22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ÉTICA 386 ÉTICA<br />

duta, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> pressupostos metafísicos.<br />

Nesse ínterim, em clima positivista, a É. do<br />

móvel tinha a pretensão <strong>de</strong> valer como ciência<br />

exata da conduta. Helvétius dizia: "Acredito<br />

que se <strong>de</strong>ve tratar a moral como todas as outras<br />

ciências e fazer uma moral como se faz uma física<br />

experimental" {De Vesprit, 1758, 1, p. 4).<br />

Mas essa pretensão caracteriza sobretudo o<br />

utilitarismo do séc. XIX, encabeçado por Bentham.<br />

Segundo ele, os únicos fatos <strong>de</strong> que se<br />

po<strong>de</strong> partir no domínio moral são os prazeres e<br />

as dores. A conduta do homem é <strong>de</strong>terminada<br />

pela expectativa <strong>de</strong> prazer ou <strong>de</strong> dor, e esse é o<br />

único motivo possível <strong>de</strong> ação. Com estes fundamentos<br />

a ciência da moral torna-se tão exata<br />

quanto a matemática, embora seja muito mais<br />

intricada e ampla (Jntroduction to the Principies<br />

of Morais and Legíslation, 1789, em Works,<br />

I, p. V). Desse ponto <strong>de</strong> vista, consciência, sentido<br />

moral, obrigação moral, são conceitos fictícios<br />

ou "não-entida<strong>de</strong>s". A realida<strong>de</strong> que tais<br />

conceitos ocultam é o calculo dos prazeres e<br />

das dores em que repousa o comportamento<br />

moral do homem, cálculo cujos princípios<br />

Bentham quis estabelecer fornecendo a tábua<br />

completa dos móveis <strong>de</strong> ação, que <strong>de</strong>veria servir<br />

<strong>de</strong> guia para as legislações futuras. Na realida<strong>de</strong>,<br />

a obra <strong>de</strong> Bentham inspirou a ação<br />

reformadora do liberalismo inglês e ainda hoje<br />

seus princípios estão incorporados na doutrina<br />

do liberalismo político. O utilitarismo <strong>de</strong> James<br />

Mill e <strong>de</strong> John Stuart Mill não passa <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

e ilustração das teses fundamentais <strong>de</strong> Bentham.<br />

O positivismo inspirou-se no mesmo ponto <strong>de</strong><br />

vista: a realização da moral do altruísmo, cujo<br />

arauto é Comte e cujo princípio é: "viver para<br />

os outros", também fica por conta <strong>de</strong> instintos<br />

simpáticos que, segundo Comte, po<strong>de</strong>m ser<br />

gradualmente <strong>de</strong>senvolvidos pela educação,<br />

até que dominem os instintos egoístas (Catéchismepositíviste,<br />

1852, p. 48). A É. biológica<br />

<strong>de</strong> Spencer adota essas teses. Spencer vê na<br />

moral a adaptação progressiva do homem às<br />

suas condições <strong>de</strong> vida. O que o indivíduo enxerga<br />

como <strong>de</strong>ver ou obrigação moral é resultado<br />

<strong>de</strong> experiências repetidas e acumuladas<br />

através <strong>de</strong> inúmeras gerações: é o ensinamento<br />

que essas experiências propiciaram ao homem<br />

em sua tentativa <strong>de</strong> adaptar-se cada vez mais às<br />

suas condições vitais. Spencer prevê ainda uma<br />

fase em que as ações mais elevadas, necessárias<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento harmônico da vida,<br />

serão tão comuns quanto hoje o são as ações<br />

inferiores a que somos impelidos pelo <strong>de</strong>sejo;<br />

nessa fase, portanto, a antítese entre egoísmo<br />

e altruísmo não terá mais sentido {Data ofEthics,<br />

§ 46). Po<strong>de</strong>-se dizer que a É. do evolucionismo<br />

não passa da expressão, em termos <strong>de</strong> otimismo<br />

positivista, da É. fundada no princípio da<br />

autoconservação que Telésio e Hobbes reintroduziram<br />

no mundo mo<strong>de</strong>rno.<br />

Na <strong>filosofia</strong> contemporânea, essa concepção<br />

<strong>de</strong> É. não sofreu mudanças nem apresentou<br />

progressos substanciais. Bertrand Russell limitou-se<br />

a repropô-la na forma mais simples e<br />

grosseira, afirmando que "a É. não contém afirmações<br />

verda<strong>de</strong>iras ou falsas, mas consiste em<br />

<strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> certa espécie geral" (Religion and<br />

Science, 1936). Dizer que alguma coisa é um<br />

bem ou um valor positivo é outro modo <strong>de</strong> dizer<br />

"agrada-me" e dizer que algo é mau significa<br />

exprimir igualmente uma atitu<strong>de</strong> pessoal e<br />

subjetiva. Contudo, Russell acha que é possível<br />

influir nos próprios <strong>de</strong>sejos, reforçando<br />

alguns e reprimindo ou <strong>de</strong>struindo outros. E<br />

julga também que isso <strong>de</strong>ve ser feito por<br />

quem almejar a felicida<strong>de</strong> ou o equilíbrio da<br />

vida. Mas está claro que essa posição é contraditória:<br />

se a É. nada tem a ver com <strong>de</strong>sejos, faltam<br />

motivos ou critérios para que um <strong>de</strong>les<br />

prevaleça sobre os outros. Na E. <strong>de</strong> Russell,<br />

per<strong>de</strong>u-se um dos aspectos fundamentais da<br />

É. inglesa tradicional: a exigência do cálculo<br />

<strong>de</strong> tipo benthamiano, ou seja, da disciplina na<br />

escolha dos <strong>de</strong>sejos, ou melhor, das alternativas<br />

possíveis <strong>de</strong> conduta. No entanto, foi justamente<br />

a esse ponto <strong>de</strong> vista tão mutilado que<br />

se filiou a concepção <strong>de</strong> É. predominante no<br />

positivismo lógico, segundo a qual os juízos<br />

éticos expressam tão-somente "os sentimentos<br />

<strong>de</strong> quem fala, sendo portanto impossível encontrar<br />

um critério para <strong>de</strong>terminar a sua valida<strong>de</strong>"<br />

(AYER, Language, Truth and Logic, p.<br />

108; cf. STEVENSON, Ethics and Language, p.<br />

20). O que, obviamente, é o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong><br />

Russell, para quem a É. trata <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos e não<br />

<strong>de</strong> asserções verda<strong>de</strong>iras ou falsas; é um ponto<br />

<strong>de</strong> vista que marca a renúncia à compreensão<br />

dos fenômenos morais, e não um avanço em<br />

sua compreensão. Mostra-se mais frutífero o<br />

ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Dewey, cuja É. se vincula à<br />

noção <strong>de</strong> valor. Dewey tem em comum com<br />

boa parte da <strong>filosofia</strong> do valor(y.) a crença <strong>de</strong><br />

que os valores são não só objetivos, mas também<br />

simples e, portanto, in<strong>de</strong>finíveis, mas não<br />

a crença <strong>de</strong> que eles são absolutos ou necessários.<br />

Para Dewey, os valores são qualida<strong>de</strong>s

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!