22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CERTEZA 132 CESARISMO<br />

ção entre a "C. da verda<strong>de</strong>", que existe quando<br />

as palavras são unidas <strong>de</strong> tal modo que representem<br />

exatamente a concordância ou a discordância<br />

das idéias que exprimem, e a "C. do conhecimento",<br />

que consiste em procurar essa<br />

concordância ou discordância na proposição<br />

que a exprime (Ensaio, IV, 6, 3 )• Aqui, como<br />

elemento da verda<strong>de</strong>, inclui-se a relação com a<br />

expressão lingüística, mas a C. é i<strong>de</strong>ntificada<br />

com a verda<strong>de</strong>. "Chamamos <strong>de</strong> conhecer", diz<br />

Locke "o estar certo da verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma proposição"<br />

(ibid., IV, 6, 3). Esses reparos foram<br />

aceitos por Leibniz (Nouv. ess., IV, 3), que, no<br />

entanto, ainda distinguia da "C. absoluta", que<br />

provavelmente compreen<strong>de</strong> as duas espécies<br />

<strong>de</strong> C. reconhecidas por Locke, a C. moral, à<br />

qual se po<strong>de</strong> chegar pelas provas da verda<strong>de</strong><br />

da religião (Théod., Discours, § 5). Contra a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre verda<strong>de</strong>iro e certo, estabelecida<br />

por Descartes (que Spinoza ratificava<br />

com o seu teorema "quem tem uma idéia verda<strong>de</strong>ira<br />

sabe pelo mesmo <strong>de</strong> tê-la" (Et., II,<br />

43), e analogamente à distinção feita por<br />

Leibniz entre C. absoluta e C. moral, ergue-se<br />

a doutrina <strong>de</strong> Viço, que faz a distinção entre o<br />

verda<strong>de</strong>iro, i<strong>de</strong>ntificado com o fato (porquanto<br />

se po<strong>de</strong> conhecer <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> só o que se faz<br />

e cuja causa, portanto, se conhece), e o certo,<br />

fundado na tradição e na autorida<strong>de</strong> e que, não<br />

sendo susceptível <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração necessária,<br />

está no nível do provável. "Os homens que não<br />

sabem a verda<strong>de</strong> das coisas esforçam-se por<br />

ater-se ao certo, porque, se não po<strong>de</strong>m satisfazer<br />

o intelecto com a ciência, pelo menos<br />

que a vonta<strong>de</strong> repouse na consciência." (Scienza<br />

nuova, 1744, dign. 9). Segundo Viço, a <strong>filosofia</strong><br />

não po<strong>de</strong> fundar-se, como preten<strong>de</strong>m os<br />

cartesianos, tão-somente no verda<strong>de</strong>iro, mas<br />

também <strong>de</strong>ve utilizar o certo, que é constituído<br />

pelo conjunto dos conhecimentos fornecidos<br />

por aqueles que Viço chama <strong>de</strong> "filólogos", isto<br />

é, historiadores, críticos e gramáticos que se<br />

ocuparam dos costumes, das leis e das línguas<br />

dos povos (Ibid., dig. 10). Mas, em geral, a<br />

i<strong>de</strong>ntificação entre C. e verda<strong>de</strong> firmou-se na<br />

<strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna. Kant chamou <strong>de</strong> C. a crença<br />

objetivamente suficiente, isto é, suficientemente<br />

garantida como verda<strong>de</strong>ira (Crít. R. Pura,<br />

Canôn da razão pura, seç. 3). Distinguiu, além<br />

disso, a C. empírica, que po<strong>de</strong> ser originária,<br />

isto é, vinculada à própria experiência histórica,<br />

ou <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> uma experiência alheia; e a<br />

C. racional, que se distingue da empírica pela<br />

"consciência da necessida<strong>de</strong>" e, portanto, po<strong>de</strong><br />

ser chamada <strong>de</strong> apodítica (Logik, Intr., § IX) . O<br />

próprio Hegel aceitou a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> C. e<br />

conhecimento e ilustrou os dois aspectos, subjetivo<br />

e objetivo, da C. sensível da seguinte<br />

maneira: "Na C. sensível, um momento é posto<br />

como aquilo que, simples e imediatamente, é,<br />

assim como a essência: esse é o objeto. O outro<br />

momento é posto como o inessencial e mediato,<br />

que não é em si, mas mediante outra coisa:<br />

esse é o eu, um saber que sabe o objeto só<br />

porque o objeto é um saber que po<strong>de</strong> ser ou<br />

também não ser" (Phünomen. <strong>de</strong>s Geistes, I, A,<br />

I). Analogamente, os dois significados foram<br />

distinguidos e aceitos por Husserl, que consi<strong>de</strong>rou<br />

o fenômeno da C. como originário,<br />

vinculado à própria atitu<strong>de</strong> da crença, e por<br />

isso chamou-o Urdoxa ou Urglaube (I<strong>de</strong>en, I,<br />

§ 104). A exemplo <strong>de</strong> Leibniz, falou-se também<br />

em "C. moral" (OLLE-LAPRUNE, La certitu<strong>de</strong> momle,<br />

1880), para indicar uma C. não garantida<br />

por um critério objetivo ou racional, como é a<br />

C. da fé: mas a i<strong>de</strong>ntificação estabelecida pela<br />

<strong>filosofia</strong> cartesiana entre C. e verda<strong>de</strong> não foi<br />

mais abandonada. Hei<strong>de</strong>gger reafirmou-a dizendo:<br />

"A C. se funda na verda<strong>de</strong>, ou seja,<br />

pertencendo-lhe cooriginariamente". E distinguiu<br />

os dois significados que correspon<strong>de</strong>m ao<br />

significado e ao objetivo <strong>de</strong> C: "o estar certo<br />

como modo <strong>de</strong> ser do ser-aí" (isto é, do homem)<br />

e a C. do "ente do qual ser-aí está<br />

certo", que é <strong>de</strong>rivada da primeira (Sein und<br />

Zeit, § 52).<br />

CESARE. Palavra mnemônica usada pelos<br />

escolásticos para indicar o primeiro dos quatro<br />

modos do silogismo <strong>de</strong> segunda figura, mais<br />

precisamente o que consiste em uma premissa<br />

universal negativa, uma premissa universal afirmativa<br />

e uma conclusão universal negativa,<br />

como no exemplo: "Nenhuma pedra é animal;<br />

todo homem é animal: logo, nenhum homem é<br />

pedra" (PEDRO HISPANO, Summ. log., 4.11).<br />

CESARISMO ( ai. Cãsarismus). Spengler <strong>de</strong>u<br />

esse nome à "espécie <strong>de</strong> governo que, apesar<br />

<strong>de</strong> todas as formas <strong>de</strong> direito público, ainda<br />

está totalmente <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> forma na sua<br />

natureza interna. Isso se verifica no fim <strong>de</strong> certos<br />

períodos, quando as instituições políticas<br />

fundamentais estão mortas, ainda que minuciosamente<br />

conservadas nas suas aparências: nesses<br />

períodos, nada tem significado, exceto o<br />

po<strong>de</strong>r pessoal exercido pelo César. É o retorno<br />

<strong>de</strong> um mundo, que atingiu a sua forma, ao primitivo,<br />

ao que é cosmicamente a-histórico"<br />

(Der Untergang <strong>de</strong>s Abendlan<strong>de</strong>s, II, 4, 2, § 14).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!