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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ESTÉTICA 373 ESTÉTICA<br />

samentos abstratos e isentos <strong>de</strong> paixão, esta só<br />

confere pensamentos concretos e corpulentos,<br />

que movem com extraordinária violência os<br />

espíritos humanos (Sc. nuovaprima, 1725, III,<br />

26, em Opere, ed. Ferrari, IV, p. 227). A fantasia,<br />

que é o órgão da poesia, é <strong>de</strong>finida por<br />

Viço como a faculda<strong>de</strong> que "altera e contrafaz"<br />

as coisas (5c. nuova, 1744, III, Dell' inarrivabile<br />

facoltà poética d'Omero); em geral, a fantasia<br />

é tanto mais robusta quanto mais débil o raciocínio<br />

(Ibid., I, Elementi, 36). Com Kant, oficializava-se<br />

o nascimento da "faculda<strong>de</strong> do sentimento"<br />

e a tal faculda<strong>de</strong> atribuía-se o juízo E.,<br />

procurando-se <strong>de</strong>terminar, por conseguinte, os<br />

seus caracteres (Crít. do Juízo, Intr., § III). Na<br />

E. contemporânea, foi a essa faculda<strong>de</strong> que se<br />

atribuiu arte com mais freqüência. Segundo<br />

Santayana, "a beleza é um prazer consi<strong>de</strong>rado<br />

como a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma coisa", sendo por<br />

isso sempre "uma emoção, um afeto da nossa<br />

natureza volitiva e valorativa" (The Sense of<br />

Beauty, 1896, § 11). Para Dewey, igualmente, a<br />

arte é "uma forma <strong>de</strong> sentimento" (Art as<br />

Experience, 1934, cap. IV).<br />

3 S O terceiro ponto <strong>de</strong> vista do qual se po<strong>de</strong>m<br />

consi<strong>de</strong>rar as teorias estéticas é o da função<br />

atribuída à arte. Todas as teorias inci<strong>de</strong>m<br />

em dois grupos fundamentais, que consi<strong>de</strong>ram<br />

a arte a) como educação ou (3) como<br />

expressão. Como educação, a arte é instrumental;<br />

como expressão, é final.<br />

a) A teoria da arte como educação é muitíssimo<br />

mais antiga e mais difundida. Platão<br />

con<strong>de</strong>nou a arte imitativa por reputá-la nàoeducativa<br />

e, mais, antieducativa (Rep., X, 605<br />

a-c), mas aceitou e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u as formas artísticas<br />

nas quais entreviu instrumentos educacionais<br />

úteis (Ibid., III, 395 c). Aristóteles afirmava<br />

que "a música não <strong>de</strong>ve ser praticada só por<br />

um tipo <strong>de</strong> benefício que <strong>de</strong>la possa <strong>de</strong>rivar,<br />

mas por usos múltiplos, já que po<strong>de</strong> servir à<br />

educação, à catarse e, em terceiro lugar, ao repouso,<br />

ao soerguimento da alma e à suspensão<br />

dos afazeres" (Pol, VIII, 7, 1341 b, 35). O que<br />

ele diz sobre a música obviamente vale para<br />

todas as artes; igualmente, a catarse (v.) e o<br />

divertimento são procedimentos educativos. O<br />

conceito da arte como educação persistiu por<br />

toda a Ida<strong>de</strong> Média e não foi sensivelmente<br />

alterado ou inovado pelas discussões estéticas<br />

do Renascimento. A tônica no caráter catãrtico<br />

da arte nada mais é que a ênfase em sua instaimentalida<strong>de</strong><br />

educativa. Disso nem Viço duvidava,<br />

ao insistir nos "três trabalhos que a gran<strong>de</strong><br />

poesia <strong>de</strong>ve realizar, quais sejam, encontrar fábulas<br />

sublimes condizentes com o entendimento<br />

popular e que o perturbe ao extremo, para<br />

atingir o fim a que se propõe, que é ensinar o<br />

vulgo a agir virtuosamente, assim como eles [os<br />

poetas] ensinaram a si mesmos" (Sc. nuova, II,<br />

Delia metafisica poética). Esse é ainda o ponto<br />

<strong>de</strong> vista tradicional, para o qual a arte é um instrumento<br />

<strong>de</strong> aperfeiçoamento moral. Mas a<br />

própria teoria da arte como conhecimento pertence<br />

ao âmbito da concepção instrumental ou<br />

educativa da arte. Hegel expressou-a com toda<br />

a clareza possível. Procurando <strong>de</strong>terminar o objetivo<br />

da arte na introdução <strong>de</strong> Lições <strong>de</strong> E., ele<br />

elimina as teorias para as quais a finalida<strong>de</strong> da<br />

arte é a imitação, a expressão (neste caso, seria<br />

verda<strong>de</strong>ira a fórmula da arte pela arte) ou o<br />

aperfeiçoamento moral, para insistir no seguinte:<br />

a finalida<strong>de</strong> da arte é a educação para a verda<strong>de</strong><br />

através da forma sensível que esta reveste<br />

na arte, e o aperfeiçoamento moral é uma conseqüência<br />

inevitável da educação teórica. "É<br />

preciso admitir", diz Hegel, "que a arte <strong>de</strong>ve<br />

revelar a verda<strong>de</strong> na forma da representação<br />

sensível, que <strong>de</strong>ve representar a oposição<br />

reconciliada [entre forma sensível e conteúdo<br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>] e que, portanto, tem objetivo em<br />

si mesma, nessa representação e manifestação"<br />

(Vorlesungen über Àsthetik, ed. Glockner, I, p.<br />

89). Mas a educação na verda<strong>de</strong> nada mais é<br />

que educação moral, e para Hegel a tarefa da<br />

arte é produzir a morte da arte, ou seja, passar<br />

para as formas superiores <strong>de</strong> revelação da Verda<strong>de</strong><br />

absoluta, que são a religião e a <strong>filosofia</strong><br />

(Ibid.. III, pp. 579 ss.). Com certa atenuação ou<br />

confusão, esse ponto <strong>de</strong> vista foi repetido por<br />

Croce, que reconhece que o conhecimento E.<br />

se conserva no conhecimento filosófico assim<br />

como na arte se conserva a exigência moral ou<br />

a consciência do <strong>de</strong>ver (Breviario diE., III). Às<br />

teorias que vêem na arte um instrumento<br />

educativo com vistas à moral e ao conhecimento<br />

ultimamente se somaram as que nela vêem<br />

um instrumento <strong>de</strong> educação política. Essas<br />

são as doutrinas que falam do engajamento político<br />

em arte e que exigem do artista uma<br />

orientação política precisa, uma obra harmonizada<br />

com as classes ou os grupos sociais majoritários<br />

menos favorecidos (ou com os partidos<br />

que os representam ou preten<strong>de</strong>m representá-los),<br />

que os aju<strong>de</strong> no esforço <strong>de</strong> libertação<br />

e, portanto, <strong>de</strong> conquista e <strong>de</strong> conservação do<br />

po<strong>de</strong>r político. Do ponto <strong>de</strong> vista filosófico<br />

essa tese, própria das doutrinas estéticas inspi-

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