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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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HUMILDADE 520 HYSTERON PROTERON<br />

qual o homem se avilta com verda<strong>de</strong>iro reconhecimento<br />

<strong>de</strong> si mesmo" (De gradibus humilitatis<br />

et superbiae, em P. L., 182 Q , col. 942).<br />

Nesse sentido, a H. era <strong>de</strong>sconhecida do mundo<br />

antigo. S. Paulo, que foi o primeiro a empregar<br />

essa palavra, enten<strong>de</strong>u-a como falta <strong>de</strong> espírito<br />

<strong>de</strong> competição e <strong>de</strong> vangloria (Philipp., II),<br />

vendo seu mo<strong>de</strong>lo em Cristo, que, com a encarnação,<br />

rebaixou-se até o homem (Ibid., II,<br />

3-11). Da mesma forma, S. Agostinho fala da H.<br />

sobretudo a propósito da via humilitatis, que é<br />

a encarnaçào do Verbo para a re<strong>de</strong>nção dos homens:<br />

nesse sentido, contrapõe a H. cristã à soberba<br />

dos platônicos, que sabiam tantas coisas,<br />

mas ignoravam a encamação (Conf., VII, 9). S.<br />

Tomás consi<strong>de</strong>rava a H. como a parte da virtu<strong>de</strong><br />

"que tempera e freia o ânimo, a fim <strong>de</strong> que<br />

ele não tenda <strong>de</strong>smesuradamente às coisas mais<br />

altas" e veja nelas o complemento da magnanimida<strong>de</strong><br />

que "fortalece o ânimo contra o<br />

<strong>de</strong>sespero e impele-o a perseguir as gran<strong>de</strong>s<br />

coisas, <strong>de</strong> acordo com a reta razão" (S. Tb., II,<br />

2, q. 161, a. 1). Mas é óbvio que, neste sentido,<br />

a H. nada mais é que a magnanimida<strong>de</strong> em<br />

significado aristotélico (v. MAGNANIMIDADE) e<br />

nada tem a ver com a H. no sentido atribuído<br />

por S. Bernardo.<br />

É freqüente a oposição dos filósofos ao significado<br />

medieval <strong>de</strong> H.; outras vezes procuram<br />

reconduzi-la a um significado compatível<br />

com a ética clássica. Spinoza negava que a H.<br />

fosse uma virtu<strong>de</strong> e julgava-a uma emoção passiva,<br />

porquanto ela nasce do fato <strong>de</strong> "o homem<br />

contemplar sua própria impotência". Entretanto,<br />

se ete pensa nessa impotência em relação a<br />

um ser mais perfeito, esse pensamento favorece<br />

sua potência <strong>de</strong> ação e por isso não é H.,<br />

mas virtu<strong>de</strong> (Et., IV, 53). Kant distingue a H.<br />

moral, que é "o sentimento da pequenez do<br />

nosso valor, comparado com a lei", da H. espúria,<br />

que é "a pretensão <strong>de</strong>, por meio da renúncia,<br />

adquirir algum valor moral <strong>de</strong> si mesmo,<br />

um valor moral oculto". A pretensão <strong>de</strong> superar<br />

os outros rebaixando-se é uma ambição<br />

oposta ao <strong>de</strong>ver para com os outros; utilizar<br />

esse meio para obter o favor dos outros (Deus<br />

ou homem que seja) é hipocrisia e adulaçâo<br />

(Met. <strong>de</strong>rSitten, II, § 11). Hegel afirmava que a<br />

H. "é a consciência <strong>de</strong> Deus e da sua essência<br />

como amor" (PhüosophischePropã<strong>de</strong>utik, § 207,<br />

cf. Philosophie <strong>de</strong>r Religion, ed. Glockner, II,<br />

p. 553). Entretanto, por outro lado, o protesto<br />

<strong>de</strong> Nietzsche, que vê na H. simplesmente um<br />

aspecto da "moral dos escravos", obviamente é<br />

dirigido ao típico conceito medieval <strong>de</strong> H. (cf.<br />

Werke, VII, pp. 348 ss.).<br />

HUMOR (in. Mood; fr. Humeur, ai. Stimmung;<br />

it. Umore). Estado emotivo que não tem objeto,<br />

ou cujo objeto é in<strong>de</strong>terminável, distinguindo-se,<br />

assim, da emoção propriamente dita. Esta distinção<br />

foi proposta por W. Cerf. ("H. e emoções na<br />

arte", em Rivista di Filosofia, 1954, pp. 363 ss.) e<br />

parece oportuna para i<strong>de</strong>ntificar, na vasta gama<br />

dos estados emocionais, os que recebem o nome<br />

<strong>de</strong> humor. O H. não tem objeto intencional no<br />

sentido <strong>de</strong> que não existe um H.âe..., assim como<br />

existe um medo <strong>de</strong>... ou alegria <strong>de</strong>... etc. Tem<br />

causa ou razão, mas não se refere a um objeto<br />

em particular e não constitui advertência quanto<br />

ao valor biológico <strong>de</strong> uma situação. Nesse sentido,<br />

Cerf afirmou que na arte não existem emoções,<br />

mas apenas H.<br />

Hei<strong>de</strong>gger chamou a atenção para o significado<br />

existencial dos H.: "O fato <strong>de</strong> os H. po<strong>de</strong>rem<br />

transformar-se ou <strong>de</strong>teriorar-se significa<br />

somente que o ser-aí está sempre num estado<br />

emocional." O H. fundamental é o tédio, "o peso<br />

do ser". Mas, em qualquer caso, o H. é aquilo<br />

que torna manifesto "como alguém é e se<br />

torna" (Sein und Zeit, § 29).<br />

HYBRIS (gr. í)p"ptç). Com este termo, intraduzível<br />

para as línguas mo<strong>de</strong>rnas, os gregos<br />

enten<strong>de</strong>ram qualquer violação da norma da<br />

medida, ou seja, dos limites que o homem<br />

<strong>de</strong>ve encontrar em suas relações com os outros<br />

homens, com a divinda<strong>de</strong> e com a or<strong>de</strong>m das<br />

coisas. A injustiça nada mais é que uma forma<br />

<strong>de</strong> H., porque é a transgressão dos justos limites<br />

em relação aos outros homens. Neste sentido,<br />

Hesíodo dizia: "Quando levada a cabo, a<br />

justiça triunfa sobre a H.: o néscio só enten<strong>de</strong><br />

quando sofre" (Op., 216-17). Para Platão, há H.<br />

sempre que é superada "a medida do justo";<br />

portanto, a H. tem muitas faces, muitos lados e<br />

muitos nomes (Fed., 238 a). Aristóteles <strong>de</strong>u a<br />

esse termo um significado mais restrito: enten<strong>de</strong>u<br />

tratar-se <strong>de</strong> ofensa gratuita feita aos outros<br />

apenas pelo prazer <strong>de</strong> sentir-se superior: o que<br />

é insolência (Ret., II, 2, 1378 b 23).<br />

HYSTERON PROTERON. Estes termos,<br />

assim como Hysterologia e Protysteron, começaram<br />

a ser empregados no séc. IV a.C.<br />

pelos gramáticos gregos e latinos (p. ex.,<br />

CHEROBOSCO, Trop., 27; SERVIO, Ad Vergilium,<br />

A, 9, 816) para indicar a figura retórica<br />

que consiste em dizer antes o que <strong>de</strong>veria<br />

ser dito <strong>de</strong>pois, como quando dizemos:

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