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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CORAGEM 210 CORPO 1<br />

CORAGEM (gr. àvôpeía; lat. Fortitudo; in.<br />

Courage, fr. Courage, ai. Muth; it. Coraggio).<br />

Uma das quatro virtu<strong>de</strong>s enumeradas por Platão,<br />

chamadas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> car<strong>de</strong>ais (v.), e uma<br />

das virtu<strong>de</strong>s éticas (v.) <strong>de</strong> Aristóteles. Platão <strong>de</strong>fine-a<br />

como "a opinião reta e conforme à lei sobre<br />

o que se <strong>de</strong>ve e sobre o que não se <strong>de</strong>ve<br />

temer" (Rep., IV, 430 b). Aristóteles <strong>de</strong>fine-a<br />

como o justo meio entre o medo e a temerida<strong>de</strong><br />

{Et. nic, III, 6, 1.115 a 4). Mas como virtu<strong>de</strong><br />

que constitui a firmeza <strong>de</strong> propósitos, a C. é, <strong>de</strong><br />

certo modo, privilegiada e consi<strong>de</strong>rada uma<br />

das virtu<strong>de</strong>s principais. Foi o que fez Aristóteles<br />

(Ibid., III, 7). Cícero afirmava: ''Virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>riva<br />

<strong>de</strong> vir (homem), sendo a coragem sobretudo<br />

viril, ou seja, própria do homem; seus principais<br />

atributos são dois: <strong>de</strong>sprezo pela morte e<br />

<strong>de</strong>sprezo pela dor" (Tusc, II, 18, 43). O mesmo<br />

é dito por S. Tomás (S. Th., II, II, q. 123, a. 2).<br />

Em sentido biológico-filosófico, a coragem foi<br />

<strong>de</strong>finida por K. Goldstein: "A C, em sua forma<br />

mais profunda, é um sim dito à laceração da<br />

existência aceita como necessida<strong>de</strong>, para que<br />

possamos realizar plenamente o ser que nos é<br />

próprio". Nesse sentido, a C. é o contrário da<br />

angústia (v.), sendo uma atitu<strong>de</strong> orientada para<br />

o possível, ainda não realizada no presente<br />

(Der Aufbau <strong>de</strong>s Organismus, 1934, p. 198).<br />

CORNUDO, ARGUMENTO (gr. KepatívriÇ;<br />

lat. Cornutus). Assim é chamado o sofisma <strong>de</strong><br />

Eubúli<strong>de</strong>s: "O que não per<strong>de</strong>ste, tens; não<br />

per<strong>de</strong>ste os cornos: logo, os tens" (DiÓG. L,<br />

VII, 187).<br />

COROLÁRIO (gr. TtóptO(ia; lat. Corollarium;<br />

in. Corollary, fr. Corollaire, ai. Korollar,<br />

it. Corollario). O que se <strong>de</strong>duz <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>monstração<br />

prece<strong>de</strong>nte, como uma espécie <strong>de</strong><br />

acréscimo ou ganho extraordinário (EUCLIDES,<br />

EL, III, 1); também po<strong>de</strong> ser uma espécie <strong>de</strong><br />

