22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

JOGO 589 JOGO<br />

po<strong>de</strong> convencer-se quando refletimos em como<br />

os meios escolhidos dificilmente se adaptam<br />

ao objetivo" (Antr., § 86). Essas observações foram<br />

freqüentemente difundidas e ampliadas<br />

pelo pensamento mo<strong>de</strong>rno. Schiller diz.- "O<br />

animal trabalha se o móbil <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> é<br />

a falta <strong>de</strong> alguma coisa; e brinca se o móbil<br />

é a plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua força, se é estimulado à<br />

ativida<strong>de</strong> pela exuberância <strong>de</strong> vida" (Über die<br />

aesthetische Erziehung <strong>de</strong>s Menschen, 27). O<br />

ivertimento não é estranho nem à natureza<br />

inanimada: a superabundância <strong>de</strong> raízes, ramos,<br />

folhas, flores e frutos <strong>de</strong> uma árvore, em<br />

comparação com o que é necessário para a<br />

conservação da própria árvore e <strong>de</strong> sua espécie,<br />

é o divertimento da natureza vegetal. "Da<br />

pressão da necessida<strong>de</strong> ou da serieda<strong>de</strong> física,<br />

através da pressão da exuberância, ou seja, do<br />

J. físico, a natureza passa ao J. estético e, antes<br />

<strong>de</strong> elevar-se, acima dos vínculos das finalida<strong>de</strong>s,<br />

à sublime liberda<strong>de</strong> do belo, aproxima-se<br />

pelo menos um pouco <strong>de</strong>ssa in<strong>de</strong>pendência<br />

no livre movimento, que é fim e meio para si<br />

mesmo" (Ibid., 27). O conceito, já expresso por<br />

Kant, <strong>de</strong> que o J. tem a função biológica <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>strar para as ativida<strong>de</strong>s vitais, que garantem<br />

a conservação do organismo, torna-se lugar-comum<br />

na <strong>filosofia</strong> e na pedagogia do séc. XIX.<br />

Para a formação <strong>de</strong>sse lugar-comum contribuiu<br />

muito aquela espécie <strong>de</strong> metafísica do J. <strong>de</strong><br />

inspiração romântica, mais precisamente em<br />

Schelling, que Froebel usou como base para a<br />

sua teoria da educação. Para Froebel, o J. está<br />

para a criança assim como o trabalho está para<br />

o homem e a criação está para Deus: é a manifestação<br />

necessária da ativida<strong>de</strong> da criança assim<br />

como o trabalho é para o homem e a criação,<br />

para Deus (DieMenschenerziehung, 1826,<br />

§ 23). Portanto o J. infantil não é um passatempo:<br />

as disposições futuras do homem, tanto<br />

com relação às coisas quanto com relação aos<br />

outros homens, formam-se na primeira infância,<br />

através do J. E Froebel propõe que toda a<br />

educação da primeira infância se <strong>de</strong>senvolva<br />

através do J., do qual <strong>de</strong>u minuciosa regulamentação.<br />

Mesmo sem levar em conta os pressupostos<br />

metafísicos da doutrina <strong>de</strong> Froebel, a<br />

pedagogia mo<strong>de</strong>rna e contemporânea atribuiu<br />

ao J. um caráter privilegiado <strong>de</strong> condição ou<br />

instrumento da formação humana básica, enquanto<br />

a psicologia e a antropologia lhe atribuíram<br />

função biológica e social, ou seja, utilida<strong>de</strong><br />

para a conservação do homem e da sua<br />

adaptação à socieda<strong>de</strong>, ao mesmo tempo em<br />

que a estética reconheceu nele analogia com a<br />

ativida<strong>de</strong> artística. As análises <strong>de</strong> Groos sobre o<br />

J. basearam-se nesses conceitos (Die Spiele <strong>de</strong>r<br />

Menschen, 1889; Die Spiele <strong>de</strong>r Tiere, 1896).<br />

Groos também utilizou esse conceito <strong>de</strong> J. para<br />

<strong>de</strong>finir a ativida<strong>de</strong> estética (Einleitung in die<br />

Aesthetik, 1892), mas a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> J. continuava<br />

sendo a <strong>de</strong> Aristóteles: a ativida<strong>de</strong> que tem<br />

em vista apenas o prazer pela ativida<strong>de</strong> (Spiele<br />

<strong>de</strong>r Menschen, p. 7). Desse ponto <strong>de</strong> vista, o J.<br />

foi freqüentemente consi<strong>de</strong>rado uma espécie<br />

<strong>de</strong> tendência inata ou <strong>de</strong> instinto vital, que é<br />

outra maneira <strong>de</strong> expressar a função que cumpre<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>strar o homem ou, em geral, o organismo<br />

vivo, para as ativida<strong>de</strong>s que garantam<br />

sua conservação no mundo. Ao reconhecimento<br />

da função biológica, educativa e estética do<br />

J. acresceu nos últimos tempos o reconhecimento<br />

da função social. Tanto o J. como ativida<strong>de</strong><br />

direta quanto o J. como espetáculo constituem<br />

hoje duas das principais maneiras <strong>de</strong><br />

emprego do tempo livre para gran<strong>de</strong>s massas<br />

<strong>de</strong> trabalhadores, exercendo, portanto, a função<br />

<strong>de</strong> corrigir e equilibrar as ativida<strong>de</strong>s sociais,<br />

o que ainda precisa ser mais bem estudado.<br />

Como já se disse, a importância crescente<br />

atribuída à ativida<strong>de</strong> lúdica e a multiplicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> funções a ela atribuídas em vários campos<br />

não modificaram seu conceito, que continuou<br />

sendo substancialmente o mesmo formulado<br />

por Aristóteles: ativida<strong>de</strong> que tem fim em si<br />

mesma e que é procurada e exercida pelo prazer<br />

intrínseco, e não pelo efeito ou pelo resultado<br />

que <strong>de</strong>la <strong>de</strong>riva. Contudo, mesmo esse<br />

conceito hoje <strong>de</strong>ve sofrer algumas retificações.<br />

Em primeiro lugar, <strong>de</strong>ve ser retificada a contraposição,<br />

que ele implica, entre ativida<strong>de</strong> lúdica<br />

e trabalho. Essa contraposição nem sempre se<br />

verifica e nunca é tão radical. Muitos trabalhos<br />

po<strong>de</strong>m ser (ou tornar-se) interessantes, e, se<br />

isso acontece, passam a ser fins em si mesmos<br />

e adquirem, no todo ou em parte, um caráter •<br />

lúdico. É certamente difícil supor que todas as<br />

infinitas formas que o trabalho assumiu ou assumirá<br />

possam vir a tornar-se intessantes e<br />

lúdicas, mas o fato <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>les serem ou<br />

po<strong>de</strong>rem vir a ser elimina em princípio essa<br />

contraposição, <strong>de</strong>finindo o ludismo como uma<br />

possibilida<strong>de</strong> em algumas ativida<strong>de</strong>s humanas,<br />

mais que como expressão da natureza <strong>de</strong> um<br />

grupo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s. Em muitos autores, porém,<br />

essa contraposição persiste, especialmente<br />

no que se refere ao trabalho alienado da<br />

socieda<strong>de</strong> industrial, e o jogo é consi<strong>de</strong>rado

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!