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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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NATUREZA 701 NATUREZA, ESTADO DE<br />

espiritual, o arbítrio, chega ao mal, até o mal é<br />

algo infinitamente superior aos movimentos<br />

dos astros e à inocência das plantas; porque<br />

quem assim erra, ainda é espírito, apesar <strong>de</strong><br />

tudo" (Ibid., § 248). É bem verda<strong>de</strong> que nem<br />

toda a <strong>filosofia</strong> romântica compartilhou a con<strong>de</strong>nação<br />

hegeliana da N. Schelling exaltou a<br />

N., consi<strong>de</strong>rando-a como parte ou elemento<br />

da vida divina. Numa obra <strong>de</strong> 1806, censurava<br />

Fichte por encarar a N. ora com um ascetismo<br />

grosseiro e insensato, consi<strong>de</strong>rando-a<br />

puro nada, ora <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista puramente<br />

mecânico e utilitarista, consi<strong>de</strong>rando-a<br />

um instrumento <strong>de</strong> que o Eu Absoluto lança<br />

mão para realizar-se ( Werke, I, VII, pp. 94,103).<br />

Na realida<strong>de</strong>, ao consi<strong>de</strong>rar a N. como manifestação<br />

do Absoluto, Schelling não insistia tanto<br />

na inferiorida<strong>de</strong> da manifestação em relação ao<br />

Princípio que se manifesta, mas sobretudo na<br />

estreita relação entre os dois. Esta é a outra<br />

alternativa oferecida pela concepção da N. <strong>de</strong><br />

que tratamos. Por um lado po<strong>de</strong>-se insistir nos<br />

aspectos que distinguem a N. do espírito e que,<br />

<strong>de</strong> algum modo, os contrapõem, quais sejam,<br />

exteriorida<strong>de</strong>, aci<strong>de</strong>ntalida<strong>de</strong> e mecanismo,<br />

mas, por outro lado, po<strong>de</strong>-se também ressaltar<br />

que a N., como manifestação do espírito, tem<br />

em comum com ele seus caracteres substanciais.<br />

Foi o que fez Schelling, mas a primeira<br />

alternativa costuma prevalecer. O espiritualismo<br />

francês do séc. XIX compartilhou quase<br />

unanimemente a tese expressa por Ravaisson<br />

no fim <strong>de</strong> Rapport sur Iaphilosophie en France<br />

au XIX''""' sí'èc7c(lH68)": a N. é a <strong>de</strong>gradação, em<br />

mecanicismo e necessida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um Principio<br />

Espiritual que é espontaneida<strong>de</strong> e liberda<strong>de</strong>.<br />

Essa concepção também prevaleceu no espiritualismo<br />

do séc. XX graças a Bergson. A N.,<br />

como exteriorida<strong>de</strong> ou espacialida<strong>de</strong>, é uma<br />

<strong>de</strong>gradação do espírito. É assim que Bergson<br />

expõe o projeto <strong>de</strong> uma teoria do conhecimento<br />

da N.: ''Seria preciso, com um esforço sui<br />

generisúo espírito, seguir a progressão, ou melhor,<br />

a regressão do extra-espacial que se <strong>de</strong>grada<br />

em espacialida<strong>de</strong>. Se no.s situarmos primeiramente<br />

no ponto mais alto <strong>de</strong> nossa<br />

própria consciência para em seguida <strong>de</strong>ixarmonos<br />

cair pouco a pouco, teremos a sensação <strong>de</strong><br />

que nosso eu se esten<strong>de</strong> em recordações inertes,<br />

exteriorizadas umas em relação às outras,<br />

em vez. <strong>de</strong> propen<strong>de</strong>r a um querer indivisível e<br />

agente. Mas isso é apenas o início, etc. (Évol.<br />

créatr., 11 a ed., 1911, p. 226). O mesmo sentido<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação é atribuído à N. na <strong>filosofia</strong><br />

<strong>de</strong> Gentile, para quem ela é o "passado do espírito",<br />

sendo, pois, um limite abstrato que o<br />

espírito recompreen<strong>de</strong> em si e "domina" {Teoria<br />

generale <strong>de</strong>llo spirito, XVI, 18).<br />

4- A quarta concepção <strong>de</strong> N. po<strong>de</strong> ser discernida<br />

<strong>de</strong> modo implícito ou na forma <strong>de</strong><br />

pressuposto na prática efetiva da pesquisa<br />

científica e em algumas análises da metodologia<br />

científica contemporânea. Para esta, a N. é<br />

<strong>de</strong>finida em termos cie campo (v.), mais precisamente<br />

o campo ao qual fazem referência e<br />

em que se encontram (ou algumas vezes se<br />

<strong>de</strong>sencontram) as técnicas perceptivas e <strong>de</strong> observação<br />

<strong>de</strong> que o homem dispõe: as primeiras<br />

não são menos complexas que as segundas,<br />

apesar <strong>de</strong> se mostrarem como "naturais", ou<br />

seja, passíveis <strong>de</strong> serem postas em prática sem<br />

o concurso <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong>liberados. A arte faz<br />

constante referência às técnicas perceptivas,<br />

pois sempre oferece alguma coisa a ser "vista"<br />

ou "sentida", mesmo quando preten<strong>de</strong> ser<br />

"abstrata" e prescindir das formas comumente<br />

oferecidas pela percepção comum. A ciência<br />

natural faz referência às técnicas <strong>de</strong> observação,<br />

pois, mesmo iniciando seu trabalho com a<br />

percepção, afasta-se <strong>de</strong>sta rapidamente tanto<br />

no que se refere aos instrumentos <strong>de</strong> observação<br />

quanto no que diz respeito aos objetos<br />

que consegue i<strong>de</strong>ntificar (p. ex., "massa",<br />

energia", "elétrons", "fótons", etc), alguns<br />

dos quais se comportam <strong>de</strong> modo muito diferente<br />

cias "coisas" que são objeto da percepção<br />

comum. Hoje, po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r como N. o campo<br />

objetivo ao qual fazem referência os vários<br />

modos da percepção comum e os vários modos<br />

da observação científica, do modo como<br />

esta é entendida e praticada nos vários ramos<br />

da ciência natural. Nesse sentido a N. não se<br />

i<strong>de</strong>ntifica com um princípio ou com uma aparência<br />

metafísica, nem com <strong>de</strong>terminado sistema<br />

<strong>de</strong> conexões necessárias, mas po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminada,<br />

em cada fase do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

cultural cia humanida<strong>de</strong>, como a esfera dos possíveis<br />

objetos <strong>de</strong> referência das técnicas <strong>de</strong> observação<br />

que a humanida<strong>de</strong> possui. Trata-se,<br />

como é óbvio, <strong>de</strong> uma concepção não dogmática,<br />

mas funcional, pois ainda não foram<br />

feitas indagações metodológicas suficientes para<br />

esclarecê-la; contudo, afigura-se corno uma exigência<br />

da atual fase da metodologia científica.<br />

NATUREZA, CIÊNCIAS DA. V. CIÊNCIAS,<br />

CLASSIFICAÇÃO DAS.<br />

NATUREZA, ESTADO DE (in. State of nature,<br />

fr. État <strong>de</strong> nature, ai. Naturzustand; it.

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