proposição intermediária entre o teorema e o<br />

problema (PAPO, 648, 18 s.; PROCLO, In Eucl, p.<br />

301 F). Esse termo esten<strong>de</strong>u-se para a linguagem<br />

filosófica graças a Boécio (Phti. cons., III,<br />

10). No primeiro sentido, o C. às vezes foi<br />

chamado <strong>de</strong> consectarium (JUNGIUS, Lógica<br />

hamburgensís, IV, 11, 13). A diferença entre<br />

teorema e C. é <strong>de</strong>sprezada pela lógica contemporânea.<br />

CORPO 1 (gr. 0WU.(X; lat. Corpus; in. Body, fr.<br />

Corps; ai. Koerper, it. Corpo). Objeto natural<br />

em geral, qualquer objeto possível da ciência<br />

natural. Como já notava Aristóteles (De cael, I,<br />

1, 268 a 1), tudo o que pertence à natureza é<br />

constituído por C. e gran<strong>de</strong>zas, por coisas que<br />

têm C. e gran<strong>de</strong>za ou por princípios das coisas<br />

que os têm. A <strong>de</strong>finição mais antiga e famosa<br />

<strong>de</strong> C. é a dada pelo próprio Aristóteles: "C. é o<br />

que tem extensão em qualquer direção" (Pis.,<br />

III, 5, 204 b 20); e que "é divisível em qualquer<br />

direção" (De cael, I, 1, 268 a 7). Por "qualquer<br />

direção", Aristóteles enten<strong>de</strong> altura, largura<br />

e profundida<strong>de</strong>: o C. que possui essas<br />

três dimensões é perfeito na or<strong>de</strong>m das gran<strong>de</strong>zas<br />

(Ibid., I, 1, 268 a 20).<br />

Tal <strong>de</strong>finição permaneceu constante por<br />

muitos séculos. Foi aceita pelos estóicos (DiÕG.<br />

L, VII, 1, 135), que acrescentaram a soli<strong>de</strong>z, e<br />

por Epicuro, que acrescentava a impenetrabilida<strong>de</strong><br />

(SEXTO EMPÍRICO, Pirr. hyp., III, 39 ss.).<br />

A tradição escolástica também a reproduz (p.<br />

ex., S. TOMÁS, S. Th., I, q. 18, a. 2). E Descartes<br />

só faz resumir essa tradição com sua <strong>de</strong>finição<br />

do C. como substância extensa. Diz: "A natureza<br />

da matéria ou do C. em geral não consiste<br />

em ser dura, pesada, colorida ou qualquer outra<br />

coisa que afete nossos sentidos, mas apenas<br />

em ser uma substância extensa em comprimento,<br />

largura e profundida<strong>de</strong>" (Princ.phil,<br />

II, 4). Essa <strong>de</strong>finição não tem nada <strong>de</strong> novo em<br />

relação à tradicional, assim como não têm nada<br />

<strong>de</strong> novo as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> Spinoza, que a reproduz<br />

(SPINOZA, Et., I, 15, schol.), e <strong>de</strong> Hobbes<br />

(Decorp., VIII, § 1).<br />

Só Leibniz inova o conceito <strong>de</strong> C. Ele distingue<br />

o "C. matemático", que é o espaço e contém<br />

só as três dimensões, do "C. físico", que é a<br />

matéria e contém, além <strong>de</strong> extensão, "resistência,<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encher o espaço<br />

e impenetrabilida<strong>de</strong>: <strong>de</strong>vido a esta última, um<br />

C. é forçado a ce<strong>de</strong>r ou a <strong>de</strong>ter-se quando sobrevém<br />

outro corpo" (Op., ed. Erdmann, p. 53).<br />

Por essa noção <strong>de</strong> C, Leibniz é levado a negar<br />

que o C. seja "substância": o que nele há <strong>de</strong><br />

real é apenas a capacida<strong>de</strong> (vis) <strong>de</strong> agir e <strong>de</strong><br />

sofrer uma ação (Ibid., ed. Erdmann, p. 445).<br />

Esta última <strong>de</strong>finição talvez seja a retomada <strong>de</strong><br />

uma velha <strong>de</strong>finição atribuída por Sexto Empírico<br />

a Pitágoras (Adv. math., IX, 366). Mas,<br />

com o significado que Leibniz lhe confere,<br />

abriu caminho para a elaboração do conceito<br />

científico <strong>de</strong> C. como "massa", como ocorreu<br />

na física newtoniana: por ser a relação entre<br />

força e aceleração, a massa po<strong>de</strong> ser expressa<br />

em termos <strong>de</strong> "capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir e <strong>de</strong> sofrer<br />

uma ação", segundo a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Leibniz. Seguindo<br />

essa linha <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, que vai<br />

da física <strong>de</strong> Leibniz à física clássica e <strong>de</strong>sta à física<br />

da relativida<strong>de</strong>, através da noção <strong>de</strong> massa

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