22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

FINAIISMO 459 FEMALISMO<br />

finalida<strong>de</strong> externa feita por Schopenhauer, que<br />

no entanto mantém inalterado o conceito tradicional<br />

<strong>de</strong> F., apesar <strong>de</strong> sua tese sobre o caráter<br />

irracional e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado da força que rege o<br />

mundo. Para Schopenhauer, finalida<strong>de</strong> interna<br />

é "a harmonia <strong>de</strong> todas as partes <strong>de</strong> um organismo,<br />

<strong>de</strong> tal modo que a conservação <strong>de</strong>ste e<br />

<strong>de</strong> sua espécie seja objetivo <strong>de</strong>sta harmonia".<br />

Finalida<strong>de</strong> externa é, pelo contrário, a "relação<br />

da natureza inorgânica com a orgânica ou <strong>de</strong><br />

partes da natureza orgânica entre si, o que possibilita<br />

a conservação da natureza orgânica toda<br />

e das espécies individuais" (Die Welt, I, § 28).<br />

Por outro lado, nesse aspecto a doutrina <strong>de</strong><br />

Bergson não constitui uma inovação do F. tradicional.<br />

No que se refere à finalida<strong>de</strong> orgânica,<br />

Bergson <strong>de</strong>clarou-se contrário ao "mecanismo<br />

radical" e ao "F. radical", reconhecendo em<br />

ambos a negação do caráter "imprevisível" ou<br />

"criador" da evolução vital. A harmonia — diz<br />

ele — <strong>de</strong>ve encontrar-se atrás e não à frente<br />

<strong>de</strong>ssa evolução. "O futuro não está contido no<br />

presente sob a forma <strong>de</strong> um fim representado.<br />

Entretanto, uma vez realizado, explicará o presente<br />

assim como o presente o explicava, e<br />

ainda melhor; <strong>de</strong>verá ser consi<strong>de</strong>rado fim, mais<br />

que resultado. Nossa inteligência tem o direito<br />

<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-lo abstratamente do seu ponto<br />

<strong>de</strong> vista habitual, visto que ela mesma é uma<br />

abstração realizada sobre a causa da qual emana"<br />

(Évol. créatr., 8 a ed., 1911, cap. I, p. 57).<br />

Mas tampouco esta <strong>de</strong>terminação feita por<br />

Bergson inova muito o conceito clássico <strong>de</strong> F.,<br />

cuja natureza não consiste, como julga Bergson,<br />

em negar os caracteres imprevisíveis ou<br />

novos que emergem durante a realização do<br />

fim, mas unicamente em admitir a causalida<strong>de</strong><br />

do fim e em consi<strong>de</strong>rar essa causalida<strong>de</strong> como<br />

princípio <strong>de</strong> explicação. A doutrina <strong>de</strong> Bergson<br />

não contribui para inovar esses dois aspectos,<br />

po<strong>de</strong>ndo, pois, ser reintegrada na concepção<br />

clássica <strong>de</strong> F., assim como po<strong>de</strong>m ser reintegradas<br />

nessa concepção as doutrinas que, apesar<br />

<strong>de</strong> admitir o mecanismo, consi<strong>de</strong>ram-no compreendido<br />

no F. geral da natureza, e a ele subordinado,<br />

como fazem Leibniz (Op., ed.<br />

Gerhardt, III, p. 607; IV, p. 284), Lotze (Mikrokosmus,<br />

1856, I) e, com eles, muitos espiritualistas<br />

contemporâneos.<br />

É só com a interpretação <strong>de</strong> Kant que o F. se<br />

inova significativamente. Essa interpretação nega<br />

a 2- tese do F., segundo a qual explicar um fenômeno<br />

significa aduzir o objetivo. Para Kant, a<br />

explicação dos fenômenos só po<strong>de</strong> ser causai, e<br />

o juízo teleológico é reflexivo, não <strong>de</strong>terminante,<br />

ou seja, não apreen<strong>de</strong> um elemento constitutivo<br />

das coisas, mas um modo subjetivo,<br />

porquanto inevitável para o homem representálas.<br />

"Há uma diferença absoluta entre dizer que<br />

a produção <strong>de</strong> certas coisas da natureza, ou<br />

mesmo <strong>de</strong> toda a natureza, só é possível por<br />

meio <strong>de</strong> uma causa que se <strong>de</strong>termina a agir segundo<br />

fins, e dizer que, segundo a natureza<br />

particular <strong>de</strong> minha faculda<strong>de</strong> cognoscitiva,<br />

só posso julgar da possibilida<strong>de</strong> das coisas e <strong>de</strong><br />

sua produção concebendo uma causa que aja<br />

segundo fins, portanto um ser que produza <strong>de</strong><br />

modo análogo à causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um intelecto.<br />

No primeiro caso quero afirmar alguma coisa do<br />

objeto, e sou obrigado a <strong>de</strong>monstrar a realida<strong>de</strong><br />

objetiva do conceito que admito; no segundo<br />

caso a razão só faz <strong>de</strong>terminar o uso <strong>de</strong> minhas<br />

faculda<strong>de</strong>s cognoscitivas, <strong>de</strong> acordo com sua<br />

natureza e com as condições essenciais <strong>de</strong> seu<br />

alcance e <strong>de</strong> seus limites" {Crít. dofuizo, § 75).<br />

Do segundo ponto <strong>de</strong> vista, que é o proposto<br />

por Kant, o F. não passa <strong>de</strong> conceito regulador<br />

do uso do intelecto humano: uso oportuno e<br />

necessário pelo fato <strong>de</strong> que o intelecto humano<br />

encontra limites bem precisos na explicação<br />

mecânica do mundo, sendo, pois, levado a recorrer<br />

a uma consi<strong>de</strong>ração complementar. Esta,<br />

contudo, nunca po<strong>de</strong> valer como explicação, e<br />

sua única função é ajudar a procurar as leis particulares<br />

da natureza {Ibid., § 78). Esse ponto <strong>de</strong><br />

vista kantiano (recentemente renovado por N.<br />

HARTMANN, Philosophie <strong>de</strong>r Natur, 1950), enquanto<br />

nega ao F. qualquer valor cognoscitivo e<br />

científico, atribuiu-lhe uma espécie <strong>de</strong> valida<strong>de</strong><br />

subjetiva, entre estética e moral, que se <strong>de</strong>ve à<br />

limitação inevitável do conhecimento humano.<br />

Obviamente, a interpretação kantiana do F.<br />

repousa na tese dos adversários do F., que<br />

nega po<strong>de</strong>r explicativo ao F. Só esta negação<br />

constitui, na realida<strong>de</strong>, o abandono do F. e só<br />

as razões que o apoiam constituem uma autêntica<br />

crítica a ele. Na realida<strong>de</strong>, o F. não é uma<br />

generalização empírica a partir da consi<strong>de</strong>ração<br />

<strong>de</strong> certo número <strong>de</strong> exemplos teleológicos;<br />

tampouco uma "disteleologia", ou seja, uma lista<br />

<strong>de</strong> casos contrários ao F., é uma crítica <strong>de</strong>cisiva<br />

ao F. A doutrina <strong>de</strong> Platão e <strong>de</strong> Aristóteles a<br />

respeito, particularmente a <strong>de</strong>ste último, mostra<br />

claramente o fundamento do F.: a crença em<br />

que a única explicação possível dos acontecimentos<br />

é a que aduz o objetivo pelo qual aconteceram.<br />

Para Platão e para Aristóteles, o objetivo<br />

é a forma ou a razão <strong>de</strong> ser da coisa, e a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!