22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

IDENTIDADE DOS INDISCERNIVEIS 531 IDEOLOGIA<br />

i<strong>de</strong>al da necessida<strong>de</strong> racional (L'idêe <strong>de</strong> loi<br />

naturelle, 1895. cap. 2). Meyerson, obe<strong>de</strong>cendo<br />

a conceito análogo, reduzia a i<strong>de</strong>ntificação<br />

qualquer processo racional, ou seja, qualquer<br />

processo que consiga compreen<strong>de</strong>r ou explicar<br />

um objeto qualquer (I<strong>de</strong>ntité et realité, 1908;<br />

Lexplication dans les sciences, 1927). Por outro<br />

lado, a lógica matemática logo percebeu a<br />

inutilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse princípio para a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

um raciocínio qualquer, e Peirce podia reduzir<br />

o significado <strong>de</strong>le ao dizer que "continuamos a<br />

crer naquilo que acreditamos até hoje, na<br />

ausência <strong>de</strong> qualquer razão em contrário"<br />

(Coll. Pap., 3, 182). Na lógica contemporânea,<br />

esse princípio não existe, pelo menos na forma<br />

<strong>de</strong> "princípio". Por vezes os lógicos fazem-no<br />

coincidir com este ou aquele teorema que<br />

expresse um dos significados da cópula (v. SER,<br />

1). Outras vezes, fora <strong>de</strong> lógica, consi<strong>de</strong>ram-no<br />

um postulado semântico, <strong>de</strong> que todo símbolo<br />

<strong>de</strong>ve ter sempre o mesmo termo <strong>de</strong> referência,<br />

toda vez que ocorre no mesmo contexto (DE-<br />

WEY, Logic, XVII, § 3)- Neste sentido, obviamente,<br />

o princípio <strong>de</strong> I. não é lógico nem ontológico,<br />

e a rigor nem princípio é, mas apenas<br />

uma regra para o uso dos símbolos.<br />

IDENTIDADE DOS INDISCERNÍVEIS<br />

(lat. I<strong>de</strong>ntitas indiscernibiliuni; in. I<strong>de</strong>ntity<br />

of indiscernibles; fr. I<strong>de</strong>ntité <strong>de</strong>s índiscernables;<br />

ai. I<strong>de</strong>ntitãt <strong>de</strong>r Ununterscheidbaren; ít.<br />

I<strong>de</strong>ntità <strong>de</strong>gli indiscernibili). Princípio metafísico<br />

que exclui a existência na natureza <strong>de</strong><br />

duas coisas absolutamente iguais. Já conhecido<br />

pelos estóicos (cf. Cícero, Acad., III, 17,<br />

18) e retomado no Renascimento ("Duas coisas<br />

no universo não po<strong>de</strong>m ser absolutamente<br />

iguais"; NICOLAU DE CUSA, De docta ignor., II,<br />

11), foi <strong>de</strong>fendido e ilustrado por Leibniz, que<br />

se vangloriou <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>scoberto este princípio<br />

