22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

EVOLUÇÃO 393 EVOLUÇÃO<br />

te; 2 a teoria metafísica do <strong>de</strong>senvolvimento progressivo<br />

do universo em sua totalida<strong>de</strong>, que é<br />

uma hipótese admitida ou pressuposta por<br />

muitas doutrinas filosóficas mo<strong>de</strong>rnas e contemporâneas.<br />

Embora esses dois significados<br />

tenham interagido ao longo da história da <strong>filosofia</strong>,<br />

é oportuno mantê-los separados. (Para o<br />

segundo v. EVOLUCIONISMO.)<br />

O termo E. foi introduzido provavelmente<br />

por Spencer no seu ensaio sobre o Progresso,<br />

<strong>de</strong> 1857, mas essa palavra, assim como o conceito,<br />

não teriam gozado <strong>de</strong> tanto sucesso sem<br />

o êxito do transformismo biológico, que teve<br />

início com Origem das espécies, <strong>de</strong> Charles<br />

Darwin (1859). A obra <strong>de</strong> Darwin era, <strong>de</strong> um<br />

certo ponto <strong>de</strong> vista, mais uma conclusão que<br />

um princípio (o que é <strong>de</strong>monstrado pelo êxito<br />

sem prece<strong>de</strong>nte): conclusão <strong>de</strong> um longo trabalho<br />

<strong>de</strong> pesquisas e <strong>de</strong> várias tentativas <strong>de</strong> generalização.<br />

A doutrina tradicional da imutabilida<strong>de</strong><br />

(ou fixi<strong>de</strong>z) das espécies vivas fora<br />

reflexo, no domínio biológico, da doutrina da<br />

substância (v.), ou seja, da necessida<strong>de</strong> da<br />

estrutura ontológica do mundo, que prevalecera<br />

graças a Aristóteles na <strong>filosofia</strong> e na ciência<br />

antiga e medieval; isso explica por que a<br />

hipótese <strong>de</strong> transformação das espécies apresentada<br />

por Anaximandro (Ps. PLUT., Strom., 2)<br />

e por Empédocles (Fr. 56-61, Diels), ainda que<br />

<strong>de</strong> forma fantástica, não <strong>de</strong>ixou vestígios. Segundo<br />

a metafísica aristotélica, todas as formas<br />

substanciais são imutáveis porque necessárias;<br />

isso significa que não po<strong>de</strong>m ser criadas nem<br />

<strong>de</strong>struídas. Como formas substanciais, as espécies<br />

vivas compartilham <strong>de</strong> tais características.<br />

Esse princípio aristotélico, cuja única exceção é<br />

a criação <strong>de</strong> Deus, durante muitos séculos constituiu<br />

o arcabouço da pesquisa filosófica e<br />

científica. Foi só a partir do início do séc. XVIII<br />

que alguns naturalistas começaram a consi<strong>de</strong>rar<br />

a possibilida<strong>de</strong> da transformação das espécies<br />

biológicas. Buffon admitia essa hipótese,<br />

mas <strong>de</strong>clarava-se explicitamente partidário da<br />

fixi<strong>de</strong>z das espécies (Histoire naturelle, 1749-<br />

1804). É provável que Kant se tenha inspirado<br />

nele quando, em 1790, levantou a hipótese <strong>de</strong><br />

"parentesco real" entre as formas vivas, que<br />

proviriam <strong>de</strong> uma "mãe comum", e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

contínuo da natureza <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a nebulosa<br />

primitiva até os homens (Crít. do Juízo,<br />

§ 80). Mas essas eram apenas intuições genéricas,<br />

não confirmadas por nenhum sistema<br />

coor<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> observações. O primeiro a apresentar<br />

cientificamente a doutrina do trans-<br />

formismo biológico foi Jean-Baptiste Lamarck,<br />

em Philosophie zoologique (1809), para quem<br />

todavia a E. dos organismos <strong>de</strong>via-se às diferenças<br />

neles produzidas pelo maior ou menor<br />

uso dos órgãos, e que <strong>de</strong>pois teriam sido fixadas<br />

pela hereditarieda<strong>de</strong>. Sabe-se hoje que as<br />

mudanças nascidas dos hábitos não po<strong>de</strong>m ser<br />

herdadas; portanto, o mérito <strong>de</strong> Lamarck não é<br />

o <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>scoberto o princípio da E., mas o <strong>de</strong><br />

ter insistido na doutrina geral e em alguns<br />

aspectos importantes <strong>de</strong>la, como o da adaptação<br />

ao ambiente. Foi só com Origem das espécies<br />

(1859), <strong>de</strong> Charles Darwin, que se iniciou<br />

a mo<strong>de</strong>rna teoria da E. biológica. A teoria <strong>de</strong><br />

Darwin admite duas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> fatos: l ã existência<br />

<strong>de</strong> pequenas variações orgânicas que se<br />

verificam nos seres vivos em intervalos irregulares<br />

<strong>de</strong> tempo e que, pela lei da probabilida<strong>de</strong>,<br />

po<strong>de</strong>m ser vantajosas para os indivíduos que as<br />

apresentam; 2- luta pela vida entre os indivíduos<br />

vivos, que se <strong>de</strong>ve à tendência <strong>de</strong> cada<br />

espécie a multiplicar-se segundo uma progressão<br />

geométrica. Este último pressuposto foi<br />

sugerido a Darwin pela doutrina <strong>de</strong> Malthus<br />

(Essay on Population, 1798). Dessas duas or<strong>de</strong>ns<br />

<strong>de</strong> fatos resulta que õs indivíduos nos<br />

quais se manifestem mudanças orgânicas vantajosas<br />

têm maiores probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobreviver<br />

na luta pela vida, e, em virtu<strong>de</strong> do princípio<br />

<strong>de</strong> hereditarieda<strong>de</strong>, haverá neles acentuada<br />

tendência a <strong>de</strong>ixar os caracteres aci<strong>de</strong>ntais<br />

como herança aos seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Essa é a<br />

lei da seleção natural, que Darwin consi<strong>de</strong>rou<br />

o esteio da doutrina da E. (Or. das espécies,<br />

IV, 18).<br />

Enquanto a doutrina <strong>de</strong> Darwin sofria, por<br />

um lado, os ataques dos partidários da velha<br />

metafísica e, por outro, era estendida e generalizada<br />

como teoria da E. cósmica, eram apresentadas<br />

novas hipóteses, em conflito com o<br />

princípio da seleção natural, que procuravam<br />

esclarecer como ocorreria a E. Por um lado, os<br />

neolamarckianos (entre os quais, especialmente,<br />

o francês Giard [1846-1908] e o americano<br />

Cope [1840-97]) insistiam na relação do organismo<br />

com o ambiente, atribuindo a essa relação<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir as novida<strong>de</strong>s orgânicas<br />

que <strong>de</strong>pois seriam transmitidas por<br />

herança. Por outro lado, os neodarwinianos,<br />

que se agruparam especialmente em torno do<br />

biólogo alemão Weissmann (1834-1914), insistiam<br />

na importância da seleção natural como<br />

único princípio da evolução. Ambas essas correntes,<br />

no esforço <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar suas próprias

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!