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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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RELIGIÃO RELIGIÃO<br />

que protege os homens dos perigos, recompensando-os<br />

ou punindo-os conforme o caso.<br />

Assim, a relação entre o homem e a divinda<strong>de</strong><br />

estaria moldada na relação entre pai e filho<br />

(Ibicl., pp. 222 ss.). Sem levarem conta o fundo<br />

psicanalítico <strong>de</strong>sta concepção, po<strong>de</strong>-se dizer<br />

que ela não difere muito das outras mencionadas<br />

anteriormente: a R. é entendida como corretivo,<br />

<strong>de</strong>fesa ou protesto diante da situação <strong>de</strong><br />

incerteza que o homem encontra no mundo,<br />

liste é também o conceito que Bergson apresenta<br />

<strong>de</strong> R. estática, ã qual ele opôs a A', cliuâmica<br />

(o misticismo). R. estática seria. pois. "a<br />

reação <strong>de</strong>fensiva da natureza contra o po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>sagregador da inteligência", no sentido cie<br />

que a inteligência mostra claramente ao homem<br />

a incerteza e os perigos da vida, bem<br />

como a inexorabilida<strong>de</strong> da morte, enquanto a<br />

R. seria o conjunto das reações <strong>de</strong>fensivas contra<br />

as representações intelectuais da condição<br />

humana no mundo (Deux sourccs, 1932, cap.<br />

II, trad. it.. pp. 131 ss.). Estritamente sobre a R.<br />

primitiva, tese análoga foi <strong>de</strong>fendida com base<br />

em ampla documentação por P. Radin em seu<br />

livro sobre a R. dos primitivos (Primitive keligion,<br />

ils Xatiire and Origiu, 1937).<br />

II. O segundo dos problemas aos quais as<br />

<strong>de</strong>finições <strong>de</strong> R. já propostas preten<strong>de</strong>m ciar resposta<br />

é o da função específica cia R. Esse problema<br />

po<strong>de</strong> ser entendido em dois sentidos. Fm<br />

primeiro lugar, para o problema da garantia <strong>de</strong><br />

salvação que a R. preten<strong>de</strong> oferecer ao homem,<br />

é possível distinguir três soluções principais: I a<br />

a R. como meio cie libertar-se do mundo; 2 a a R.<br />

como verda<strong>de</strong>; 3- a R. como moralida<strong>de</strong>. Km<br />

segundo lugar, o próprio problema po<strong>de</strong> ser<br />

entendido do ponto cie vista da lunçào exercida<br />

pela R. na socieda<strong>de</strong> ou na economia geral da<br />

vida humana (4 a ).<br />

I a A garantia que a R. preten<strong>de</strong> oferecer ao<br />

homem po<strong>de</strong> ser antes <strong>de</strong> mais nada a <strong>de</strong><br />

libertá-lo do mundo, que é consi<strong>de</strong>rado um<br />

mal. Essa é a doutrina do budismo: "Não se<br />

eleve fruir aquilo que nasce e se transforma,<br />

aquilo que se forma e constitui, que é instável,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte cia velhice e da morte, fonte <strong>de</strong><br />

doenças, frágil, surgido do trânsito dos alimentos.<br />

Fugir <strong>de</strong>sse estado significa encontrar outro estado,<br />

tranqüilo, situado além cio domínio do<br />

pensamento, estável, não nascido, não formado,<br />

sem dor, sem paixão, felicida<strong>de</strong> que põe<br />

fim ás condições <strong>de</strong> miséria e <strong>de</strong>strói para sempre<br />

os elementos da existência" (Itiviittakxu 43,<br />

trad. Pavolini). Esse estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição da<br />

existência chama-se nirvana. Mas. segundo o<br />

próprio budismo, o nirvana também é o estado<br />

<strong>de</strong> bem-aventurança <strong>de</strong> quem. já nesta vida.<br />

eliminou o <strong>de</strong>sejo e, portanto, o germe da futura<br />

existência. Desse ponto <strong>de</strong> vista, a salvação<br />

é concebida pelo budismo não só como libertar-se<br />

do mundo, mas também como libertarse<br />

dos males do mundo. Esses dois aspectos<br />

estão presentes em muitas R., com exceção da<br />

<strong>de</strong> Israel, que ignora o primeiro: a promessa <strong>de</strong><br />

bem-aventurança a ser alcançada além do<br />

mundo ou após a morte costuma ser acompanhada<br />

pela promessa <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> paz ou<br />

<strong>de</strong> bem-estar já na vida terrena. Quando a felicida<strong>de</strong><br />

ou a paz po<strong>de</strong> ser alcançada nesta vida<br />

só com a superação da condição humana e da<br />

(leificação, que é a união com Deus e com o<br />

princípio cósmico, tem-se o »iisticis»io(\.). No<br />

misticismo. Bergson viu a R. dinâmica, a continuação<br />

supra-orgânica do clã vital, o impulso<br />

para a criação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> nova, baseada<br />

no amor universal (Den.x sourccs, 1932. cap.<br />

III). Na realida<strong>de</strong>, o misticismo é apenas uma<br />

das soluções para o problema cia salvação, sendo<br />

típico <strong>de</strong> uma religiosida<strong>de</strong> pessoal, contemplativa<br />

e solitária, para a qual as ativida<strong>de</strong>s<br />

e as relações humanas são alheias e insignificantes.<br />

2 a A garantia infalível tia verda<strong>de</strong> é pretensão<br />

implícita em qualquer R. Do ponto <strong>de</strong> vista<br />

filosófico, essa tese apresenta-se como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

entre R. e <strong>filosofia</strong>, com diferenças puramente<br />

formais entre elas. Essa foi, p. ex., a<br />

teoria <strong>de</strong>fendida por Hegel: "A <strong>filosofia</strong> tem o<br />

mesmo objeto cia R. porque ambas têm como<br />

objeto a verda<strong>de</strong>, no sentido superior da palavra,<br />

porquanto Deus. e somente Deus. é a verda<strong>de</strong>"<br />

(Fiic § 1). Todavia, a R. distingue-se da<br />

<strong>filosofia</strong> por não expressar a verda<strong>de</strong> em forma<br />

<strong>de</strong> conceito, mas em forma <strong>de</strong> representação c<br />

sentimento. Hegel diz: "R. é a relação com o<br />

Absoluto na forma <strong>de</strong> sentimento, <strong>de</strong> representação,<br />

<strong>de</strong> fé; no seu centro, que tudo abarca,<br />

tudo está apenas como algo aci<strong>de</strong>ntal e evanescente"<br />

(/•'//. do c/ir., § 270). Portanto, aquilo<br />

que a R. intui <strong>de</strong> modo aci<strong>de</strong>ntal, aproximativo<br />

e confuso é <strong>de</strong>monstrado com caráter <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><br />

pela <strong>filosofia</strong> (Ene. § S^3). Está claro.<br />

porém, que a doutrina da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre R. e<br />

<strong>filosofia</strong> também po<strong>de</strong> ser afirmada do ponto<br />

<strong>de</strong> vista da superiorida<strong>de</strong> da R. como forma ou<br />

revelação da verda<strong>de</strong>: é o que faz a <strong>filosofia</strong> da<br />

fé <strong>de</strong> Haman, Her<strong>de</strong>i" e Jacobi, à qual o próprio<br />

I legel se opõe (v. Fi;, FILOSOFIA DA). Contudo é

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