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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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COMPREENDER 158 COMPREENDER<br />

dos nossos próprios estados. A natureza, ao<br />

contrário, é muda e permanece sempre como<br />

algo <strong>de</strong> externo. Portanto, nas ciências do espírito,<br />

que têm por objeto a realida<strong>de</strong> humana, o<br />

sujeito não se encontra diante <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong><br />

estranha, mas diante <strong>de</strong> si mesmo, porque<br />

homem é quem indaga e homem é que é<br />

indagado. "O C", diz Dilthey, "é a <strong>de</strong>scoberta<br />

do eu no tu... O sujeito do saber é, aqui, idêntico<br />

ao seu objeto e este é o mesmo em todos os<br />

graus <strong>de</strong> sua objetivaçào" (Gesammelte Schriften,<br />

VII, p. 191). Desse ponto <strong>de</strong> vista, Dilthey<br />

apontou como instrumento próprio do C. a<br />

Erlebnis, ou experiência vivida ou revivescente<br />

que permite apreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> histórica na<br />

sua individualida<strong>de</strong> viva e nos seus caracteres<br />

específicos. Depois <strong>de</strong> Dilthey, na corrente do<br />

historicismo alemão que continua a sua obra, o<br />

C. permanece como o órgão do conhecimento<br />

histórico e, em geral, do conhecimento interpessoal,<br />

enquanto não suscetível <strong>de</strong> explicação<br />

causai. Todavia, sobre a própria natureza do C.<br />

não há acordo. Rickert enten<strong>de</strong> por C. o apreen<strong>de</strong>r<br />

"o sentido <strong>de</strong> um objeto, isto é, a relação<br />

do próprio objeto com um valor <strong>de</strong>terminado"<br />

(Die Grenzen <strong>de</strong>r naturwissenschaftlichen<br />

Begriffsbildung, 1896-1902). Simmel consi<strong>de</strong>ra<br />

o C. como algo que vise a reproduzir a vida psíquica<br />

<strong>de</strong> uma outra personalida<strong>de</strong> e, portanto,<br />

como o ato <strong>de</strong> projeção mediante o qual o sujeito<br />

cognoscente atribui um estado representativo<br />

ou volitivo seu a uma outra personalida<strong>de</strong><br />

(Die Probleme <strong>de</strong>r Geschíchtsphilosophie, 1892,<br />

p. 17). Por sua vez, Max Weber, embora insistisse<br />

na diferença entre explicação histórica e<br />

explicação causai, quis preencher ou diminuir<br />

o abismo que se estava formando entre os dois<br />

procedimentos, afirmando que a própria explicação<br />

histórica é causai, mas uma explicação<br />

causai específica, que visa a reconhecer o nexo<br />

particular e singular entre <strong>de</strong>terminados fenômenos<br />

e não a sua <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> uma lei<br />

universal. "Nossa necessida<strong>de</strong> causai", escreve<br />

ele, "po<strong>de</strong> encontrar na análise da atitu<strong>de</strong> humana<br />

uma satisfação qualitativamente diferente,<br />

que implica, ao mesmo tempo, uma entonação<br />

qualitativamente diferente do conceito<br />

<strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong>. Para a sua interpretação, po<strong>de</strong>mos<br />

propor-nos, pelo menos como fundamento,<br />

o objetivo, não só <strong>de</strong> tornar a atitu<strong>de</strong><br />

penetrável e possível em relação ao nosso<br />

saber nomológico, como também <strong>de</strong> compreendê-la,<br />

isto é, <strong>de</strong>scobrir um motivo concreto<br />

que possa ser revivido interiormente e que ve-<br />

rificamos com um grau diferente <strong>de</strong> precisão,<br />

segundo o material das fontes" (.Gesammelte<br />

Aufsãtze zur Wissenschaftslehre, 1951, p. 67).<br />

Todavia, o conceito <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> individual,<br />

em que Weber insistia, é pouco sólido, já que a<br />

causa, enquanto aquilo que torna o efeito infalivelmente<br />

previsível, tem com o próprio efeito<br />

uma relação necessária e constante, por isso<br />

essencialmente uniforme e universal. A exigência,<br />

apresentada por Weber, <strong>de</strong> eliminar ou diminuir<br />

o contraste entre explicação científica e<br />

compreensão histórica ou inter-humana, pô<strong>de</strong><br />

ser satisfeita só <strong>de</strong>pois que a própria ciência<br />

abandonou o conceito clássico <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>.<br />

Entrementes, a exigência <strong>de</strong> uma técnica cognoscitiva<br />

que fosse diferente da técnica explicativa<br />

e causai era freqüentemente reconhecida<br />

pela sociologia. Znaníecki invocava um "coeficiente<br />

humanístico" na pesquisa sociológica<br />

e ressaltava a importância da experiência<br />

vicariante como fonte <strong>de</strong> dados sociológicos<br />

(Method of Sociology, 1934, p. 167). Sorokin<br />

reputava inaplicável o método causai <strong>de</strong> interpretação<br />

dos fenômenos culturais (Social and Cultural<br />

Dynamic, 1937, p. 26). E Maclver, por<br />

sua vez, reconhecia a inaplicabilida<strong>de</strong> da fórmula<br />

causai da mecânica clássica à conduta<br />

humana (Social Causatíon, 1942, p. 263).<br />

Os filósofos, por sua vez, não encontrando<br />

lugar para o C. entre as ativida<strong>de</strong>s racionais<br />

que pareciam monopolizados pelas técnicas da<br />

explicação causai, acabaram vinculando-o à vida<br />

emotiva. Assim fizeram, principalmente, Scheler<br />

e Hei<strong>de</strong>gger, aos quais se <strong>de</strong>vem, contudo, as<br />

mais importantes <strong>de</strong>terminações da noção do<br />

C. Para Scheler, essa noção serve para fundar<br />

as relações humanas — que são, <strong>de</strong> resto, aquelas<br />

pelas quais o eu reconhece o outro eu —,<br />

não a partir <strong>de</strong> uma inferência ou da projeção<br />

que o eu faça <strong>de</strong> suas experiências interiores<br />

no outro, mas a partir dos fenômenos expressivos.<br />

Assim, Scheler afirma que "a existência<br />

das experiências interiores, dos sentimentos<br />

íntimos dos outros, é-nos revelada pelos fenômenos<br />

<strong>de</strong> expressão: ou seja, não adquirimos<br />

consciência <strong>de</strong>la em <strong>de</strong>corrência do raciocínio,<br />

mas <strong>de</strong> modo imediato, através <strong>de</strong> uma 'percepção'<br />

originária e primitiva. Percebemos o<br />

pudor <strong>de</strong> alguém no seu rubor, a alegria no<br />

seu riso" (Sympatbie, I, cap. II). Portanto, não<br />

é verda<strong>de</strong> que conheçamos em primeiro lugar<br />

o corpo dos outros e que só a partir <strong>de</strong>le infiramos<br />

a existência <strong>de</strong> outros espíritos. Só o<br />

médico e o naturalista conhecem tão-somente

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