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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FANTASIA 428 FAPESMO<br />

religioso, o F. consiste em subordinar o Estado<br />

à religião, <strong>de</strong> tal modo que seu lema é: "Aos religiosos<br />

não se imponha nenhuma lei" {Jbid.,<br />

§ 270, Zusatz). Mas Hegel não se dá conta <strong>de</strong><br />

que a onipotência do Estado, que ele teorizou,<br />

é um fanatismo.<br />

A palavra F. conserva hoje o significado <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong>, ponto <strong>de</strong> vista ou doutrina que, em<br />

qualquer campo ou domínio, <strong>de</strong>spreze ou ignore<br />

as limitações humanas. Nossa época conheceu<br />

outra forma <strong>de</strong> F. mais sinistra: o F. político,<br />

que, embora não sendo uma novida<strong>de</strong><br />

do ponto <strong>de</strong> vista doutrinai, aboliu os limites<br />

humanos em política e, conseqüentemente,<br />

exaltou ou divinizou certas concepções políticas<br />

e os indivíduos que as encarnavam. A<br />

própria palavra F., na terminologia <strong>de</strong> alguns<br />

movimentos políticos, per<strong>de</strong>u a conotação negativa<br />

que recebera <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antigüida<strong>de</strong>, passando<br />

a ter o valor <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a toda prova,<br />

que ignora objeções ou limites. A experiência<br />

mostrou que essa fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> é a mais frágil<br />

<strong>de</strong> todas e, na primeira oportunida<strong>de</strong>, transforma-se<br />

em seu contrário. Como já dizia Kant, a<br />

razoabilida<strong>de</strong>, com o reconhecimento dos limites<br />

que ela implica, é a única garantia <strong>de</strong><br />

compromisso autêntico, seja ele teórico ou<br />

prático.<br />

FANTASIA (in. Fancy, fr. Fantaisie, ai.<br />

Phantasie, it. Fantasia). 1. O mesmo que imaginação.<br />

2. A partir do séc. XVIII o uso simultâneo<br />

dos termos F. e imaginação favoreceu a distinção<br />

dos significados, e F. começou a indicar a<br />

imaginação <strong>de</strong>sregrada ou <strong>de</strong>senfreada. Já na<br />

Lógica <strong>de</strong> Port-Royal diz-se que a imaginação<br />

é "a maneira <strong>de</strong> conceber as coisas mediante a<br />

aplicação do nosso espírito às imagens que estão<br />

pintadas no nosso cérebro" (o que é um<br />

conceito cartesiano exposto na Regula XII), e<br />

essas imagens, que são as idéias das coisas,<br />

distinguem-se das imagens "pintadas na fantasia"<br />

(I, 1). Em outros termos, contrapõem-se as<br />

imagens que são idéias, próprias da imaginação,<br />

às imagens fictícias, próprias da fantasia.<br />

Analogamente, Kant dizia que a F. é "a imaginação<br />

que produz imagens sem querer", don<strong>de</strong><br />

"fantasista" é a pessoa que se habituou a julgar<br />

tais imagens como experiências internas ou externas<br />

(Antr., I, § 28). E observava: "Muitas vezes<br />

gostamos <strong>de</strong> brincar com a imaginação,<br />

mas a imaginação, que é F., freqüentemente<br />

também brinca conosco, e às vezes com mau<br />

gosto" (Ibid., % 31, a). Nesse sentido, a F. é a<br />

imaginação <strong>de</strong>sregrada e <strong>de</strong>senfreada. Este é<br />

um dos significados <strong>de</strong>ssa palavra até hoje, sobretudo<br />

na linguagem comum.<br />

3. Ao lado <strong>de</strong>sse significado, o romantismo<br />

elaborou um outro, segundo o qual a F. é entendida<br />

como imaginação criadora, diferente,<br />

em qualida<strong>de</strong> mais do que em grau, da imaginação<br />

reprodutora comum. Nesse sentido, Hegel<br />

via a F. como "imaginação simbolizadora,<br />

alegorizadora e poetante", logo "criadora" (Ene,<br />

§§ 456-57). Os românticos exaltaram a F. assim<br />

entendida. Para Novalis, ela é "o máximo bem"<br />

(Fragmente, 535). "A F.", dizia ele, "é o sentido<br />

maravilhoso que em nós po<strong>de</strong> substituir todos<br />

os sentidos. Se os sentidos externos parecem<br />

submeter-se a leis mecânicas, a F. evi<strong>de</strong>ntemente<br />

nâo está ligada ao presente nem ao contato<br />

<strong>de</strong> estímulos anteriores" (Jbid., 537). Desse<br />

modo, o caráter <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado ou rebel<strong>de</strong> da<br />

imaginação fantasiosa, em virtu<strong>de</strong> do qual essa<br />

forma <strong>de</strong> imaginação parecia inferior às outras<br />

no séc. XVIII, no séc. XIX passa a ser elemento<br />

positivo, um mérito, uma característica da liberda<strong>de</strong><br />

criadora. A estética romântica ateve-se a<br />

essa valorização da fantasia. Croce diz: "A estética<br />

do séc. XIX forjou a distinção, encontrada<br />

em não poucos dos seus filósofos, entre F. (que<br />

seria a faculda<strong>de</strong> artística peculiar) e imaginação<br />

(que seria faculda<strong>de</strong> extra-artística). Acumular<br />

imagens, selecioná-las, esmiuçá-las, combiná-las,<br />

pressupõe a produção e a posse <strong>de</strong><br />

cada uma das imagens pelo espírito; a F. é<br />

produtora, enquanto a imaginação é estéril, apta<br />

a combinações extrínsecas, mas não a gerar o<br />

organismo e a vida" (Breviario di estética, 1913,<br />

PP- 35-36). Em sentido análogo, Gentile chamava<br />

<strong>de</strong> F. a ativida<strong>de</strong> artística como puro sentimento<br />

ou "forma subjetiva inatual" do espírito<br />

(Fil. <strong>de</strong>Warte, § 5). Mas, nesse significado romântico,<br />

a F. <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma ativida<strong>de</strong> ou<br />

uma operação humana, <strong>de</strong>finível ou <strong>de</strong>scritível<br />

nas suas possibilida<strong>de</strong>s e nos seus limites, para,<br />

como manifestação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> infinita, tornarse<br />

ela também infinita, situando-se portanto<br />

além <strong>de</strong> qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise e <strong>de</strong><br />

verificação. Trata-se, em outros termos, <strong>de</strong> conceito<br />

mágico-metafísico que não po<strong>de</strong> ser utilizado<br />

fora do clima romântico que o criou ou<br />

privilegiou.<br />

FANTASMA. V. IMAGEM.<br />

FAPESMO. Palavra mnemônica usada pelos<br />

escolásticos para indicar o oitavo dos nove modos<br />

do silogismo <strong>de</strong> primeira figura, mais precisamente<br />

o que tem como premissa uma propo-

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