e o princípio <strong>de</strong> razão suficiente, como<br />

sendo os dois princípios que "mudam o estado<br />

da metafísica, tornando-a real e <strong>de</strong>monstrativa"<br />

(IV Lett. a Clarke, Op., ed. Erdmann, pp.<br />

755-56). Leibniz expressou-o dizendo simplesmente:<br />

"Não existem indivíduos indiscerníveis",<br />

ou "Pôr duas coisas indiscerníveis significa pôr<br />

a mesma coisa sob dois nomes" (Ibid., ed.<br />

Erdmann, pp. 755-56). E afirma: "Se dois indivíduos<br />

fossem perfeitamente semelhantes e<br />

iguais, enfim indistinguíveis por si mesmos,<br />

não haveria princípio <strong>de</strong> individualização e nem<br />

haveria, ouso dizer, distinção entre diferentes<br />

indivíduos" (Nouv. ess., II, 27, § 3). Para Leibniz<br />

esse é um argumento contra a existência dos áto-<br />

mos (dos átomos materiais, evi<strong>de</strong>ntemente),<br />

que seriam idênticos por <strong>de</strong>finição. Aceito e<br />

<strong>de</strong>fendido por Wolff (Cosm., §§ 246-48) e por<br />

toda a escola wolffíana, bem também — a seu<br />

modo — por Hegel (Ene, § 117), esse princípio<br />

foi rejeitado por Kant: "Em duas gotas <strong>de</strong> água<br />

é possível abstrair totalmente <strong>de</strong> qualquer diferença<br />

interna (<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>),<br />

mas basta que elas sejam intuídas simultaneamente<br />

em lugares diferentes para consi<strong>de</strong>rá-las<br />

numericamente diferentes. Leibniz confundiu<br />

fenômenos com coisas em si mesmas, portanto<br />

confundiu com intettigibilia, ou seja, objetos do<br />

intelecto puro (conquanto as <strong>de</strong>signasse com o<br />

nome <strong>de</strong> fenômenos porque as consi<strong>de</strong>rava representações<br />

confusas) e assim o seu princípio<br />

dos indiscerníveis tornava-se inatacável" (Crít.<br />

R. Pura, Analítica dos Princípios, Apêndice).<br />

Em outros termos, o princípio da I. dos indiscerníveis<br />

valeria para objetos do intelecto puro,<br />

não para fenômenos, que já são bastante individualizados<br />

por sua posição no tempo e no<br />

espaço. Na <strong>filosofia</strong> contemporânea há poucos<br />

vestígios <strong>de</strong>sse princípio. Alguns lógicos o admitem,<br />

mas interpretam-no a seu modo. Quine,<br />

p. ex., o expõe com o nome <strong>de</strong> "máxima da<br />

i<strong>de</strong>ntificação dos indiscerníveis" <strong>de</strong>sta forma:<br />

"Objetos indiscerníveis um do outro <strong>de</strong>ntro dos<br />

termos <strong>de</strong> dado discurso <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados<br />

idênticos para esse discurso" (From a Logícal<br />

PointofView, IV, 2). Outros o consi<strong>de</strong>ram in<strong>de</strong>monstrável<br />

e admitem que é logicamente possível<br />

que duas coisas tenham em comum todas<br />

as suas proprieda<strong>de</strong>s (BLACK, Problems of<br />

Analysis, 1954, I, 5).<br />

IDEOGRÂFICAS, CIÊNCIAS. V. CIÊNCIAS,<br />

CLASSIFICAÇÃO DAS.<br />

IDEOLOGIA (in. I<strong>de</strong>ology; fr. Idéologie; ai.<br />

I<strong>de</strong>ologie; it. I<strong>de</strong>ologia). Esse termo foi criado<br />

por Destut <strong>de</strong> Tracy (Idéologie, 1801) para <strong>de</strong>signar<br />

"a análise das sensações e das idéias",<br />

segundo o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Condillac. AI. constituiu<br />

a corrente filosófica que marca a transição do<br />

empirísmo íluminista para o espiritualismo<br />

tradicionalista e que floresceu na primeira<br />

meta<strong>de</strong> do séc. XIX (v. ESPIRITUALISMO). Como<br />

alguns i<strong>de</strong>ologistas franceses fossem hostis a<br />

Napoleão, este empregou o termo em sentido<br />

<strong>de</strong>preciativo, preten<strong>de</strong>ndo com isso<br />

i<strong>de</strong>ntificá-los com "sectários" ou "dogmáticos",<br />

pessoas carecedoras <strong>de</strong> senso político e, em<br />

geral, sem contato com a realida<strong>de</strong> (PICAVET,<br />

Les idéologues, Paris, 189D- Aí começa a história<br />

do significado mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong>sse termo, não

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!