22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

MICROCOSMO 670 MILAGRE<br />

do, e o M., que é o animal e por vezes o homem,<br />

é tema filosófico antigo, que nasceu da<br />

tendência a interpretar todo o universo com<br />

fundamento no universo menor, que é o homem<br />

para si mesmo. Aristóteles expunha da<br />

seguinte maneira esse principio <strong>de</strong> interpretação,<br />

a propósito da possibilida<strong>de</strong> do movimento<br />

autônomo: "Se isso é possível no animal,<br />

o que po<strong>de</strong> impedir que aconteça no<br />

mundo também? Se ocorre no M., po<strong>de</strong> acontecer<br />

também no cosmo gran<strong>de</strong>; e, se ocorre<br />

no cosmo, po<strong>de</strong> acontecer também no infinito,<br />

se é possível que o infinito se mova e esteja em<br />

repouso em sua totalida<strong>de</strong>." (Fís., VIII, 2, 252 b<br />

25). Ora, essa é a objeção que Aristóteles faz a<br />

si mesmo, refutando-a ao negar a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> movimento autônomo do universo e ao<br />

admitir, por isso, o primeiro motor. A correspondência<br />

entre M. e macrocosmo não é, pois,<br />

um princípio adotado por Aristóteles. Mas já<br />

em sua época era um princípio antigo, visto<br />

fundamentar a cosmogonia dos órficos, mais<br />

precisamente a doutrina <strong>de</strong> que o mundo nasceu<br />

<strong>de</strong> um ovo: e nasceu <strong>de</strong> um ovo porque é<br />

animal (cf. A. OLIVIF.RI, Civiltà greca nellltalia<br />

meridionale, Nápoles, 1931, pp. 23 ss.). Platão<br />

mesmo chamou o mundo <strong>de</strong> "gran<strong>de</strong> animal"<br />

(Tím., 30 b), provido <strong>de</strong> alma e inteligência,<br />

assumindo, assim, como realida<strong>de</strong> literal uma<br />

correspondência metodológica; esse foi o sentido<br />

atribuído, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le, por estóicos,<br />

neopitagóricos e. em geral, por todos os que<br />

insistiram no caráter animado do universo.<br />

A correspondência entre M. e macrocosmo<br />

foi um dos temas preferidos da literatura<br />

mágica. A magia preten<strong>de</strong> dominar o mundo<br />

natural encantando-o ou domesticando-o como<br />

se faz com um animal; seu pressuposto<br />

é exatamente <strong>de</strong> que o mundo é um animal<br />

e <strong>de</strong> que todos os seus aspectos são controláveis<br />

com procedimentos que se dirigem a eles<br />

como a ativida<strong>de</strong>s vivas. A correspondência<br />

M.-macrocosmo foi, portanto, um dos temas<br />

obrigatórios da magia renascentista. Cornélio<br />

Agripa afirmava que o homem reúne em si<br />

tudo o que está disseminado nas coisas, e que<br />

isso lhe permite conhecer a força que mantém<br />

o mundo integrado e utilizá-la para realizar ações<br />

miraculosas (De oceulta philosophía, 1, 33). Observações<br />

análogas repetem-se em todos os<br />

escritores renascentistas que admitem a magia<br />

(p. ex., CAMPANELLA, De sensu rerum, I, 10).<br />

Paracelso baseava toda a ciência médica na<br />

correspondência entre macrocosmo e M.; por<br />

isso, exigia que ela se fundamentasse em todas<br />

as ciências cjue estudam a natureza do universo,<br />

quais sejam: teologia, <strong>filosofia</strong>, astronomia<br />

e alquimia (Dephüosophia oceulta, II, p. 289).<br />

Quando a ciência <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> lado o princípio<br />

antropomórfico na interpretação da natureza,<br />

a correspondência entre M. e macrocosmo<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser um guia útil <strong>de</strong> pesquisa e<br />

passou a ter aspecto <strong>de</strong> preconceito. Lotze,<br />

que <strong>de</strong>u o título <strong>de</strong> M. à sua obra fundamental,<br />

só admite essa correspondência na forma do<br />

condicionamento que o mundo exerce sobre o<br />

homem, procurando reduzir o alcance <strong>de</strong>sse<br />

termo a limites estreitíssimos (Míkrokosmus, VI,<br />

K, 1; trad. it., II, pp. 312 ss.).<br />

MILAGRE (gr. xépaç; lat. Miraculunv, in.<br />

Miracle, fr. Miracle, ai. Wun<strong>de</strong>r ii, Miracolo).<br />

Fato excepcional ou inexplicável, consi<strong>de</strong>rado<br />

como sinal ou manifestação <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong><br />

divina. Esta era a noção <strong>de</strong> M na Antigüida<strong>de</strong><br />

clássica (p. ex., Ilíada, II, 234; Odisséia, III,<br />

173; XII, 394, etc.) e a que predominou na<br />

Ida<strong>de</strong> Média, sendo assim expressa por S. Tomás:<br />

"No M. po<strong>de</strong>m ser notadas duas coisas:<br />

uma é o que acontece, que é certamente algo<br />

que exce<strong>de</strong> a faculda<strong>de</strong> da natureza, e neste<br />

sentido os M. são chamados <strong>de</strong> potências (virtu<strong>de</strong>s);<br />

a segunda é a razão pela qual os M.<br />

acontecem, ou seja, a manifestação <strong>de</strong> algo <strong>de</strong><br />

sobrenatural; neste sentido, os M. são chamados<br />

comumente <strong>de</strong> sinais, enquanto são chamados<br />

<strong>de</strong> portentos pela sua excelência e <strong>de</strong><br />

prodígios porque mostram algo cie distante" (S.<br />

n., II, 2, q. 178, a. 1, ad 3 y ).<br />

Quando se começou a insistir na or<strong>de</strong>m necessária<br />

da natureza — como ocorreu com o<br />

averroísmo medieval, com o aristotelismo<br />

renascentista e, principalmente, com a primeira<br />

afirmação da ciência mo<strong>de</strong>rna —, o M. começou<br />

a ser consi<strong>de</strong>rado "exceção" a essa or<strong>de</strong>m,<br />

portanto negado como tal ou reduzido a<br />

acontecimento incomum, mas concor<strong>de</strong> com a<br />

or<strong>de</strong>m natural. No livro Suglí incantesimi.<br />

Pomponazzi. p. ex., negava que os M. fossem<br />

acontecimentos contrários á natureza e estranhos<br />

à or<strong>de</strong>m do mundo, admitindo-os apenas<br />

como fatos insólitos e raríssimos, que não<br />

acontencem segundo o ritmo habitual da natureza,<br />

mas a intervalos muito longas; esses fatos.<br />

porém pertencem à or<strong>de</strong>m natural, pela qual<br />

são <strong>de</strong>terminados (De incantatíonibus, 12).<br />

Spinoza, por sua vez, afirmava que, "contra a<br />

natureza ou acima da natureza, M. não passa<br />

<strong>de</strong> absurdo, e que, na Sagrada Escritura, só é

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!