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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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COMPREENDER 159 COMPREENSÃO 2<br />

o corpo, porque abstraem, artificialmente, os<br />

fenômenos <strong>de</strong> expressão, que são a manifestação<br />

primária e imediata dos outros espíritos,<br />

mas são esses fenômenos que estão na base<br />

da compreensão emotiva. Esta, segundo Scheler,<br />

<strong>de</strong>ve ser distinguida da fusão emotiva porque<br />

implica a alterida<strong>de</strong> dos sentimentos. P. ex., o<br />

sofrimento do meu próximo e a minha compreensão<br />

simpática são dois fatos diferentes e<br />

é justamente essa diferença que estabelece a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão: nada tem a ver<br />

com ela o fato <strong>de</strong> eu e o meu vizinho pa<strong>de</strong>cermos<br />

o mesmo mal. As análises <strong>de</strong> Scheler contribuíram<br />

para fixar os seguintes pontos: 1 Q o C.<br />

não implica a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das pessoas entre as<br />

quais ocorre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos estados <strong>de</strong> alma<br />

ou dos sentimentos; implica, antes, a alterida<strong>de</strong><br />

entre as pessoas e entre os seus respectivos<br />

estados; 2 Q a compreensão funda-se na<br />

relação simbólica que existe entre as experiências<br />

internas e a sua expressão: relação que<br />

constitui uma espécie <strong>de</strong> "gramática universal",<br />

válida para todas as linguagens expressivas, e<br />

que fornece o critério último da compreensão<br />

inter-humana. Como Scheler, Heidgger vincula<br />

o fenômeno da compreensão sobretudo à<br />

esfera emotiva, mas acrescenta à análise <strong>de</strong>sse<br />

fenômeno uma observação <strong>de</strong> importância fundamental,<br />

ligando-o à noção <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>.<br />

Hei<strong>de</strong>gger, com efeito, consi<strong>de</strong>ra a compreensão<br />

essencial à existência humana (ao ser-ai), já<br />

que ela significa que a existência é, essencialmente,<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser, existência possível.<br />

"Usamos freqüentemente a expressão 'C.<br />

alguma coisa' no sentido <strong>de</strong> 'ser capaz <strong>de</strong> encarar<br />

alguma coisa', 'ser capaz <strong>de</strong>', 'po<strong>de</strong>r alguma<br />

coisa'... Na compreensão, está posto, essencialmente,<br />

o modo <strong>de</strong> ser do ser-aí enquanto pu<strong>de</strong>r<br />

ser. O ser-aí não é uma simples presença<br />

que, adicionalmente, possua o requisito <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

algo, mas, ao contrário, é primariamente<br />

um ser possível". Portanto, "a compreensão<br />

tem em si a estrutura existencial que nós chamamos<br />

projeto" (Sein und Zeit, § 31). Como<br />

possibilida<strong>de</strong> e projeto, a existência humana<br />

possui uma transparência, a existência humana<br />

possui uma transparência para si mesma, que<br />

Hei<strong>de</strong>gger chama <strong>de</strong> visão e que é a primeira<br />

manifestação da compreensão. A intuição e o<br />

pensamento são, por sua vez, dois <strong>de</strong>rivados<br />

distantes da própria compreensão (Ibid., § 31).<br />

Está bem claro que a referência do C. à vida<br />

emocional, feita por Scheler e Hei<strong>de</strong>gger, era<br />

motivada pelo fato <strong>de</strong> a vida racional parecer-<br />

lhes ocupada por técnicas que pouco ou nada<br />

tinham que ver com o compreen<strong>de</strong>r. Os resultados<br />

obtidos por Scheler e Hei<strong>de</strong>gger, contudo,<br />

são muito importantes: os primeiros negativamente,<br />

permitindo subtrair o C. à esfera do<br />

imediato e do inexprimível, e os segundos positivamente,<br />

porque vinculam o C. à noção <strong>de</strong><br />

possibilida<strong>de</strong>. Na análise <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger, o C.<br />

não só foi generalizado, porque se tornou aplicável<br />

às coisas, além <strong>de</strong> às pessoas, como também,<br />

por isso mesmo, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser antagônico<br />

ao conceito <strong>de</strong> explicação. Compreensão e<br />

explicação po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificadas pela noção<br />

<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> e ser entendidas como <strong>de</strong>claração<br />

da "possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>...", on<strong>de</strong> o que ficou<br />

pen<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> ser preenchido, nos diversos<br />

campos <strong>de</strong> indagação, por diversas espécies<br />

<strong>de</strong> projetos e <strong>de</strong> previsões. Mas essa aproximação<br />

entre explicação e compreensão e essa sua<br />

unificação no conceito <strong>de</strong> "possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>..."<br />

eram sancionadas pelos próprios progressos<br />

das ciências naturais, que abandonavam a noção<br />

clássica <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> e, portanto, se <strong>de</strong>sligavam<br />

da técnica explicativa causai. A física<br />

relativista e a teoria quântica davam o passo<br />

<strong>de</strong>cisivo para a eliminação da antítese entre explicação<br />

e compreensão. Como nota Carnap,<br />

na mecânica quântica "C. uma expressão, um<br />

enunciado, uma teoria significa a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> usá-la para a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> fatos conhecidos<br />

ou para a previsão <strong>de</strong> fatos novos" (Foundations<br />

of Logic andMathematics, 1939, § 25).<br />

A "capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>" é, portanto, o que exprime o<br />

significado da compreensão na própria física.<br />

Mas a possibilida<strong>de</strong> da previsão provável também<br />

é tudo aquilo a que se reduz hoje a explicação<br />

científica (v. EXPLICAÇÃO). Desse modo, a<br />

diferença radical que parecia solidamente estabelecida<br />

pela metodologia científica do séc.<br />

XIX, entre ciência do espírito e ciência da natureza,<br />

acabou por <strong>de</strong>saparecer. O que esses<br />

dois grupos <strong>de</strong> disciplinas procuram fazer, em<br />

relação a seus respectivos objetos, é no fundo<br />

a mesma coisa: <strong>de</strong>terminar as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver ou <strong>de</strong> antecipar (projeto, uso, fruição)<br />

que seus objetos comportam.<br />

COMPREENSÃO 1 (in. Un<strong>de</strong>rstanding- fr.<br />

Compréhensíon; ai. Verstehen-, it. Comprensione).<br />

O ato ou a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

(v.).<br />

COMPREENSÃO 2 (in. Comprehension; fr.<br />

Compréhension; ai. Inhalt; it. Comprensione).<br />

1. A lógica <strong>de</strong> Port-Royal introduziu a distinção<br />

entre C. e extensão do conceito: distinção gros-

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