22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CIÊNCIA 139 CIÊNCIA<br />

já esclarecido. Diz Mach: "Se excluirmos aquilo<br />

que não tem sentido pesquisar, veremos aparecer<br />

mais nitidamente o que po<strong>de</strong>mos realmente<br />

atingir por meio <strong>de</strong> cada C: todas as relações<br />

e os diferentes modos <strong>de</strong> relação entre os<br />

elementos" (Erkenntniss und Irrtum, cap. I;<br />

trad. fr., p. 25). A inovação <strong>de</strong> Mach consiste no<br />

seu conceito dos elementos, já que para ele<br />

estes são comuns tanto às coisas como à consciência,<br />

diferindo na consciência e na coisa só<br />

na medida em que pertençam a conjuntos diferentes<br />

(Ibid., cap. I; trad. fr., p. 25; cf. Die<br />

Analyse<strong>de</strong>rEmpfindungen, 9 a ed., 1922, p. 14).<br />

A função econômica que Mach atribuiu à C,<br />

ou, mais precisamente, aos conceitos científicos,<br />

não suprime portanto o caráter <strong>de</strong>scritivo<br />

da C, reconhecível na tese <strong>de</strong> que a C. tem por<br />

objeto as relações entre os elementos. Justamente<br />

por consi<strong>de</strong>rar as relações entre os fatos,<br />

a C. é uma <strong>de</strong>scrição abreviadora e econômica<br />

dos próprios fatos {Die Mechanik, trad. in.,<br />

1902, pp. 481 ss.). Do mesmo modo, Bergson<br />

reconhece o caráter convencional e econômico<br />

da C. pelo fato <strong>de</strong> que ela, que tem<br />

como órgão a inteligência, não se <strong>de</strong>tém nas<br />

coisas, mas nas relações entre as coisas ou situações<br />

(Évol. créatr., 8- ed., 1911, pp. 161, 356).<br />

O i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>scritivo da C. reaparece também em<br />

escritores recentes. Dewey afirma: "Como na C.<br />

os significados são <strong>de</strong>terminados com base em<br />

sua relação recíproca como significados, as relações<br />

tornam-se os objetos da indagação e diminui<br />

bastante a importância das qualida<strong>de</strong>s,<br />

que só têm função na medida em que aju<strong>de</strong>m a<br />

estabelecer relações" (Logik, VI, § 6; trad. it., p.<br />

171). Ora, "relações" nada mais são do que o<br />

outro nome <strong>de</strong> leis, já que a lei nada mais<br />

é do que a expressão <strong>de</strong> uma relação: <strong>de</strong> modo<br />

que o mesmo conceito da C. po<strong>de</strong> ser encontrado<br />

em todos os escritores que reconhecem<br />

na formulação da lei a tarefa da ciência. H.<br />

Dingler dizia: "A principal tarefa da C. consiste<br />

em chegar ao maior número possível <strong>de</strong> leis"<br />

(Die Metho<strong>de</strong> <strong>de</strong>r Pbysik, 1937, I, § 9). E, mais<br />

recentemente, R. B. Braithwaite afirmou: "O<br />

conceito fundamental da C. é o da lei científica<br />

e o objetivo fundamental <strong>de</strong> unia C. é estabelecer<br />

leis. Para compreen<strong>de</strong>r o modo como uma<br />

C. opera e o modo como qual ela fornece explicações<br />

dos fatos que investiga, é necessário compreen<strong>de</strong>r<br />

a natureza das leis científicas e o<br />

modo <strong>de</strong> estabelecê-las" (Scientific Explanation,<br />

Cambridge, 1953, p. 2).<br />

3 e Uma terceira concepção é a que reconhece,<br />

como garantia única da valida<strong>de</strong> da C, a sua<br />

autocorrigibilida<strong>de</strong>. Trata-se <strong>de</strong> uma concepção<br />

das vanguardas mais críticas ou menos<br />

dogmáticas da metodologia contemporânea e<br />

ainda não alcançou o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

outras duas concepções acima; apesar disso, é<br />

significativa, seja por partir da <strong>de</strong>sistência <strong>de</strong><br />

qualquer pretensão à garantia absoluta, seja<br />

por abrir novas perspectivas ao estudo analítico<br />

dos instrumentos <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> que as C. dispõem.<br />

O pressuposto <strong>de</strong>ssa concepção é o<br />

falibilismo (v.), que Peirce atribuía a qualquer<br />

conhecimento humano (Coll. Pap., I, 13, 141-<br />

52). Mas essa tese foi expressa pela primeira<br />

vez por Morris R. Cohen: "Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a C.<br />

como um Sistema autocorretívo... A C. convida<br />

à dúvida. Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se ou progredir<br />

não só porque é fragmentária, mas também<br />

porque nenhuma proposição sua é, em si mesma,<br />

absolutamente certa, e assim o processo <strong>de</strong><br />

correção po<strong>de</strong> atuar quando encontramos provas<br />

mais a<strong>de</strong>quadas. Mas é preciso notar que a<br />

dúvida e a correção são compatíveis com os<br />

cânones do método científico, <strong>de</strong> tal modo que<br />

a correção é o seu elo <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>" (Studies<br />

in Philosophy and Science, 1949, p. 50).<br />

M. Black, mais recentemente, adotou ponto <strong>de</strong><br />

vista análogo: "Os princípios do método científico<br />

<strong>de</strong>vem, por sua vez, ser consi<strong>de</strong>rados provisórios<br />

e sujeitos a correções ulteriores, <strong>de</strong> tal<br />

modo que uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> 'método científico'<br />

seria verificável em qualquer sentido do<br />

termo" (Problems of Analysis, 1954; p. 23).<br />

Em termos aparentemente paradoxais, mas equivalentes,<br />

K. Popper afirmara, em Lógica da <strong>de</strong>scoberta<br />

científica (1935), que o instrumental<br />

da C. não está voltado para a verificação, mas<br />

para a falsificação das proposições científicas.<br />

"Nosso método <strong>de</strong> pesquisa", dizia ele, "não<br />

visa <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as nossas antecipações para provar<br />

que temos razão, mas, ao contrário, visa<br />

<strong>de</strong>struí-las. Usando todas as armas do nosso<br />

arsenal lógico, matemático e técnico, tentamos<br />

provar que nossas antecipações são falsas, para<br />

apresentar, no lugar <strong>de</strong>las, novas antecipações<br />

não justificadas e injustificáveis, novos 'preconceitos<br />

apressados e prematuros' como escarnecia<br />

Bacon" {The Logic of Scientific Discovery,<br />

2 a ed., 1958, § 85, p. 279). Com isso, Popper<br />

preten<strong>de</strong>u assinalar o abandono do i<strong>de</strong>al clássico<br />

da C: "O velho i<strong>de</strong>al científico da episteme,<br />

do conhecimento absolutamente certo e <strong>de</strong>rnonstrável,<br />

revelou-se um mito. A exigência <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!