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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CORPO 2<br />

a noção <strong>de</strong> C. conduz à <strong>de</strong> campo (v.). Para a<br />

física contemporânea, um C. é somente "certa<br />

intensida<strong>de</strong> do campo" (EINSTEN-INFELD, The<br />

Evolution ofPhysics, III; trad. it., p. 253).<br />

A <strong>filosofia</strong>, porém, não seguiu <strong>de</strong> perto essa<br />

evolução sofrida pela noção <strong>de</strong> C. no domínio<br />

da física. No mundo mo<strong>de</strong>rno e contemporâneo,<br />

ela nos oferece as seguintes alternativas:<br />

I a A alternativa i<strong>de</strong>alista, para a qual os C. são<br />

"representações", "percepções", "idéias", ou<br />

complexos <strong>de</strong> tais coisas. Essa alternativa,<br />

introduzida por Berkeley e aceita por Hume,<br />

foi a mais difundida na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna e<br />

domina até hoje a <strong>filosofia</strong> contemporânea. Por<br />

maior que seja sua importância nessas <strong>filosofia</strong>s,<br />

essa alternativa não é importante do ponto<br />

<strong>de</strong> vista da própria noção <strong>de</strong> C, por implicar,<br />

simplesmente, a inexistência dos C, eliminando<br />

assim o problema. 2 a A alternativa que consiste<br />

em consi<strong>de</strong>rar os C. como utensílios, instrumentos<br />

ou meios que o homem utiliza no<br />

mundo, caracterizando-os, assim, em termos<br />

<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação e <strong>de</strong> reação que oferecem<br />

ao homem. Essa alternativa é própria da<br />

<strong>filosofia</strong> contemporânea, na qual foi introduzida<br />

pelo existencialismo e pelo instrumentalismo<br />

americano. Com esse significado, porém,<br />

a noção <strong>de</strong> C. i<strong>de</strong>ntifica-se com a <strong>de</strong> coisa,<br />

sendo mais comumente <strong>de</strong>signada com esse<br />

termo. V. COISA.<br />

CORPO 2 (gr. owu.a; lat. Corpus; in. Body, fr.<br />

Corps, ai. Leib, it. Corpo). A concepção mais antiga<br />

e difundida <strong>de</strong> C. é a que o consi<strong>de</strong>ra o<br />

instrumento da alma. Ora, todo instrumento<br />

po<strong>de</strong> receber apreço pela função que exerce,<br />

sendo por isso elogiado ou exaltado, ou então<br />

po<strong>de</strong> ser criticado por não correspon<strong>de</strong>r a seu<br />

objetivo ou por implicar limites e condições.<br />

Essas duas possibilida<strong>de</strong>s se alternaram na história<br />

da <strong>filosofia</strong>, que nos mostra tanto a con<strong>de</strong>nação<br />

total do C. como túmulo ou prisão da<br />

alma, segundo a doutrina dos órficos e <strong>de</strong><br />

Platão (Fed, 66 b ss.), quanto a exaltação do C.<br />

feita por Nietzsche ("Quem está <strong>de</strong>sperto e consciente<br />

diz: sou todo C. e nada fora <strong>de</strong>le", Also<br />

sprach Zarathustra, I, Os odíadores do C). Na<br />

primeira tendência, o mito da queda da<br />

alma no C, exposto por Platão em Fedro, é retomado<br />

pela Patrística oriental, especialmente<br />

por Orígenes (Deprínc, II, 9, 2). Scotus Erígena,<br />

nos primórdios da Escolástica, reproduzia-o<br />

(De dívis. nat., II, 25). Também essa<br />

concepção pressupõe a noção <strong>de</strong> instrumentalida<strong>de</strong><br />

do C: no estado <strong>de</strong> queda, <strong>de</strong>vido ao<br />

211 CORPO 2<br />

pecado, a alma tem necessida<strong>de</strong> do C, cujos<br />

serviços lhe são indispensáveis. Mas, obviamente,<br />

a mais completa e típica formulação da<br />

doutrina da instrumentalida<strong>de</strong> é a <strong>de</strong> Aristóteles,<br />

para quem o C. é "certo instrumento natural"<br />

da alma, assim como o machado é o<br />

instrumento <strong>de</strong> cortar, ainda que o C. não seja<br />

semelhante ao machado, pois "tem em si mesmo<br />

o princípio do movimento e do repouso"<br />

(Dean., II, 1, 412 b 16). O materialismo, por<br />

não implicar necessariamente a negação da<br />

substancialida<strong>de</strong> da alma(v), tampouco implica<br />

a negação da instrumentalida<strong>de</strong> do C; mesmo<br />

que a alma seja corpórea, o C. po<strong>de</strong> ter<br />

função instrumental em relação a ela. Assim<br />

pensava Epicuro, que atribuía ao C. a função<br />

<strong>de</strong> preparar a alma para ser causa da sensação<br />

(Ep. a Herod., 63 ss.) e assim também pensavam<br />

os estóicos, para os quais a alma é aquilo<br />

que domina ou, <strong>de</strong> vários modos, utiliza o<br />

organismo físico (AÉcio, Plac, IV, 21). Não é diferente<br />

a concepção do C. no materialismo <strong>de</strong><br />

Hobbes, que, afirmando que "o espírito nada<br />

mais é que um movimento em certas partes do<br />

C. orgânico" (/// Objections contre les méd.<br />

cartésiennes, 4), reconhece com isso a instrumentalida<strong>de</strong><br />

do C. em relação a esse "movimento",<br />

que é a alma. Nem mesmo o materialismo<br />

mais grosseiro do século XIX, para o qual a<br />

alma seria um produto do cérebro assim como<br />

a bilis é produto do fígado e a urina o é dos<br />

rins, obe<strong>de</strong>ce a esquema interpretativo diferente:<br />

o cérebro, como o fígado e os rins, continua<br />

sendo um instrumento para a produção <strong>de</strong><br />

alguma coisa. No extremo oposto, o espiritualismo,<br />

p. ex., dos neoplatônicos, também admite<br />

a doutrina da instrumentalida<strong>de</strong>: "Se a alma é<br />

substância", diz Plotino, "será uma forma separada<br />

do C, ou melhor, aquilo que se serve do<br />

C." (Enn., I, 1, 4). A doutrina da instrumentalida<strong>de</strong><br />

domina toda a <strong>filosofia</strong> medieval. Diz<br />

S. Tomás: "A finalida<strong>de</strong> próxima do C. humano<br />

é a alma racional e suas operações. Mas a matéria<br />

existe em vista da forma e os instrumentos<br />

existem em vista das ações do agente" (S. Th.,<br />

I. q. 91, a. 3). Exceção a essa doutrina é a teoria<br />

da "forma <strong>de</strong> corporeida<strong>de</strong>", típica do agostinismo<br />

(v.) medieval, que consistia em atribuir<br />

ao C. orgânico uma forma própria ou substância<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Mas o abandono <strong>de</strong>finitivo<br />

do conceito da instrumentalida<strong>de</strong> do C. só<br />

ocorreu com o dualismo cartesiano. Crê-se<br />

comumente que a conseqüência da separação<br />

instituída por Descartes entre alma e C, como

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