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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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DEUS 252 DEUS<br />

adotar uma frase <strong>de</strong> Leibniz, enquanto está<br />

grávido <strong>de</strong> <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>" (Space, Time andDeity, II,<br />

p. 535). Portanto, cabe ao mundo parir D., ou<br />

sem metáforas, é na via <strong>de</strong> evolução natural<br />

que vai aparecer, em certo momento, a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> que encontrará substância em<br />

certo número <strong>de</strong> seres (Ibid, p. 365). Essa mesma<br />

relação entre D. e o mundo foi expressa<br />

por Whitehead com as seguintes antíteses: "E<br />

verda<strong>de</strong> que D. é permanente e que o mundo<br />

é fluente, assim como é verda<strong>de</strong> que o mundo<br />

é permanente e D. é fluente. É verda<strong>de</strong> que<br />

D. é uno e que o mundo é múltiplo, assim<br />

como é verda<strong>de</strong> que o mundo é uno e D. é<br />

múltiplo. É verda<strong>de</strong> que o mundo, em face <strong>de</strong><br />

D., é eminentemente real, e que D., em face do<br />

mundo, é eminentemente real. É verda<strong>de</strong> que<br />

o mundo é imanente em D. e que D. é<br />

imanente no mundo. É verda<strong>de</strong> que D. transcen<strong>de</strong><br />

o mundo, e que o mundo transcen<strong>de</strong> D.<br />

É verda<strong>de</strong> que D. cria o mundo, e que o mundo<br />

cria D." (Process and Reality, pp. 527-28).<br />

Essas antíteses significam que, se D. espera do<br />

mundo a sua realização, o mundo espera <strong>de</strong> D.<br />

a sua unida<strong>de</strong>. "O mundo", diz Whitehead, "é a<br />

multiplicida<strong>de</strong> das atualida<strong>de</strong>s finitas que buscam<br />

unida<strong>de</strong> perfeita. Nem D. nem o mundo<br />

atingem completitu<strong>de</strong> estática. Ambos estão na<br />

forja do último fundamento metafísico, o avanço<br />

criativo para o novo. Cada um <strong>de</strong>les, tanto<br />

D. quanto o mundo, é instrumento da novida<strong>de</strong><br />

do outro" {Ibid., p. 529). Mesmo para o velho<br />

panteísmo, o mundo como emanação ou revelação<br />

<strong>de</strong> D. condicionava, <strong>de</strong> certo modo, a<br />

realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D. "D. não existia antes <strong>de</strong> criar<br />

todas as coisas", dizia Scotus Erigena (Dedivis.<br />

nat., I, 72), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a coeternida<strong>de</strong> do<br />

mundo e <strong>de</strong> D. E, <strong>de</strong> fato, o que seria um corpo<br />

perfumado que não emanasse perfume, ou<br />

uma luz que não expandisse raios em torno <strong>de</strong><br />

si? A própria noção <strong>de</strong> emanação torna o mundo<br />

e, em geral, tudo o que <strong>de</strong> D. dimana, parte<br />

integrante <strong>de</strong> D. e condição <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong>.<br />

Todavia, é só no mundo mo<strong>de</strong>rno — a partir<br />

do Romantismo (que teve em gran<strong>de</strong> apreço a<br />

lição <strong>de</strong> Spinoza), — que se passa a afirmar explicitamente<br />

que D. é, <strong>de</strong> algum modo, criação<br />

do mundo. Às vezes, como em Hegel, D. já é<br />

real no mundo, em todas as <strong>de</strong>terminações do<br />

mundo, porque é o próprio espírito, ou seja, a<br />

racionalida<strong>de</strong> autoconsciente, que se realiza<br />

nele como tal. Outras vezes, D. é o termo do<br />

processo evolutivo, a fase na qual esse processo<br />

atinge unida<strong>de</strong> ou perfeição. Em todos os<br />

casos, o panteísmo contemporâneo inverteu<br />

o ponto <strong>de</strong> vista tradicional: não é D. que dá<br />

corpo, substância ou realida<strong>de</strong> ao mundo,<br />

mas o mundo que dá corpo, substância ou realida<strong>de</strong><br />

a D.<br />

O Deus como criador. Segundo a concepção<br />

<strong>de</strong> causa criadora, D. não é somente o<br />

primeiro motor e a causa primeira do <strong>de</strong>vir e<br />

da or<strong>de</strong>m do mundo, mas também o autor da<br />

estrutura substancial do próprio mundo. Essa estrutura,<br />

constituída pelas substâncias, formas<br />

ou razões últimas das coisas, não é coeterna<br />

com ele (como na concepção clássica), mas<br />

produzida por ele. Produzida não por um processo<br />

necessário, mas com causalida<strong>de</strong> livre,<br />

graças à qual o mundo se separa <strong>de</strong> D. no próprio<br />

ato <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong> seu ser. Por outro<br />

lado, nessa concepção, D. não é mais o superser,<br />

mas o ser do qual provêm outros seres. Segundo<br />

essa concepção, as características da divinda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>rivam da noção <strong>de</strong> criação, em seu<br />

significado próprio e específico (v. CRIAÇÃO).<br />

Deve-se notar que esse significado só foi elaborado<br />

com o intuito <strong>de</strong> distingui-lo por oposição<br />

à or<strong>de</strong>nação e à emanação. Em hebraico,<br />

grego e latim, assim como nas línguas mo<strong>de</strong>rnas,<br />

o verbo "criar" tem sentido genérico,<br />

referindo-se, indiferentemente, à obra <strong>de</strong> um<br />

artesão ou à <strong>de</strong> um criador; é só através da<br />

elaboração filosófica que essa noção chega a<br />

configurar-se em suas características.<br />

Essa elaboração começa com Fílon <strong>de</strong> Alexandria<br />

(séc. I), que por meio da interpretação<br />

alegórica do Velho Testamento <strong>de</strong>finiu o conceito<br />

<strong>de</strong> D. ora em oposição às doutrinas da <strong>filosofia</strong><br />

grega, ora em consonância com elas.<br />

Foi o primeiro a afirmar que D. tirou o mundo<br />

"do não-ser para o ser" (De vita Mosis, II, 8) e<br />

que ele não só foi Demiurgo como também o<br />

verda<strong>de</strong>iro fundador do mundo (De somniis, I,<br />

13). Mas nem mesmo Fílon enten<strong>de</strong>u esse conceito,<br />

em todo o seu rigor, pois às vezes assimila<br />

criação e imposição <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m à matéria<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada e amorfa (Quis rer. div. heres.,<br />

32). A noção <strong>de</strong> D. criador vai-se <strong>de</strong>terminando<br />

com mais clareza na polêmica cristã contra os<br />

gnósticos: Irineu, p. ex., afirma que D. não tem<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intermediários para a criação<br />

(Adv. haer, II, 1,1). Lactâncio, por sua vez, negava<br />

que, para a criação, D. tivesse necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> matéria preexistente (Inst. div., II, 9).<br />

Contra o emanatismo, Orígenes afirmava que<br />

D. não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado nem como o todo<br />

nem como uma parte do todo, porque seu ser

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