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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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LEI 602 LEI<br />

inclusive para as coisas que escapam ao <strong>de</strong>stino,<br />

uma lei que dimana diretamente do Intelecto<br />

Divino (Enn., IV, 3, 15). A subjetivaçâo das<br />

L. da natureza, realizada por Kant na tentativa<br />

<strong>de</strong> ver a "fonte" <strong>de</strong>las no intelecto, mais precisamente<br />

nas formas a priori do intelecto (categorias),<br />

nào muda muito o conceito <strong>de</strong> L. natural<br />

que, também ele, continua sendo expressão<br />

da racionalida<strong>de</strong> da natureza, ainda que <strong>de</strong><br />

uma racionalida<strong>de</strong> introduzida na natureza (como<br />

fenômeno) pelo próprio intelecto. Kant diz:<br />

"As L. naturais, se consi<strong>de</strong>radas como princípios<br />

do uso empírico do intelecto, possuem ao<br />

mesmo tempo cunho <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> e, portanto,<br />

pelo menos a presunção <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminação<br />

que <strong>de</strong>rive <strong>de</strong> princípios válidos em si, a<br />

priori e anteriormente a qualquer experiência.<br />

Todas as L. da natureza, sem distinção, estão<br />

sujeitas aos princípios superiores do intelecto e<br />

aplicam tais princípios a casos particulares do<br />

fenômeno. Só esses princípios dão o conceito<br />

que contém a condição e, por assim dizer, o<br />

expoente <strong>de</strong> urna regra geral, mas a experiência<br />

dá o caso que está submetido à regra"<br />

(Crít. R. Pura, Anal. dos princ, cap. II, sec. 3).<br />

Schelling interpretava a formulação das L. naturais<br />

como a transfiguração progressiva da natureza<br />

em racionalida<strong>de</strong>: "A ciência da natureza<br />

chegaria ao auge da perfeição se conseguisse<br />

espiritualizar perfeitamente tocias as L. naturais<br />

em L. da intuição e do pensamento. Os fenômenos<br />

(o material) <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>saparecer inteiramente,<br />

ficando apenas as L. (o formal). Assim,<br />

acontece que, quanto mais a L extrapola o<br />

campq da natureza, tanto mais se dissipa o véu<br />

que a envolve, os fenômenos tornam-se mais<br />

espirituais e por fim <strong>de</strong>saparecem totalmente.<br />

Os fenômenos ópticos nada mais são que uma<br />

geometria cujas linhas são traçadas por meio da<br />

luz, e mesmo essa luz já tem materialida<strong>de</strong> duvidosa"<br />

(System <strong>de</strong>s transzen<strong>de</strong>ntalen I<strong>de</strong>alismus,<br />

1800, Intr. § 1, trad. it., pp. 8-9). Po<strong>de</strong>-se<br />

dizer que toda interpretação racionalista da<br />

ciência adota até certo ponto essa tese <strong>de</strong><br />

Schelling. Desse ponto <strong>de</strong> vista, a L. é apenas<br />

expressão da racionalida<strong>de</strong> da natureza, e sua<br />

formulação por parte da ciência tem o objetivo<br />

<strong>de</strong> reduzir a natureza à razão.<br />

2 e A concepção <strong>de</strong> L. natural como relação<br />

constante entre os fenômenos foi proposta pela<br />

primeira vez por Hume. Para ele, a L. natural é<br />

resultado <strong>de</strong> "uma experiência fixa e inalterável"<br />

(Inq. Cone. Un<strong>de</strong>rst., X, 1): a experiência da<br />

"conjunção constante <strong>de</strong> objetos semelhantes",<br />

à qual se reduz a relação causai. A conexão habitual<br />

e constante entre eventos diversos autoriza<br />

a falar <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>, permite a previsão<br />

<strong>de</strong> eventos futuros e exclui o milagre (Ibid.,<br />

VII, 2). Essa concepção era adotada por Comte<br />

e, com ele, pela ciência positivista. "O caráter<br />

fundamental da <strong>filosofia</strong> positiva" — dizia<br />

Comte — "é consi<strong>de</strong>rar todos os fenômenos<br />

como sujeitos a L. naturais invariáveis, cuja <strong>de</strong>scoberta<br />

precisa e cuja redução ao mínimo número<br />

possível constituem o objetivo <strong>de</strong> todos<br />

os nossos esforços." Essas L. não consistem em<br />

expor "as causas geradoras dos fenômenos",<br />

mas só expressam aquilo que interliga os fenômenos<br />

mediante "relações normais <strong>de</strong> sucessão<br />

e <strong>de</strong> semelhança" (Cours <strong>de</strong>phü.positive, I, liç.<br />

I, § II). Do mesmo ponto <strong>de</strong> vista Stuart Mill<br />

consi<strong>de</strong>rava as L. como casos especiais da uniformida<strong>de</strong><br />

da natureza. "As várias uniformida<strong>de</strong>s,<br />

quando verificadas por aquilo que se consi<strong>de</strong>ra<br />

uma indução suficiente, são <strong>de</strong>nominadas,<br />

na linguagem comum, L. da natureza.<br />

Cientificamente falando, essa expressão é empregada<br />

em sentido mais restrito para <strong>de</strong>signar<br />

as uniformida<strong>de</strong>s que foram reduzidas à sua<br />

expressão mais simples" (Logic, III, 4, § 1). Essa<br />

concepção dominou todo o positivismo clássico<br />

e só entrou em crise com o reconhecimento<br />

do caráter econômico das L. naturais, efetuado<br />

por Mach.<br />

3 B O conceito <strong>de</strong> L. natural como convenção<br />

nasce da função econômica que Mach atribuíra<br />

ao conhecimento científico, ao afirmar o caráter<br />

subjetivo das L. naturais. Só os nossos conceitos<br />

e a nossa intuição — diz ele — prescrevem<br />

L. à natureza; "as L. naturais são as restrições<br />

que nós, guiados pela experiência, prescrevemos<br />

à nossa expectativa dos fenômenos"<br />

(Erkenntniss und Irrtum, cap. 23; trad. fr., p,<br />

368). O progresso da ciência leva à crescente<br />

restrição das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> previsão, ou<br />

seja, à sua crescente <strong>de</strong>terminação e precisão.<br />

Esse reconhecimento do caráter econômico ou<br />

utilitário da ciência foi sobejamente encorajado<br />

pela <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> Bergson e pelo pragmatismo.<br />

A primeira, atribuindo à inteligência apenas a<br />

função vital <strong>de</strong> fabricar objetos e <strong>de</strong> orientar-se<br />

no mundo natural, transformava a ciência, que<br />

é a criação da inteligência, em "auxiliar da<br />

ação" (BERGSON, La penseé et le mouvant, 3 a<br />

ed., 1934, p. 158) e não podia atribuir às L.<br />

científicas qualquer valida<strong>de</strong> teorética. O pragmatismo,<br />

por sua vez, generalizando a tese da<br />

instrumentalida<strong>de</strong> da consciência encorajava a

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