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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ESTÉTICA 369 ESTÉTICA<br />

Hoje a teoria da imitação é <strong>de</strong>fendida e praticada<br />

pelos partidários do realismo na arte, sobretudo<br />

nos países comunistas e em quem se<br />

inspira na i<strong>de</strong>ologia comunista. Mas muitas<br />

vezes a interpretação que se faz da imitação<br />

elimina exatamente o caráter passivo que a<br />

caracterizava na formulação clássica. Assim,<br />

Lukács, que <strong>de</strong>fine a arte como "reflexo da<br />

realida<strong>de</strong>", enten<strong>de</strong> que essa realida<strong>de</strong> é resultado<br />

da interação entre natureza e homem,<br />

interação mediada pelo trabalho e pela socieda<strong>de</strong>,<br />

em seu momento histórico. Por isso, vê<br />

na arte "o modo <strong>de</strong> expressão mais a<strong>de</strong>quado<br />

e mais elevado da autoconsciência da humanida<strong>de</strong>"<br />

(Àsthetik l, 1963, cap. VII, § III, trad. it.,<br />

p. 575). Desse ponto <strong>de</strong> vista, a imitação não<br />

se distingue da criação.<br />

b) O conceito <strong>de</strong> arte como criação é peculiar<br />

ao romantismo e foi posto em prática por<br />

Schelling. "É fácil enten<strong>de</strong>r no que o produto E.<br />

se distingue do produto <strong>de</strong> artesanato comum,<br />

porque toda criação E. é, em princípio, absotamente<br />

livre, porquanto o artista só po<strong>de</strong> ser<br />

impelido a ela por uma contradição que se<br />

ache na parte mais elevada da sua natureza, ao<br />

passo que qualquer outra criação é ocasionada<br />

por uma contradição exterior a quem cria e<br />

tem, por isso, objetivo fora <strong>de</strong> si" {System, cit.,<br />

VI, § 2). Para Schelling, a arte é a mesma ativida<strong>de</strong><br />

criadora do Absoluto porque o mundo é<br />

um "poema" (Ibid., VI, § 3) e a arte humana é<br />

uma continuação, especialmente através do gênio,<br />

da ativida<strong>de</strong> criadora <strong>de</strong> Deus. Esse conceito<br />

foi retomado por Fichte nas obras do segundo<br />

período, Caracteres do tempo presente<br />

(1806), Essência do sábio (1805) e Destinação<br />

do sábio (1811) (cf. PAREYSOL, L'E. <strong>de</strong>lVi<strong>de</strong>alismo<br />

te<strong>de</strong>sco, 1950, pp. 388 ss.). Como se vê, a<br />

tese romântica da arte como criação compõe-se<br />

<strong>de</strong> duas teses diferentes: I, a arte é originali<br />

da<strong>de</strong> absoluta e os seus produtos não são referíveis<br />

à realida<strong>de</strong> natural; II, como originalida<strong>de</strong><br />

absoluta, a arte é parte (continuação ou manifestação)<br />

da ativida<strong>de</strong> criadora <strong>de</strong> Deus. Fo<br />

ram essas as teses fundamentais <strong>de</strong> Hegel em<br />

Lições <strong>de</strong> estética: "Po<strong>de</strong>r-se-ia imaginar que o<br />

artista recolhe no mundo exterior as melhores<br />

formas e as reúne, ou que faz uma escolha <strong>de</strong><br />

fisionomias, situações, etc, para encontrar as<br />

formas mais adaptadas ao seu conteúdo. Mas<br />

quando assim recolhe e escolhe ainda não fez<br />

nada, pois o artista <strong>de</strong>ve ser criadore, em sua<br />

fantasia, com o conhecimento das formas verda<strong>de</strong>iras,<br />

com sentido profundo e sensibilida<strong>de</strong><br />

viva, <strong>de</strong>ve formar e exprimir o significado<br />

que o inspira <strong>de</strong> modo espontâneo e com ímpeto"<br />

(Vorlesungen über die Àsthetik, ed.<br />

Glockner, I, p. 240). Por outro lado, justamente<br />

por esse seu caráter <strong>de</strong> criação, a arte pertence<br />

à esfera do Espírito absoluto e, ao lado da religião<br />

e da <strong>filosofia</strong>, é uma das suas manifestações<br />

ou realizações no mundo. "A arte", diz<br />

Hegel, "por ocupar-se do verda<strong>de</strong>iro como objeto<br />

absoluto da consciência, pertence à esfera<br />

absoluta do espírito e graças a seu conteúdo<br />

situa-se no mesmo plano da religião e da <strong>filosofia</strong>.<br />

Pois também a <strong>filosofia</strong> não tem outro objeto<br />

a não ser Deus e é assim essencialmente uma<br />

teologia racional e um perpétuo culto divino a<br />

serviço da verda<strong>de</strong>" (Ibid., I, pp. 147-48). Nesse<br />

aspecto, Croce praticamente só fez repetir<br />

a doutrina <strong>de</strong> Hegel. "Como posição e resolução<br />

<strong>de</strong> problemas (da fantasia ou estéticos), a<br />

arte não reproduz nada <strong>de</strong> existente, mas produz<br />

sempre algo <strong>de</strong> novo, forma uma nova situação<br />

espiritual e, portanto, não é imitação,<br />

mas criação. Do mesmo modo, criação é pensamento<br />

que também consiste em posição e<br />

resolução <strong>de</strong> problemas (lógicos, filosóficos ou<br />

especulativos, como se preferir chamá-los), e<br />

nunca em reprodução <strong>de</strong> objetos ou <strong>de</strong> idéias"<br />

(Nuovi saggi di E., 1920, p. 156). No mesmo<br />

sentido, Gentile escreveu: "É difícil renunciar a<br />

ver no artista um espírito criador livre. O pensamento<br />

comum encontra dificulda<strong>de</strong> em aperceber-se<br />

claramente <strong>de</strong>ssa criativida<strong>de</strong> do homem,<br />

mas, embora obscura, essa idéia do<br />

artista que cria um mundo seu está profundamente<br />

arraigada em todo homem que se aproxima<br />

da obra <strong>de</strong> arte" (Fil. <strong>de</strong>lVarte, 1931, 11, §<br />

4). No âmbito da concepção romântica <strong>de</strong><br />

arte, o princípio <strong>de</strong> arte como criação aparece<br />

como verda<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nte.<br />

O corolário principal <strong>de</strong>ssa concepção é a<br />

pouca importância atribuída aos meios técnicos<br />

<strong>de</strong> expressão e a insistência na natureza "espiritual",<br />

consciencial da arte. A esse respeito<br />

Hegel dizia: "A obra <strong>de</strong> arte só superficialmente<br />

tem a aparência da vida, pois no fundo é pedra,<br />

ma<strong>de</strong>ira, tela ou, no caso da poesia, letras<br />

e palavras. Mas esse aspecto da existência externa<br />

não é o que constitui a obra <strong>de</strong> arte; esta<br />

tem origem no espírito, pertence ao domínio<br />

do espírito, recebeu o batismo do espírito e<br />

exprime tão-somente o que se formou sob a<br />

inspiração do espírito" {Vorlesungen über die<br />

Àsthetik, ed. Glockner, I, p. 55). Croce, por sua<br />

vez, confinou a técnica expressiva da arte ao

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