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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EMOÇÃO 318 EMOÇÃO<br />

que ele não está empalhado nem acorrentado<br />

fazem tremer e empali<strong>de</strong>cer.<br />

Não explica, em outros termos, o caráter<br />

biológico das E., seu finalismo, parcial ou relativo<br />

embora, mas bastante evi<strong>de</strong>nte em certo<br />

número <strong>de</strong> casos. Precisamente por esse prisma,<br />

Dewey e a escola psicológica <strong>de</strong> Chicago<br />

(especialmente Stanley Hall), retomando a tentativa<br />

<strong>de</strong> Darwin, consi<strong>de</strong>raram a E. como a<br />

recorrência alterada <strong>de</strong> certos movimentos<br />

teleológicos e a atribuíram a manifestações residuais<br />

<strong>de</strong> instintos ancestrais. Assim, p. ex., os<br />

movimentos <strong>de</strong> agarrar, mor<strong>de</strong>r e arranhar, nos<br />

estados <strong>de</strong> cólera, seriam resquícios <strong>de</strong> atos<br />

próprios <strong>de</strong> animais selvagens, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>mos.<br />

O movimento <strong>de</strong> pôr a cabeça para a<br />

frente também seria uma recordação ancestral:<br />

encontra-se, com efeito, nos animais com chifres<br />

e nos primeiros vertebrados aquáticos ou<br />

terrestres que utilizaram a cabeça para afastar<br />

obstáculos. Sem dúvidas essas teorias reintegram<br />

a E. em sua natureza biológica, mas levam<br />

a ver nela nada além do resíduo atualmente<br />

não significante <strong>de</strong> um movimento instintivo<br />

originariamente significante. Esse resíduo<br />

seria constituído por aquilo que a hereditarieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixou sobreviver <strong>de</strong> movimentos<br />

instintivos que tinham significado <strong>de</strong> ataque ou<br />

<strong>de</strong>fesa nos animais que em geral os possuíram,<br />

mas que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> tê-los. Toda essa<br />

teoria está, pois, fundada na hipótese da transmissão<br />

hereditária <strong>de</strong> movimentos instintivos<br />

e no postulado <strong>de</strong> que as E. <strong>de</strong>rivam mais <strong>de</strong>sses<br />

movimentos do que da situação em face da<br />

qual assumem significado <strong>de</strong> reações ou respostas.<br />

A referência a essa situação constitui, no<br />

entanto, o traço característico das mais importantes<br />

teorias contemporâneas. Para elas, a E.<br />

não se esgota na subjetivida<strong>de</strong> como simples<br />

"estado <strong>de</strong> espírito" ou complexo <strong>de</strong> estados<br />

<strong>de</strong> espírito, mas sempre inclui uma relação com<br />

circunstâncias objetivas, que lhe conferem o<br />

seu significado específico. Desse ponto <strong>de</strong> vista,<br />

a E. é um comportamento ou o elemento <strong>de</strong><br />

um comportamento que visa a enfrentar a situação<br />

ou a fugir <strong>de</strong>la, resolver o problema que ela<br />

apresenta ou a eludi-lo. Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que<br />

a psicanálise é o primeiro passo para a interpretação<br />

da E. nesse sentido: ela evi<strong>de</strong>nciou o<br />

significado dos fatos psíquicos em relação às<br />

situações que os <strong>de</strong>terminaram. Na angústia,<br />

p. ex., Freud vê em primeiro lugar a preparação<br />

para enfrentar o perigo, que se manifesta pela<br />

exaltação da atenção sensorial e da tensão<br />

motora. Esse estado <strong>de</strong> expectativa ou <strong>de</strong> preparação<br />

é biologicamente útil, pois sem ele o<br />

indivíduo estaria exposto a conseqüências graves.<br />

Dele <strong>de</strong>rivam, por um lado, a ação motora,<br />

a fuga e, em grau superior, a <strong>de</strong>fesa ativa; por<br />

outro lado, o que se sente como estado <strong>de</strong> angústia.<br />

Se o <strong>de</strong>senvolvimento da angústia for<br />

contido em limites estreitos, ele não passará <strong>de</strong><br />

apêndice, <strong>de</strong> simples sinal <strong>de</strong> perigo, e todo o<br />

processo <strong>de</strong> transformação do estado <strong>de</strong> preparação<br />

angustioso em ação ocorre rápida e<br />

racionalmente. Quando, ao contrário, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do estado <strong>de</strong> angústia ultrapassa<br />

certos limites, torna-se contrário ao objetivo<br />

biológico e dá lugar às formas patológicas.<br />

Freud também julga que a situação cujo sinal é<br />

a angústia e, em geral, um estado afetivo po<strong>de</strong><br />

não ser um acontecimento presente: po<strong>de</strong> tratar-se<br />

<strong>de</strong> uma impressão profunda ou oculta,<br />

pertencente à pré-história, não do indivíduo,<br />

mas da espécie. Assim, po<strong>de</strong>-se dizer que o<br />

estado afetivo apresenta a mesma estrutura <strong>de</strong><br />

uma crise <strong>de</strong> histeria, visto ser, como esta última,<br />

constituído por uma reminiscência inconsciente.<br />

A crise <strong>de</strong> histeria po<strong>de</strong> ser comparada<br />

a um estado afetivo individual recém-formado,<br />

e o estado afetivo normal po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

a expressão <strong>de</strong> uma histeria genérica, que se<br />

tornou hereditária (Einführung in die Psychoanalyse,<br />

1917, cap. 24; trad. fr., pp. 422-23).<br />

Em outros termos, tem-se conduta emotiva<br />

sempre que a E., em vez <strong>de</strong> transformar-se<br />

rapidamente <strong>de</strong> preparação em ação, na ação<br />

efetiva, <strong>de</strong>senvolve-se como E., agindo como<br />

inibição, recusa ou censura da própria ação.<br />

Nesse sentido explica-se a sua analogia com a<br />

histeria, que é, freqüentemente a recusa <strong>de</strong><br />

reviver uma recordação <strong>de</strong>sagradável. Assim<br />

como o sonho às vezes é uma fuga diante da<br />

<strong>de</strong>cisão a tomar, assim como a doença <strong>de</strong> certas<br />

moças às vezes é uma fuga diante do casamento,<br />

também a cólera é habitualmente a fuga<br />

diante <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong>sagradável e o <strong>de</strong>smaio<br />

por medo é a fuga diante <strong>de</strong> uma perspectiva<br />

<strong>de</strong>sfavorável, a procura <strong>de</strong> um refúgio<br />

ilusório.<br />

Em sentido análogo, Janet caracterizou a E.<br />

como a "reação do fracasso". Para Janet, a E. é<br />

a regressão brutal para uma forma <strong>de</strong> conduta<br />

inferior, menos adaptada à situação e incapaz<br />

<strong>de</strong> enfrentá-la. Como o comportamento psíquico<br />

mais elementar é a agitação convulsiva<br />

acompanhada por modificações das funções

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