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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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MORTE 684 MORTE<br />

cie impessoal da vida, como faz Schopenhauer,<br />

para ele a M. é comparável ao pôr-do-sol, que<br />

representa, ao mesmo tempo, o nascer do sol<br />

em outro lugar (Díe Weil, I, § 65).<br />

b) O conceito <strong>de</strong> M. como fim do ciclo <strong>de</strong><br />

vida foi expresso <strong>de</strong> várias formas pelos filósofos.<br />

Marco Aurélio consi<strong>de</strong>rava-a como repouso<br />

ou cessação das preocupações da vida:<br />

conceito que ocorre freqüentemente nas consi<strong>de</strong>rações<br />

da sabedoria popular em torno da<br />

M. Marco Aurélio dizia: "Na M. está o repouso<br />

dos contragolpes dos sentidos, dos movimentos<br />

impulsivos que nos arrastam para cá e para<br />

lá como marionetas, das divagações <strong>de</strong> nossos<br />

raciocínios, dos cuidados que <strong>de</strong>vemos ter para<br />

com o corpo" (Recordações, VI, 28). Leibniz<br />

concebia o fim do ciclo vital como climinuiçào<br />

ou involuçào da vida: "Não se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong><br />

geração total ou <strong>de</strong> morte perfeita, entendida<br />

rigorosamente como separação da alma. O que<br />

nós chamamos <strong>de</strong> geração sem <strong>de</strong>senvolvimentos<br />

e acréscimos, e o que chamamos <strong>de</strong> M. são<br />

involuções e diminuições" (Monacl, § 73). Em<br />

outros termos, com a M. a vida diminui e <strong>de</strong>sce<br />

para um nível inferior ao da apercepçào ou<br />

consciência, para uma espécie <strong>de</strong> "aturdimento",<br />

mas não cessa (Príncipes <strong>de</strong> Ia nature et <strong>de</strong><br />

Ia grâce. 1714, § 4). Por sua vez, Hegel consi<strong>de</strong>ra<br />

a M. como o fim do ciclo da existência<br />

individual ou finita, pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar-se<br />

ao universal: "A ina<strong>de</strong>quação do animal<br />

à universalida<strong>de</strong> é sua doença original e<br />

germe inato da M. A negação <strong>de</strong>sta ina<strong>de</strong>quação<br />

é o cumprimento <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>stino" (Ene, § 375).<br />

Finalmente, o conceito bíblico <strong>de</strong> M. como pena<br />

do pecado original (Cen., II, 17; Rom., V, 12) é.<br />

ao mesmo tempo, conceito <strong>de</strong>la como conclusão<br />

do ciclo da vida humana perfeita em Adão<br />

e o conceito <strong>de</strong> limitação fundamental imposta<br />

á vida humana a partir do pecado <strong>de</strong> Adão. S.<br />

Tomás diz a respeito: "A M., a doença e qualquer<br />

<strong>de</strong>feito físico <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> um <strong>de</strong>feito na<br />

sujeição do corpo à alma. E assim como a rebelião<br />

do apetite carnal contra o espírito é a pena<br />

pelo pecado dos primeiros pais, também o são<br />

a M. e todos os outros <strong>de</strong>feitos físicos" (S. lh.,<br />

II, 2, q. 164, a. 1). Porém este segundo aspecto,<br />

típico da teologia cristã, pertence propriamente<br />

ao conceito <strong>de</strong> M. como possibilida<strong>de</strong><br />

existencial.<br />

c) O conceito <strong>de</strong> M. como possibilida<strong>de</strong><br />

existencial implica que a M. não é um acontecimento<br />

particular, situável no início ou no término<br />

<strong>de</strong> um ciclo <strong>de</strong> vida do homem, mas uma<br />

possibilida<strong>de</strong> sempre presente na vicia humana,<br />

capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar as características fundamentais<br />

<strong>de</strong>sta. Na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna, a chamada<br />

<strong>filosofia</strong> da vida, especialmente com<br />

Dilthey, levou á consi<strong>de</strong>ração da M. nesse sentido:<br />

'A relação que caracteriza <strong>de</strong> modo mais<br />

profundo e geral o sentido <strong>de</strong> nosso ser é a relação<br />

entre vida e M. porque a limitação da<br />

nossa existência pela M. é <strong>de</strong>cisiva para a compreensão<br />

e a avaliação da vida" (Das Hrlebnis<br />

unddíe Dichtung, 5 a ed., 1905, p. 230). A idéia<br />

importante aqui expressa por Dilthey é que a<br />

M. constitui "uma limitação da existência", não<br />

enquanto término <strong>de</strong>la, mas enquanto condição<br />

que acompanha todos os seus momentos.<br />

Essa concepção, que, <strong>de</strong> algum modo, reproduz<br />

no plano filosófico a concepção <strong>de</strong> M.<br />

da teologia cristã, foi expressa por Jasper.s<br />

com o conceito da situação-limite como "situação<br />

<strong>de</strong>cisiva, essencial, que está ligada à<br />

natureza humana enquanto tal e é inevitavelmente<br />

dada com o ser finito" (Psychologie <strong>de</strong>r<br />

Weltanschaunngen, 1925, III, 2; trad. it., p. 266;<br />

cf. Phil, II, pp. 220 ss.). Referindo-se a esses<br />

prece<strong>de</strong>ntes, Hei<strong>de</strong>gger consi<strong>de</strong>rou a M. como<br />

possibilida<strong>de</strong> existencial: "A M., como fim do<br />

ser-aí (Daseiri), é a sua possibilida<strong>de</strong> mais própria,<br />

incondicionada, certa e, como tal, in<strong>de</strong>terminada<br />

e insuperável" (Sein midZeít, § 52).<br />

Sob este ponto <strong>de</strong> vista, <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>, "a M.<br />

nada oferece a realizar ao homem e nada que<br />

possa ser como realida<strong>de</strong> atual. Ela é a possibilida<strong>de</strong><br />

da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda relação, <strong>de</strong><br />

todo existir" (Ibid., § 53). E já que a M. po<strong>de</strong> ser<br />

compreendida só como possibilida<strong>de</strong>, sua compreensão<br />

não é esperá-la nem fugir <strong>de</strong>la, "não<br />

pensar nela", mas a sua antecipação emocional,<br />

a angústia (v.). A expressão usada por<br />

Hei<strong>de</strong>gger ao <strong>de</strong>finir a M. como "possibilida<strong>de</strong><br />

da impossibilida<strong>de</strong>" po<strong>de</strong> com razão parecer<br />

contraditória. Foi sugerida a Hei<strong>de</strong>gger por sua<br />

doutrina da impossibilida<strong>de</strong> radical da existência:<br />

a M. é a ameaça que tal impossibilida<strong>de</strong> faz<br />

pairar sobre a existência. A prescindir <strong>de</strong>ssa interpretação<br />

da existência em termos <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><br />

negativa, po<strong>de</strong>-se dizer que a M é "a<br />

nulida<strong>de</strong> possível das possibilida<strong>de</strong>s do homem<br />

e <strong>de</strong> toda a forma do homem" (ABBAG-<br />

NANO, Struttura <strong>de</strong>lVesistenza, 1939, § 98; cf.<br />

Possibilita e liberta, 1956, pp. 14 ss.). Já que<br />

toda possibilida<strong>de</strong>, como possibilida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong><br />

não ser, a M. é a nulida<strong>de</strong> possível <strong>de</strong> cada uma<br />

e <strong>de</strong> todas as possibilida<strong>de</strong>s existenciais; nesse<br />

sentido, Merleau-Ponty diz que o sentido da M.

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