22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

DEVIR ou VIR-A-SER 268 DIACRÔNICO/SINCRÔNICO<br />

empíricas; por isso, foi substancialmente infiel à<br />

noção kantiana do <strong>de</strong>ver-ser, em que <strong>de</strong>clarava<br />

inspirar-se. De modo análogo, a interpretação<br />

que Nicolau Hartmann faz do D.-ser eqüivale à<br />

sua negação. O D.-ser, segundo Hartmann, só<br />

prescreve a realização daquilo que po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve<br />

necessariamente realizar-se, quando nada falta<br />

às condições <strong>de</strong> sua realização; por isso, é a<br />

própria possibilida<strong>de</strong> real, que é sempre uma<br />

efetivida<strong>de</strong>, ainda que não pareça. (Mõglichkeit<br />

und Wirklichkeit, p. 266). Por outro lado, a noção<br />

<strong>de</strong> D.-ser foi posta como base do positivismo<br />

jurídico, por Hans Kelsen. Diz Kelsen: "O D.ser<br />

exprime o sentido específico no qual o comportamento<br />

humano é <strong>de</strong>terminado por uma<br />

norma. Tudo o que po<strong>de</strong>mos fazer para <strong>de</strong>screver<br />

tal sentido é <strong>de</strong>clarar que ele difere do sentido<br />

pelo qual dizemos que um indivíduo se<br />

comporta efetivamente <strong>de</strong> certa forma e que<br />

algo acontece ou existe efetivamente" {General<br />

Theory of Laiv and State, 1945,1, 1, C, a, 5; trad.<br />

it., p. 36). Kelsen, todavia, reconhece que a<br />

tensão entre norma e existência não <strong>de</strong>ve ser<br />

superior a certo máximo, nem inferior a certo<br />

mínimo: a conduta efetiva não <strong>de</strong>ve coincidir<br />

completamente com a norma que a regula nem<br />

discrepar completamente <strong>de</strong>la (Ibid., Apêndice,<br />

IV, B, c; p. 444) (v. NORMA).<br />

DEVIR ou VIR-A-SER (gr. yÍYvea6oa; lat.<br />

Fieri; in. Becoming; fr. Devenir, ai. Wer<strong>de</strong>nt; it.<br />

Diveniré). 1. O mesmo que mudança (v. MOVI-<br />

MENTO).<br />

2. Uma forma particular <strong>de</strong> mudança, a mudança<br />

absoluta ou substancial que vai do nada<br />

ao ser ou do ser ao nada. Esse é o conceito <strong>de</strong><br />

Aristóteles e Hegel. Aristóteles afirmava; "Diz-se<br />

D. em muitos sentidos: ao lado daquilo que vem<br />

a ser absolutamente (ànk&ç), há aquilo que vem a<br />

ser isto ou aquilo. O D. absoluto é só das<br />

substâncias: as outras coisas que vêm a ser precisam<br />

necessariamente <strong>de</strong> um sujeito, já que a<br />

quantida<strong>de</strong>, a qualida<strong>de</strong>, a relação, o tempo e o<br />

lugar vêm a ser só em referência a certo sujeito;<br />

e enquanto a substância não po<strong>de</strong> ser atribuída<br />

como predicado a nenhuma outra coisa, todas<br />

as outras coisas po<strong>de</strong>m ser atribuídas como<br />

predicado a uma substância" (Fís., I, 7, 190 a<br />

30). Portanto, para Aristóteles, os princípios do<br />

D. são os opostos, entre os quais está o D., e a<br />

privação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les, já visto que "po<strong>de</strong> dizer<br />

que nada vem absolutamente do nada, mas<br />

aquilo que vem a ser, vem a ser do não-ser aci<strong>de</strong>ntal<br />

ou relativo, ou seja, da privação daquilo<br />

que é o termo do D." {Ibid., I, 8, 191, b 12).<br />

Conceito não muito diferente foi expresso<br />

por Hegel ao dizer que o D. é a unida<strong>de</strong> do ser<br />

e do nada. "O D.", disse Hegel, "é a verda<strong>de</strong>ira<br />

expressão do resultado <strong>de</strong> ser e nada, como<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes: não é só a unida<strong>de</strong> do ser e do<br />

nada, mas é a inquietação em si" (Ene, § 88).<br />

Na gran<strong>de</strong> Lógica, Hegel ilustrou e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u<br />

longamente o significado <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>finição: "A<br />

verda<strong>de</strong>ira importância da proposição: 'nada<br />

vem do nada, o nada é nada', está em sua oposição<br />

ao <strong>de</strong>vir em geral e, portanto, também à<br />

criação do mundo a partir do nada. Aqueles que<br />

se acaloram <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a proposição <strong>de</strong> que o<br />

nada é o nada, não se apercebem <strong>de</strong> que nisso<br />

coinci<strong>de</strong>m com o panteísmo abstrato dos eleatas<br />

e substancialmente também com o spinozismo.<br />

A visão filosófica para a qual vale o princípio <strong>de</strong><br />

que o ser é somente ser e o nada somente nada<br />

merece o nome <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Essa<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> abstrata é a essência do panteísmo"<br />

(Wissenschaft <strong>de</strong>rLogik, I, livro I, seç. I, cap. I,<br />

C; trad. it., p. 76). Na verda<strong>de</strong>, o "nada" <strong>de</strong> Aristóteles<br />

é, com efeito, um nada privativo que,<br />

assim como a privação aristotélica, está na constituição<br />

do <strong>de</strong>vir. Portanto, todas as discussões<br />

a que a <strong>de</strong>finição hegeliana do D. <strong>de</strong>u origem<br />

entre os hegelianos (e também entre os não hegelianos)<br />

parecem hoje completamente ociosas.<br />

DEVOÇÃO (in. Devotion, fr. Dévotion; ai.<br />

Andacht, it. Devozioné). Segundo Kant, "a disposição<br />

<strong>de</strong> espíritos que nos torna capazes <strong>de</strong><br />

sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação para com Deus", e<br />

que se obtém mediante as práticas do culto<br />

(expiações, mortificações, peregrinações, etc).<br />

Atribuir a essa disposição o mesmo valor <strong>de</strong><br />

sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação a Deus é, segundo<br />

Kant, a ilusão religiosa, que confun<strong>de</strong> os meios<br />

com o fim e dá ao meio um valor final (Religíon,<br />

IV, 2, § 1). Essa ilusão por sua vez é a<br />

base do falso culto a Deus, visto que o único<br />

culto verda<strong>de</strong>iro é a boa conduta moral. O conceito<br />

<strong>de</strong> D. como atitu<strong>de</strong> que, embora vinculada<br />

à religião, não é a autenticamente religiosa,<br />

foi fixado pelas observações <strong>de</strong> Kant. Hegel<br />

viu na D. uma das manifestações da consciência<br />

infeliz. "O seu pensar, como D., permanece<br />

como um vago tilintar <strong>de</strong> sinos ou como nebulosida<strong>de</strong><br />

cálida, um pensar musical que não<br />

chega ao conceito, único e imanente modo objetivo"<br />

(Phánomen. <strong>de</strong>s Geistes, I, IV, 1).<br />

DIACRÔNICO/SINCRÔNICO (fr Diachronique,<br />

synchronique, in. Diachronic, synchronic,<br />

ai. Diachronik, synchronik, it. Diacronico,<br />

sincronicó). Termos introduzidos porFerdinand

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!