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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ESSÊNCIA e EXISTÊNCIA 362 ESSÊNCIA e EXISTÊNCIA<br />

qüidida<strong>de</strong>, acrescenta S. Tomás, também é chamada<br />

<strong>de</strong> forma ou natureza, enten<strong>de</strong>ndo-se<br />

por este último termo "a E. da coisa segundo a<br />

or<strong>de</strong>m ou a or<strong>de</strong>nação que ela tem para a sua<br />

própria atuação, porquanto coisa nenhuma há<br />

<strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> uma atuação própria. O termo<br />

qüidida<strong>de</strong>, porém, é assumido como aquilo<br />

que é significado pela <strong>de</strong>finição; o termo E. significa<br />

que por ela e nela a coisa tem ser" (De<br />

ente et essentia, 1). Esta última distinção não se<br />

mantém inalterada em S. Tomás, que, em outro<br />

trecho, enten<strong>de</strong> por E. "propriamente o que é<br />

significado pela <strong>de</strong>finição" (5. Th., I, q. 29, a. 2).<br />

Mas durante muitos séculos essas <strong>de</strong>terminações<br />

tomistas serviram <strong>de</strong> fundamento para todas<br />

as teorias da substância, que <strong>de</strong>vem ser<br />

estudadas em seu lugar próprio, o verbete<br />

SUBSTÂNCIA.<br />

Embora não conduza para uma teoria da<br />

substância, a acepção que Husserl atribui ao<br />

termo E. tem conexão com este seu segundo<br />

significado: "E. caracterizou sobretudo o que se<br />

encontra no ser próprio <strong>de</strong> um indivíduo como<br />

seu quid. Mas cada quid po<strong>de</strong> ser 'posto em<br />

idéia'. Uma visão empírica ou individual po<strong>de</strong><br />

ser transformada em visão da E. (i<strong>de</strong>ação),<br />

possibilida<strong>de</strong> que, esta sim, não <strong>de</strong>ve ser entendida<br />

como empírica, mas como essencial. O<br />

objeto intuído consistirá, portanto, na correspon<strong>de</strong>nte<br />

E. pura ou eidos, que po<strong>de</strong> ser tanto<br />

uma categoria superior quanto uma particularização,<br />

até à concretu<strong>de</strong> completa" (I<strong>de</strong>en,<br />

I, § 3)- Para Husserl, E. é a E. necessária ou<br />

substancial <strong>de</strong> Aristóteles; é captada por um<br />

ato <strong>de</strong> intuição, análogo à percepção sensível<br />

(Ibid., § 23). Esta talvez seja a utilização mais<br />

mo<strong>de</strong>rna do antigo conceito aristotélico <strong>de</strong> E.<br />

substancial (v. DEFINIÇÃO; SER).<br />

ESSÊNCIA e EXISTÊNCIA (lat. Essentia et<br />

esse, essentia et existentia; in. Essence and existence,<br />

fr. Essence et existence, ai. Wesen und<br />

Existenz; it. Essenza ed esistenza). A distinção<br />

real entre E. e existência é uma das doutrinas<br />

típicas da Escolástica do séc. XIII. Foi exposta<br />

pela primeira vez por Guilherme <strong>de</strong> Alvérnia,<br />

em De trinitate(composto entre 1223 e 1228).<br />

Seus criadores foram os neoplatônicos árabes,<br />

especialmente Avicena (séc. XI), que a expusera<br />

em Metafísica (II, 5, 1). Foi adotada por<br />

Maimôni<strong>de</strong>s, que a modificou no sentido <strong>de</strong><br />

reduzir a existência a um simples aci<strong>de</strong>nte da<br />

essência (Gui<strong>de</strong> <strong>de</strong>s égarés, trad. fr., Munk, pp.<br />

230-33). Mas quem <strong>de</strong>u à doutrina sua melhor<br />

expressão foi S. Tomás, que também a remeteu<br />

ao significado que recebera <strong>de</strong> Avicena, negando<br />

que a existência seja um simples aci<strong>de</strong>nte<br />

(Quodl., q. 12, a. 5). Por isso, é oportuno expor<br />

a doutrina na forma emprestada por S. Tomás.<br />

S. Tomás enten<strong>de</strong> a essência no significado<br />

2-, como E. necessária ou substancial. Ela é a<br />

"qüidida<strong>de</strong>" ou "natureza" que compreen<strong>de</strong><br />

tudo o que está expresso na <strong>de</strong>finição da coisa;<br />

logo, não só a forma, mas também a matéria.<br />

P. ex., a E. do homem, <strong>de</strong>finido como "animal<br />

racional", compreen<strong>de</strong> não só a racionalida<strong>de</strong><br />

(que é forma), mas também a animalida<strong>de</strong><br />

(que é matéria). Da E. assim entendida distingue-se<br />

o ser ou a existência da coisa <strong>de</strong>finida:<br />

ser ou existência que é algo diferente da E. porque<br />

se po<strong>de</strong>, p. ex., saber o que (quid) é o homem<br />

ou a fênix sem saber se existe homem ou<br />

fênix, ou seja, sem saber nada acerca do ser<br />

ou da existência da coisa <strong>de</strong>finida (De ente et<br />

essentia, 3). Portanto, substâncias como o homem<br />

ou a fênix são compostas <strong>de</strong> E. (matéria e<br />

forma) e existência, separáveis entre si; nelas,<br />

E. e existência estão entre si assim como potência<br />

e ato: a E. é potência em relação à existência;<br />

a existência é o ato da essência. Somente<br />

em Deus, porém, a E. é a própria existência,<br />

porque Deus "não só é a sua E. como também<br />

o seu próprio ser"; se assim não fosse, ele existiria<br />

por participação, como as coisas finitas, e<br />

não seria o ser primeiro e a causa primeira (S.<br />

Th., I, q. 3, a. 4).<br />

Esta doutrina da distinção real foi muitas vezes<br />

consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> origem aristotélica. Na realida<strong>de</strong>,<br />

nada tem <strong>de</strong> aristotélico; aliás contradiz<br />

um dos cânones fundamentais da <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong><br />

Aristóteles, o que i<strong>de</strong>ntifica o ser ou a existência<br />

com o ato e o ato com a forma; <strong>de</strong> sorte<br />

que não há forma que não seja ato, isto é, que<br />

não exista (a forma é a existência: v. ATO; FOR-<br />

MA). Na realida<strong>de</strong>, a doutrina foi introduzida e<br />

utilizada com propósitos diferentes, que nada<br />

têm a ver com o aristotelismo. Avicena introduziu-a<br />

como elemento da doutrina da necessida<strong>de</strong><br />

universal. Deus é necessário "em si mesmo"<br />

porque nele E. implica existência; as coisas<br />

finitas são necessárias "por outra coisa", porque,<br />

como sua E. não implica existência, elas<br />

existem apenas em virtu<strong>de</strong> da necessida<strong>de</strong> divina.<br />

Assim, tudo é necessário (cf. A. M. GOL-<br />

CHON, La distinction <strong>de</strong> Vessence et <strong>de</strong> 1'existence<br />

d'après Ibn-Sina, 1937). S. Tomás, porém, lança<br />

mão da mesma distinção para ressaltar a<br />

diferença entre o ser <strong>de</strong> Deus e o ser das criaturas,<br />

diferença que ele expressou com o princí-

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