caráter racional<br />

da necessida<strong>de</strong> ontológica. Esse mesmo<br />

caráter era expresso por Aristóteles, na doutrina<br />

<strong>de</strong> que a <strong>de</strong>terminação fundamental da substância<br />

é a essência necessária, que é a razão <strong>de</strong> ser<br />

(Jogos) da coisa (Depart. an., I, 1, 639 b 15).<br />

Para Rosmini, o S. possível era a própria forma<br />

da razão (Nuovosaggio, § 396). A tese em questão,<br />

ao mesmo tempo em que expressa a necessida<strong>de</strong><br />

do S., postula um conceito correspon<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> razão em geral (v. RAZÃO).<br />

Ao que parece, a ontologia <strong>de</strong> Hartmann<br />

escapa a essa tradição, pois não assume a necessida<strong>de</strong><br />

como significado primário do S., mas<br />

a efetivida<strong>de</strong> (Wírklíchkeít), à qual seriam<br />

redutíveis possibilida<strong>de</strong>s e necessida<strong>de</strong>s. A efetivida<strong>de</strong><br />

é a terceira alternativa da modalida<strong>de</strong><br />

do S., a assertorieda<strong>de</strong>. O S. ao qual o <strong>de</strong>verser<br />

e o po<strong>de</strong>r-ser se reduzem, segundo Hartmann,<br />

é o S. simplesmente existente, em sua<br />

pura efetivida<strong>de</strong> ou atualida<strong>de</strong>, o S. que, no<br />

domínio da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato, apresenta-se<br />

"<strong>de</strong>sse modo e não <strong>de</strong> outro", ou seja, como<br />

existência análoga à matéria. Mas os enunciados<br />

nos quais, segundo Hartmann, se expressa<br />

a redução do necessário e do possível ao atual<br />

<strong>de</strong>monstram que, na realida<strong>de</strong>, a efetivida<strong>de</strong><br />

ainda é e sempre foi necessida<strong>de</strong>. Esses enun-

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